segunda-feira, 18 de junho de 2012

Fraternidade ao Vivo




Fraternidade
ao Vivo
           
            1º de janeiro é, para a humanidade, o dia da fraternidade universal.  Para o espírita brasileiro, a data assinala a fundação da Federação Espírita Brasileira, fato que antecedeu à consagração desse dia ao entendimento entre os homens. Não obstante os alevantados propósitos que levaram à adoção desse dia simbólico, situado exatamente no pórtico de cada novo ano, como a acenar com as mais acendradas esperanças de paz e concórdia, não tem os homens conseguido encontrar a fórmula capaz de lhes garantir as tão ambicionadas alegrias da vida. O que lhes tem faltado, nesse cometimento, é a essência mesma daquilo que pretendem comemorar, ou seja, o sentimento da verdadeira legítima fraternidade.

Pensando nisso que nós, os espíritas, e em particular os espíritas do Brasil, havemos de avaliar com um pouco mais de agudeza o papel que podemos e devemos desempenhar para contribuir, de fato, na implantação de um clima de paz e entendimento entre as criaturas terrenas, papel, aliás, que nos há de caber com o mesmo vaticínio que significa a instalação da FEB antes da proclamação do dia da fraternidade universal. O ponto de partida será o de incutir, em nós mesmos e, a seguir, em nossos irmãos, que a paz verdadeira com que sonhamos não é a exterior, traduzida em vida a transcorrer isenta de percalços e canseiras, mas a interior, que não se turba sequer ante os desequilíbrios do mundo. Porém, este tesouro a conquistar é tarefa personalíssima, que cada um tem de realizar portas adentro de si mesmo.

            Equivaleria isto a negar a viabilidade de qualquer ação no sentido de se alcançar, de forma objetiva, uma base de compreensão entre os homens? De modo nenhum. Aí também há campo inesgotável para a afirmação do ideal e da fé que norteiam o espírita. O espírita tem de demonstrar que é possível, deveras, conviver pacificamente, apesar dos mais disparatados e discrepantes gostos, desejos, opiniões e anseios. E a receita, para isso, não é nem muito extensa, nem muito complicada. Basta que entendamos, e disso nos convençamos, que o fato de pensarmos diferentemente e de querermos de maneira diversa não é motivo para que nos indisponhamos uns com os outros. Pelo contrário.

            Divergir, no mundo, é natural; é, até, necessário. Mas, não deve ser, de forma alguma, razão de desentendimento. Por isso mesmo, a tão decantada tolerância é artigo de consumo imprescindível. Muito especialmente pelo espírita. Se, por causa das divergências, não soubermos dar ao mundo o exemplo do entendimento fraterno, é imperioso que procuremos diagnosticar as origens do mal, para debelá-lo a golpes firmes e certeiros.

            Façamos uma autocrítica serena e desapaixonada e reconheceremos quanta inquietação espalhamos com os ardis empregados para forçar os outros a se renderem ao nosso ponto-de-vista; quanto mal-estar causamos com as atitudes sub reptícias que não trepidamos em tomar para fazer crer que os outros concordam conosco; ou, enfim, até onde vai a nossa arte diabólica de fundir toneladas de argumentos para arrasar aqueles que a nós se opõem.

            E, por certo, transpassados pelo espírito das palavras do Mestre Divino, iremos identificar o mal nesse vezo de impingir aos outros nossas opiniões e nossas preferências, distanciados que ainda nos postamos daquele que, embora trazendo-nos a receita máxima e única da felicidade, diz-nos, transbordante de ilimitada compaixão: “Quem quiser, siga-me”...


Editorial do Reformador (FEB)  em janeiro 1971

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