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quarta-feira, 13 de junho de 2012

a. Dos Princípios Incontroversos às Hipóteses Plausíveis


a. “Dos Princípios Incontroversos
às Hipóteses Plausíveis”

           

           
Princípios Incontroversos

            Tem o homem por hábito firmar doutrinas onde há apenas cabimento para hipóteses mais ou menos plausíveis.

            Uma certa parte da bibliografia espírita, fugindo, aliás, ao critério adotado por Allan Kardec, cognominado o "bom senso encarnado", não podia, por isso que é de origem humana, fugir a esse defeito que só o tempo, com o seu contingente precioso de experiência, pode trazer aos que não se contentam com a satisfação dos seus pontos de vista, mas reconhecem imparcialmente que o homem não tem um estalão segundo o qual possa julgar das coisas divinas - assim consideradas aquelas que transcendem ao plano das formas, isto é, do que se acha na dependência apenas da matéria, para cujo estudo se constituíram, por sedimentação lenta e laboriosa de contribuições multifárias da inteligência, as ciências que fazem o orgulho da civilização hodierna, de cunho positivamente materialista e que devem constituir o alicerce sobre o qual edificarão as gerações futuras, não mais um templo às vanglórias humanas, mas o grande templo da Fraternidade pelo esclarecimento dos espíritos, graças ao influxo da Religião. 

            Nenhuma destas ciências, afirmou-o nobremente Allan Kardec, como aviso amistoso aos espíritas, dá aos cientistas autoridade para entenderem das coisas de que trata o Espiritismo, pois que, textualmente (Livro dos Espíritos, 17ª edição em português, pag. 27, Introdução),  “as ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente: ao passo que os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos."

            O conceito, parecendo ser, à primeira vista, restrito à distinção que se deve fazer nos métodos a seguir para o estudo de uma e de outra destas modalidades do saber, encerra, entretanto, sentido mais profundo, por significar que o saber humano não está em condições de firmar princípios no que concerne às coisas pertinentes às faculdades do Espirito, que nenhuma similitude tem com as propriedades da matéria.

            Da confusão estabelecida, à força de se querer aplicar os mesmos processos no estudo de fenômenos tão diferentes em sua origem e em sua natureza, é que resultam os erros e as verdadeiras monstruosidades que se tem escrito a respeito das manifestações espirituais que constituem objeto da Psicologia, no sentido espírita do termo em cujos domínios apenas constatamos fatos, em regra, porque não estamos ainda em condições de explicar a maior parte deles.

            Esse é o terreno em que só podemos guiar-nos pelo roteiro da Fé, sentimento que constitui apanágio das almas humildes, cônscias da distância que as separa dos Espíritos Puros, da infinita distancia que as separa de Deus.

            Tentar a pesquisa nos domínios do Espírito com os nossos instrumentos de investigação científica, é cair em erros parecidos com os que têm sido perpetrados por causa do critério antropomórfico, segundo o qual as seitas ditas religiosas atribuíram a Deus modos de ver, de julgar, idênticos aos da precária e deficientíssima consciência humana, dando origem a dogmas como o das penas eternas e tantos outros que rebaixaram o Criador ao nível das mais sanguinárias e cruéis paixões observadas entre os homens.

            Isto posto, tentaremos dar um rápido balanço na marcha evolutiva do espirito humano, rumo à conquista da sua liberdade, da sua redenção do cativeiro das atrações planetárias inferiores, traçando um esquema que nos possa dar, em linhas gerais, uma ideia dos progressos realizados, nestes últimos 3 quartos de século, graças ao advento do Espiritismo.

            Nesse domínio,  se compulsarmos o quadro das ciências, verificaremos que o mais alto resultado à que chegou a inteligência foi o reconhecimento da unidade da substância, cujas Infinitas modalidades, quer cósmicas, quer inerentes à Natureza terrena, são devidas a um princípio cuja origem é desconhecida (para a Ciência Oficial), princípio a que deram os sábios o nome de Energia - do grego energeia, força, potência - esse algo que se move, a que alude Einstein, quando afirmou que "todas as ciências se reduzem à física e a física se pode reduzir agora a uma só fórmula que, traduzida em linguagem vulgar, diria pouco mais ou menos assim:

            "Algo se move". Estas três palavras são a síntese última do pensamento humano" (V. ‘Metapsíquica e Espiritismo’ do coronel Barros Fournier, opúsculo editado em 1934 - Rio de Janeiro).

