Como o mais
humano dos homens JUN 18
Saiu Jesus, como de
costume, para o monte das Oliveiras. Acompanharam-nos os seus discípulos.
Chegado aí, disse-lhes: “Orai, para não cairdes em tentação.” Arrancou-se
deles, cerca de um tiro de pedra. Pôs-se de joelhos e orou. “Pai, se for da tua
vontade, aparta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha, mas, sim, a
tua vontade.” Nisto apareceu-lhe um anjo do céu e confortou-o.
Então
entrou em agonia. E orou ainda com maior instância. Tornou-se-lhe o suor como
gotas de sangue que corriam por terra. Levantou-se da oração e foi ter com os
seus discípulos; mas achou-os adormecidos de tristeza. “Como? – disse-lhes –
estais dormindo? Levantai-vos e orai, para não cairdes em tentação.” Lucas 22,
39 ss
Humana como a sua vida é a morte de
Jesus.
Não assume
atitudes de super-homem, que zomba do sofrimento e desafia a morte.
Nada dessa
jactância de certos heróis que procuram narcotizar a sua psique em face dos
horrores da morte.
Nada dessa
estranha volúpia da dor com que se deliciam certos ascetas, gozando
precisamente no mais profundo nadir do aniquilamento o mais alto zênite da
própria excelência.
Não, Jesus sofre
como sofre o mais humano dos homens. Horrorizado com a sangrenta perspectiva do
martírio, estremece, brada ao céu por socorro, procura consolação com os
amigos, sente-se tomado de tão veemente angústia que o coração expele pelos
poros abundante suor de sangue.
Todo divino - e
todo humano... O seu querer superior
impõe silêncio ao sentir inferior.
Calmo, firme, sereno, vai o solitário herói ao encontro do seu grande destino –
rumo ao Gólgota...
E é por isso que
nós, pobres humanos, amamos o Nazareno. Ele é um dos nossos. Sofreu como nós
sofremos.
Huberto
Rohden
in “Em Espírito e Verdade”
Edição da Revista
dos Tribunais, SP – 1941
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