A Diferença
A
reunião de preces alcançava a parte final. E, na organização mediúnica, Bezerra
de Menezes retinha a palavra.
O
benfeitor desencarnado distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou
com azedume:
-
Bezerra, não concordo com tanta máscara no ambiente espírita. Estou cansado de
tartufismo. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou
espírita-cristão? Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e
ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me frequentemente caído em
maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para
ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do
orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora
comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha
brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem
constantemente. Posso declarar-me espírita com tantos defeitos?
O venerável orientador espiritual
respondeu, sereno:
- Eu também, meu amigo, ainda estou em meio
de todas essas mazelas e sou espírita-cristão ...
- Como assim? - revidou o consulente
agitado.
- Perfeitamente - concluiu Bezerra, sem
alterar-se. - Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham... Só
existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser
espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que
sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas ...
E, sorrindo:
Como vê, há muita diferença.
Irmão
X
por Chico
Xavier
,
in “Reformador
(FEB) Jan 1971
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