            Enquanto a ciência, adstrita aos seus métodos rotineiros, estarrecida em face desse quid misterioso que engendra a Vida, confina-se ao mundo da matéria, a Revelação Nova, apropriando-se de tudo que ela, a ciência, acumulou de útil e de belo, comunica um influxo mais elevado à inteligência e, libertando-a de dogmatismos, oferece-lhe essas duas grandes asas do saber e do sentimento, para que alcandorar-se possa ao mundo do Espírito, ao plano das causas, onde se encontra a chave para decifrar o grande enigma da Vida.

            Excelsior! Mais alto! Cada vez mais para o alto!

            Temos, destarte, o quadro mais amplo do Espiritismo, constituído, à luz de princípios incontroversos, da seguinte forma:

            a) - Reconhecimento, pela Fé raciocinada e humilde, da existência de Deus. Criador de tudo que existe e cujo Amor vivifica o Universo.

            Se o Pai nos foi revelado por Jesus que assentou as bases da Religião, isto é, se essa revelação se apoia na Fé, não menos certo é que ela mais se confirma pelo raciocínio, quanto mais é o entendimento iluminado pela cultura científica, desprendida de orgulhosos preconceitos. De fato, o bom senso psicológico leva-nos a formular o seguinte raciocínio: Nada existe sem causa. Um efeito inteligente não pode deixar de revelar-nos uma causa inteligente. Ora, o Universo, em cuja estrutura se revela tanta sabedoria, é efeito de uma causa inteligente infinitamente superior à do homem. Logo, ele foi organizado por um Ser cuja inteligência é incomparável, infinitamente superior à do homem. Ao Ser Onipotente, revelado também, assim, pelo raciocínio, em confirmação ao que antes nos fora revelado por Jesus, é que chamamos Deus, amando-O com filial amor, adorando-O em sua absoluta perfeição. Da Paternidade Divina decorre a nossa condição de filhos, criados por Deus e destinados à felicidade suprema a que atingiremos, porque somos perfectíveis e temos de elevar-nos um dia até o seio do Pai, como Jesus já se elevou, para lhe fazer a divina Vontade, que é o Amor em ação.

            b) - Reconhecimento objetivo, a que se chegou mediante experiências concludentes e observações laboriosas (investigações realizadas nos domínios do hipnotismo e do sonambulismo, materializações de espíritos, psicografia, etc.) da sobrevivência do Espírito à destruição do corpo físico, ou imortalidade da alma, subjetivamente aceita pelas doutrinas religiosas. Demonstra a Revelação Nova que o Espírito, após o fenômeno da morte, como vulgarmente se chama a passagem do ser para o outro lado da vida, conserva um envoltório material, de natureza fluídica, etéreo - o perispírito - cuja extrema sutileza permite ao Espirito muito maior amplitude de ação, facilidades de locomoção inimagináveis pelo homem terreno, faculdades superiores de discernimento, rememoração, percepção intelectual, etc., tudo em correlação com o grau de aperfeiçoamento individual.

            c) - Possibilidade de comunicação do Espírito desencarnado (revestido apenas do seu corpo perispiritual) com os encarnados (revestidos ainda do corpo físico), isto é, comunicação entre vivos e mortos, para nos expressarmos de conformidade com a linguagem vulgar.

            d) - Constatação, documentada exaustivamente por fatos de mediunismo e hipnotismo, da doutrina da reencarnação do Espírito, objetivando o seu constante aperfeiçoamento.

            e) - Reconhecimento do princípio insofismável da responsabilidade individual, firmado na eterna moral do Evangelho, que nos foi ensinada por Jesus e a que o Consolador trouxe um acervo enorme e preciosíssimo de confirmações, revelando-nos coisas que antes do Espiritismo não se sabiam, dando-nos a razão de ser da desigualdade das situações sociais, mostrando-nos a divina Justiça em ação em todas as dores e alegrias de que se rodeiam as existências humanas.

