A
Missão de Jesus
por Djalma
Farias
Anunciada há alguns séculos, por vários
profetas, a vinda de Jesus, constituindo um acontecimento
histórico de importância indiscutível, foi o coroamento natural da obra
grandiosa de Moisés, a demarcar nova e auspiciosa fase para a humanidade
sofredora.
Com efeito, a História do mundo
poderia dividir-se em dois grandes períodos: o primeiro, desde
os mais remotos tempos até o aparecimento do Cristo; e o segundo, desse
acontecimento até os nossos dias, tal foi, na verdade, a transformação que se
operou na terra com o advento do Cristianismo.
A obra social e moral de, Jesus,
analisada com imparcialidade e independência, revela-se--nos
admirável; pelo cunho de perfeição com que foi realizada, estatuindo regras e
princípios suscetíveis de implantar no mundo a felicidade por todos tão
desejada.
Encontrando o povo judeu humilhado e
oprimido, a reclamar um libertador que devia sair da casa de Abraão, e que, à
frente de exércitos, pudesse restituí-lo à liberdade, e compreendendo o
pensamento dominante no seio da família de Israel, Jesus soube orientar, com
habilidade, a propaganda de sua doutrina justamente para a liberdade, mas a
liberdade moral, procurando convencer os seus contemporâneos, com argumentos irrespondíveis,
que só a verdade os faria livres.
O homem terreno, imperfeito,
escravizado pelos vícios, joguete de mil tentações, precisaria conhecer os
meios de se redimir dessa detestável escravidão moral, responsável por toda a
sorte de infortúnios e dores que o têm cruciado. O passado sombrio e
comprometedor, proporcionando a expiação do presente, teria de ser resgatado, e
o tempo perdido recuperado, devendo o homem redimir-se, alijando as
imperfeições que tem originado as suas dores, e, longe de se deixar escravizar
pelos vícios e paixões inferiores, cumpria-lhe, ao contrário, dominá-los,
passando de escravo a senhor. É' nesse sentido que se deve compreender a
redenção trazida por Jesus
ao mundo. E não pode haver mais feliz concepção de liberdade.
Os ensinos do Cristo estabeleciam
também a igualdade e preparavam a fraternidade, expondo a verdadeira situação
da humanidade pela explicação clara dos destinos humanos, ninguém pretendendo
ser superior ou senhor, pois que o senhor, que era Ele, viera não para ser
servido, mas para servir, não devendo o amo julgar-se acima do servo. Aboliu
assim o preconceito de classes e castas, de família e posição, acertando que
quem quisesse ser o maior fosse o menor.
Era evidentemente a condição de
igualdade expressa na sua fórmula mais simples, e, talvez por
isso, mais impressionante.
Dessa lição de igualdade decorria
naturalmente a pratica da fraternidade pelos laços de solidariedade,
laços que viessem unir as criaturas como filhos do mesmo e único Pai, que é Deus.
O aspecto social da missão de Jesus
é sempre novo e interessante, graças ao apelo que faz aos
homens para solidarizarem-se na luta pela vida, pela tendência a uma justa
fórmula de organização
social, em que não tenhamos de ver misérias, opressões e despotismo, em que se possam
solucionar a contento as graves questões da autoridade e da ordem, do capital e
do trabalho.
O socialismo pregado por
Jesus-Cristo encara o problema da vida sem ilusões e privilégios, considera
a fortuna e a pobreza como contingências momentâneas e expiação, ninguém se julgando
proprietário, porém, depositário de bens, estimula os homens ao exercício
constante da caridade,
do amor e da justiça, pelos conselhos salutares que oferece, não se devendo
fazer aos outros
o que se não quereria que os outros lhe fizessem. Seria a melhora da sociedade
pela melhora
do indivíduo, cada um compenetrado dos seus deveres morais para com o próximo, certeza
de que o futuro seria pior ou melhor conforme o uso que fizesse do seu livre arbítrio.
A sociedade humana, regulada pelas
leis da moral evangélica, seria o reino dos céus implantado na terra.
Quanto mais dessa norma de conduta
afastar, mais o homem sofrerá e acabará por se convencer
que só Jesus poderá salvar o mundo e dar-lhe a felicidade tão reclamada.
Os conselhos e advertências que
sempre lhes afluíram aos lábios, as bem-aventuranças celestes definidas com um
encanto surpreendente no magnífico Sermão da Montanha, sermão profundamente humano
e consolador, pelo lenitivo que oferece aos pobres e aos miseráveis deste mundo,
emprestam à sua missão uma face nova, visando levantar o ânimo do fraco, do
desiludido, do pária, com a perspectiva da felicidade celeste, conquistada a
troco da paz, da humildade, da resignação.
O ensino que sobreleva quantos Ele
ministrou aos homens é o do amor ao próximo, fundamento de toda a sua doutrina,
o amor que conduzirá à perfeição, e de que Ele foi a mais eloquente
personificação.
Não tendo vindo derrogar a lei
divina, porém, cumpri-Ia, substituiu o Cristo as prescrições moisaicas de
caráter humano por novas e oportunas leis; a violência pela brandura, o material
pelo espiritual. A magistral concepção de Deus e do mundo, singular e inédita,
os ensinamentos a propósito da existência e imortalidade da alma e sua evolução
pelos sucessivos renascimentos, o conforto e a resignação que oferece aos
homens, tudo isso tornou a extraordinária doutrina de Jesus o farol a iluminar
a Humanidade em demanda da perfeição.
Pela excepcional natureza do seu
espírito puríssimo, tão profundas foram as suas ideias e
tão intensa foi a luz que esparziu, que os homens, deslumbrados, o confundiram
com Deus, de Quem Ele sempre se dissera filho e criatura, com Quem havia
aprendido e cujas ordens apenas diligenciava por executar.
A missão de Jesus, à luz do
Espiritismo não se circunscreve apenas ao período de anos em que parece ter
aqui vivido, mas remonta ao passado e avança, infinito em fora, sobre o futuro da
terra e da sua humanidade, pois Ele existia antes da criação do planeta, a cuja
forção cósmica assistiu, partindo de então a sua missão espiritual, na
qualidade de guia e diretor da terra.
Sob esse novo ponto de vista, o seu
espírito surge-nos ainda agora como o orientador desse formidável movimento espiritualista
que sacode o mundo, pela promessa que fizera certa vez de que não nos deixaria
abandonados e enviaria em breve o
Consolador - o Espiritismo - para lembrar
os seus ensinos e aditar outros que os pósteros pudessem compreender e aceitar.
De sorte que a sua extraordinária e
divina missão não se encerrou, mas continua o seu ciclo infinito, porquanto Ele
afirmara que estaria conosco até à consumação dos séculos.
Fonte: Reformador (FEB) Jan 1948
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