Inspirações – 15
por Angel
Aquarod
Reformador (FEB) Janeiro
1924
O ESPIRITISMO E A
MAGISTRATURA
Se o Espiritismo deve
influir, como já influi, em todas as ordens de manifestação do espírito humano,
em todas as idealizações e nas instituições de toda natureza, não podia ficar
excluída da sua influência a instituição jurídica. Na magistratura não é menos
necessária tal influência, como em quantas outras temos apreciado. Seguramente
seu influxo tem mais importância nesta ordem de funções, por se tratar de
justiça e nada acarreta mais
responsabilidades ao espírito, em suas ações, do que a justiça ou a injustiça
que as preside.
Escabrosa é em verdade a
missão do magistrado a quem, chamado a fazer justiça, muitas vezes dificílimo
se torna discernir de que lado ela está.
Há muitos magistrados que
fracassam no desempenho de suas funções, patrocinando causas ignóbeis ou pela
carência de um ideal de que se achem perfeitamente compenetrados e que lhes dê
a fórmula precisa para não cometerem injustiça e não incorrerem em responsabilidade.
E se já o funcionário de justiça pode ocasionar muito mal, por falta de consciência
para a boa aplicação das leis, sobretudo das leis divinas, a sociedade fica
profundamente lesada pela ação injusta dos magistrados pouco escrupulosos.
Claro está, não obstante,
que um juízo injusto o é somente com referência ao ato ou questão em litígio,
posto que sempre as sentenças que parecem injustas e que injustamente foram pronunciadas,
não o são ante a justiça divina, que sempre emenda a dos homens, fazendo que as
condenações e absolvições venham a solucionar pleitos e processos antigos, que
estavam pendentes e desconhecidos do magistrado e do réu.
Porém, essa equidade que a
Providência divina, sempre vigilante pelos seus filhos, estabelece em todas as
ocorrências, retificando, quando é conveniente, o juízo humano, não exime os juízes
das responsabilidades que lhes advêm do seu mau proceder. Bem deveis compreender
que a reta justiça de Deus não mede a responsabilidade da criatura humana pelas
consequências ou resultados imediatos ou remotos de suas ações, mas pelo pensamento que as gerou
e impulsionou. Daí a necessidade que tem a
magistratura de conhecer o Espiritismo; porque este conhecimento a coloca na
plena consciência de sua responsabilidade e isso a obrigará, no seu próprio
interesse, a procurar o império da reta justiça em todas as suas decisões.
A magistratura humana,
porém, sofre de excesso de rigorismo, quando não se deixa dominar pela cobiça,
traindo a sua própria consciência, pelo desejo de lucro.
Esse instinto rigorista da
justiça humana, tendendo antes a buscar nos acusados as causas agravantes do
que as atenuantes, se modificará com o conhecimento do Espiritismo.
Por isso, os juízes
espíritas são clementes, procurando sempre, nos casos bem provados de delinquência,
aplicar o mínimo da pena fixada no código e, sempre que a lei lhes permite,
interpretando-a sob um critério de máxima benevolência, absolver o réu, eles o absolvem,
pois têm a consciência de que é muito difícil, senão impossível, descobrir os
graus de culpabilidade que pode ter um delinquente no delito pelo qual sofre processo.
Dificílimo é isso e os juízes
que conhecem o Espiritismo sentem profundo pesar quando, por força da lei, são obrigados
a condenar alguém.
São muitos os motivos que
podem intervir na execução de um delito, alheios à vontade do delinquente!...
Atuam tantos fatores
externos da vida do indivíduo, impelindo-o à realização de determinados atos,
bons ou maus, que, ante a justiça divina, ele se torna quase, senão de todo, irresponsável
nos atos delituosos, e sem mérito para participar dos bons frutos de suas boas obras,
por não haver tomado nelas parte principal a sua vontade.
O papel de juiz, na Terra, é
dos de mais difícil desempenho, desde que não se faça emudecer a consciência,
pelo que os juízes espíritas tremem quando se veem constrangidos a ditar
sentenças condenatórias.
E como, sofrendo violência a
consciência humana, violência sofre a justiça, para estabelecer-se um
equilibrado estado social, em que devidamente se respeite a criatura humana e
se lhe garantam todos os direitos, preciso é que na sociedade se estabeleça uma
corrente de maior piedade e benevolência. Daí a necessidade de que o
Espiritismo penetre e influa consideravelmente na magistratura de todas as
nações. É necessário que aumente o número dos
magistrados espíritas, para que se reformem as leis no sentido de maior
humanidade, piedade e justiça, porque elas só serão justas quando forem
piedosas.
As leis penais que atualmente
existem são arcaicas e não correspondem aos tempos presentes. Repele os códigos
humanos atuais toda consciência bem equilibrada.
É preciso que muitos
magistrados conheçam o Espiritismo e o sintam para que influam na reforma da
legislação penal, em todas as suas ramificações. E, se quiserem atuar de
conformidade com seu próprio interesse espiritual, os juízes espíritas se terão
de negar à aplicação de certas leis anti humanas e, portanto, injustas, devendo
suas consciências repeli-las.
Deve a magistratura chegar
ao extremo de, se não conseguir do poder legislativo a reforma das leis penais,
de conformidade com as exigências do moderno espiritualismo, declarar-se em greve,
como o fazem os obreiros, quando não podem conseguir por boas maneiras o que
solicitam.
Assim, longe de aconselhar
aos espíritas que não ocupem lugares na magistratura, deve-se desejar que sejam
muitos os que abracem essa carreira; que ingressem nela muitos espíritas, sobretudo
conscientes de suas obrigações morais. A isso se deverá a reforma penal e que
se saneie o corpo de funcionários judiciais, desde os simples procuradores e
advogados, até os magistrados da Alta Corte de Justiça.
Saneada a instituição da
justiça, terá conseguido a sociedade um triunfo colossal.
É este um aspecto do labor
espírita que cumpre não se olvide, para que as coisas tomem o seu
verdadeiro curso.
Talvez achem que me meti em
funduras que estavam fora do meu alcance. Quem sabe! Se assim for, o
que não creio, sirvam-me de escusa a boa vontade e a intenção e do exposto
aproveitai o que julgueis útil.
Pareceu-me o assunto digno
de atenção, dei-lha.
Agora, venha outro que faça
melhor ou complete meu pensamento.
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