Fraternidade
ao Vivo
1º de janeiro é, para a humanidade,
o dia da fraternidade universal. Para o
espírita brasileiro, a data assinala a fundação da Federação Espírita
Brasileira, fato que antecedeu à consagração desse dia ao entendimento entre os
homens. Não obstante os alevantados propósitos que levaram à adoção desse dia
simbólico, situado exatamente no pórtico de cada novo ano, como a acenar com as
mais acendradas esperanças de paz e concórdia, não tem os homens conseguido
encontrar a fórmula capaz de lhes garantir as tão ambicionadas alegrias da
vida. O que lhes tem faltado, nesse cometimento, é a essência mesma daquilo que
pretendem comemorar, ou seja, o sentimento da verdadeira legítima fraternidade.
Pensando
nisso que nós, os espíritas, e em particular os espíritas do Brasil, havemos de
avaliar com um pouco mais de agudeza o papel que podemos e devemos desempenhar
para contribuir, de fato, na implantação de um clima de paz e entendimento
entre as criaturas terrenas, papel, aliás, que nos há de caber com o mesmo
vaticínio que significa a instalação da FEB antes da proclamação do dia da
fraternidade universal. O ponto de partida será o de incutir,
em nós mesmos e, a seguir, em nossos irmãos, que a paz verdadeira com que
sonhamos não é a exterior, traduzida em vida a transcorrer isenta de percalços
e canseiras, mas a interior, que não se turba sequer ante os desequilíbrios do
mundo. Porém, este tesouro a conquistar é tarefa personalíssima, que cada um
tem de realizar portas adentro de si mesmo.
Equivaleria isto a negar a
viabilidade de qualquer ação no sentido de se alcançar, de forma objetiva, uma
base de compreensão entre os homens? De modo nenhum. Aí também há campo
inesgotável para a afirmação do ideal e da fé que norteiam o espírita. O
espírita tem de demonstrar que é possível, deveras, conviver pacificamente,
apesar dos mais disparatados e discrepantes gostos, desejos, opiniões e anseios.
E a receita, para isso, não é nem muito extensa, nem muito complicada. Basta
que entendamos, e disso nos convençamos, que o fato de pensarmos diferentemente
e de querermos de maneira diversa não é motivo para que nos indisponhamos uns
com os outros. Pelo contrário.
Divergir, no mundo, é natural; é,
até, necessário. Mas, não deve ser, de forma alguma, razão de desentendimento.
Por isso mesmo, a tão decantada tolerância é artigo de consumo imprescindível.
Muito especialmente pelo espírita. Se, por causa das divergências, não
soubermos dar ao mundo o exemplo do entendimento fraterno, é imperioso que
procuremos diagnosticar as origens do mal, para debelá-lo a golpes firmes e
certeiros.
Façamos uma autocrítica serena e
desapaixonada e reconheceremos quanta inquietação espalhamos com os ardis
empregados para forçar os outros a se renderem ao nosso ponto-de-vista; quanto
mal-estar causamos com as atitudes sub reptícias que não trepidamos em tomar
para fazer crer que os outros concordam conosco; ou, enfim, até onde vai a
nossa arte diabólica de fundir toneladas de argumentos para arrasar aqueles que
a nós se opõem.
E, por certo, transpassados pelo
espírito das palavras do Mestre Divino, iremos identificar o mal nesse vezo de
impingir aos outros nossas opiniões e nossas preferências, distanciados que
ainda nos postamos daquele que, embora trazendo-nos a receita máxima e única da
felicidade, diz-nos, transbordante de ilimitada compaixão: “Quem quiser, siga-me”...
Editorial do Reformador (FEB)
em
janeiro 1971
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