                                                                                  * * *

            São essas, postas em evidência pelo esquema supra, as grandes conquistas do espírito humano, na última fase deste ciclo, prestes a encerrar-se, da civilização que teve início com a vinda, a este mundo, de Jesus Nazareno. Destarte fecha-se o 2° milênio com o cumprimento das promessas do Cristo de que, em seu devido tempo, enviar-nos-ia o Consolador, para ensinar-nos muitas coisas que Ele não tinha podido dizer, pela impossibilidade de serem compreendidas ao seu tempo.

            O fermento da Verdade evangélica está, portanto, na Terra, graças à aceitação dos princípios espíritas por um pequeno número de servos humildes do Divino Messias. E no limiar do 3° milênio já se pode vislumbrar a Humanidade do futuro, iluminada pela grande luz que desce do céu, aplicada ao trabalho pacifico e fecundo do aperfeiçoamento das almas, para que, constituindo todos os homens um só rebanho com um só Pastor, possa estabelecer-se também na Terra, o anunciado Reino de Deus.

            Essa gloriosa etapa assinalará o glorioso marco do congraçamento da Ciência com a Religião, graças à aceitação universal do Espiritismo. Com a paz advinda, uma diminuição enorme do gasto das energias espirituais em penosos e inúteis labores, como os da preparação para a guerra e outros que lhe são conexos, e um correspondente acréscimo da capacidade de estudo das leis que regem o mundo físico, como daquelas que regem o mundo espiritual. Talvez então seja dado ao saber humano levantar o véu perispiritual que ainda nos encobre a divina Psique, para que possamos vê-la em toda a sua esplendente verdade, para o que precisamos ter o pensamento despojado de impurezas, a alma inocente e límpida como a quer Jesus.

            Saberemos, então, que, pertencendo ao Espirito todos os poderes outorgados por Deus ao homem, são-lhe inerentes as faculdades mediante as quais aqueles poderes se exercem, e que todos os revestimentos com que o Espirito se apresenta no curso de sua evolução - Corpos físico ou perispiritual, de matéria grosseira ou quintessenciada - são condições necessárias ao ser ainda pouco evoluído (e neste caso se acha o homem terreno) para que possa compreender e sentir a vida, dada a pouca amplitude de que dispõem as suas faculdades, no estágio inferior de progresso espiritual em que ainda nos encontramos.

            Chegaremos um dia a ser Espíritos! Sim, puros Espíritos, como Jesus, para livremente dirigirmos (sem lhes sofrer, como agora, as reações, ao que nos obriga a nossa imperfeição) a energia e a substância, na elaboração das formas materiais transitórias dos mundos e dos organismos vivos que eles encerram e pelos quais transitam todas as almas criadas por Deus até um certo ponto de sua ascensão espiritual que prosseguirá em seguida noutras paragens do Infinito, inacessíveis ainda ao pensamento do homem, mas a que Jesus veladamente se referiu nas exortações aos seus discípulos.

            Isto que aí fica é o que sabemos de positivo - e já é muito, pelo menos já é o suficiente para que a sociedade humana possa ser organizada segundo os imperativos da evolução espiritual eterna e não apenas conforme as solicitações do bem estar e do egoísmo dos homens.

            Esta a maior glória do século XX, o triunfo insofismável do Cristo sobre o mundo, de sua doutrina de amor sobre o materialismo odioso e insensato.

            O 3° milênio assistirá á descida à Terra de veros discípulos de Jesus para que o Mestre os possa encaminhar, sem mais receios daquelas revoltas contra os seus desígnios superiores. que por vezes criaram entraves a esses desígnios que se acham inscritos nos Evangelhos, base invulnerável do Cristianismo.

            Não mais, então, será penitenciária a nossa pobre Terra, mas sim Escola!


por Arnaldo S. Thiago

Conferência realizada em 1º de dezembro de 1940
no Centro Espirita "Discípulos de Samuel"

inAo Serviço do Mestre”    (Ed. FEB 1942)





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