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domingo, 11 de agosto de 2019

Inspirações - 9



Inspirações – 9
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Setembro 1923

PARA PREPARAR O FUTURO DO ESPIRITISMO

Sinto intenso prazer de poder conversar convosco breves instantes, sobre assuntos que afetam a doutrina que professais, à qual teria também eu servido, na terra, se houvesse podido prolongar meus dias. Porém, à falta disso, sigo daqui o curso do progresso espírita e me comprazo em contribuir para ele na medida do que posso, deste lado.

E daqui, os que estamos dedicados a esta tarefa, prevemos coisas, para o futuro, que não podeis prever. Por isso, pude dizer-vos que o Espiritismo reserva, no porvir, muitas surpresas, tanto a seus adeptos, como aos que hoje são profanos, muitos dos quais se tornarão, em tempo talvez não distante, adeptos fervorosos.

Atualmente, existe, no campo espírita, no que respeita à orientação da marcha do ideal, a aplicação deste ao modo de obrar dos indivíduos e ao da coletividade, uma diversidade enorme de sentir, uma verdadeira anarquia. É o que ocorre sempre em todas as ordens de manifestações do espírito, quando ainda não é possível uma orientação definida relativamente aos processos a empregar-se para converter em obra as teorias.

É natural que não exista entre vós uniformidade de critério, em todos os aspectos da ideia, nem em todos os métodos para seu cultivo; é natural a desorientação de que vos lamentais; porque tudo isso obedece ao regular desenvolvimento do ideal, está plenamente no modo de ser da atual etapa que atravessais. Mas, assim não o considera a maioria, por suporem os que a compõem que, seguindo-se a opinião destes ou daqueles, se conseguirá chegar à uniformidade de métodos, a regularizar os processos de desenvolvimento. Para chegar-se a tal resultado, cada um teria de abrir mão do seu modo de apreciar as coisas, para adotar um só dos métodos encomiados (recomendados). Tal processo, porém, é inexequível.

Todavia, lá se chegará, mas por processos que não imaginais, nem podeis imaginar ainda e que ainda não vos podemos revelar, porque seria prematuro. Se fizéssemos, em vez de facilitarmos o regular desenvolvimento do ideal, o perturbaríamos, pois que vos desviaríamos da missão que cada um de vós deve
atualmente desempenhar, desempenhando a tarefa que vos cabe no labor comum. Depois que cada um tenha executado o labor que lhe corresponde, depois de bem preparados a família espírita e o mundo profano, quando já não haja perigo de desvio, então aparecerá, entre vós, a fórmula salvadora. Até lá, conformai-vos com o fazerdes obra de preparação, com o serdes precursores, pelo vosso trabalho, do labor mais perfeito que em seguida será levado a efeito e dos grandes espíritos que encarnarão na terra para fixar a orientação definitiva. 

Não obstante o que venho de dizer, posso adiantar que está reservado ao Espiritismo unir seu labor ao de quantos, sem exclusivismo, se esforçam, visando o futuro, por conseguir para o gênero humano uma religião que abarque todas as existentes, que a nenhuma rechace, realizando a unidade de crenças, já anunciada aos homens desde tempos imemoriais e que o Cristo patrocinou em seus elevados ensinamentos.

Já vedes que ainda estais distantes do ponto que deveis atingir, embora da vossa doutrina conste que ela objetiva esse elevado propósito. Contudo, se da realização desse desideratum se conserva afastado o Espiritismo, não é porque coisa alguma, em a sua doutrina, que é verdadeira, a isso se oponha, mas pela idiossincrasia da maioria de seus adeptos, que estão ainda muito longe de encarnar em si tão alto ideal.

Para preparardes o advento de uma era em que exista uma religião que a nenhuma outra repila e que a todos ampare e justifique, religião essa vinculada precisamente no Espiritismo, tereis de começar compreendendo quanto precisa que se modifique o atual modo de pensar de seus adeptos. De suas mentes tem que desaparecer toda ideia de agressão a qualquer outro credo. Cumpre considerem que todos são necessários, porque representam sendas diversas apropriadas às necessidades dos espíritos que nelas militam para ascender a Deus.

Quando os espíritas compreenderem isto, o Espiritismo será respeitado e será aceito por todos sem dificuldade alguma.

A hostilidade atual se há de tornar benevolência e respeito.

Disto estais, como já vos disse, muito distantes ainda; porém, já é tempo de preparardes o terreno.

Preciso é para isso que se comece por casa, acostumando-se todos os adeptos ao respeito mútuo e a considerar que, dentro do próprio Espiritismo é forçoso que existam muitas sendas diferentes para ascender-se às culminâncias de seu conhecimento.

O Espiritismo deve acolher em seu seio, dadas as várias tendências que nele existem, todos cujo sentir corresponda a essas tendências. Deve preparar-se para ser de todos, sábios e ignorantes, bons e maus, pobres e ricos, e para contar em seu seio gente de todas as condições, de todas as raças e de todas as nações do mundo.

Assim sendo, deverá formular o seu credo de maneira que ninguém fique excluído e haja, no seu seio, possibilidade para o desenvolvimento de todas as faculdades intelectuais e morais de que é susceptível a alma humana.

Por isso, todos os exclusivistas terão de retificar radicalmente seu critério, pois o exclusivismo, dentro da vossa doutrina, lhe acarretaria a morte.  

Deve tender para seu fim a era dos exclusivistas de escola, porque esses exclusivismos já não correspondem ao grau de evolução alcançado pelos espíritos que no futuro formarão a maioria da humanidade terrestre. Porém, como não será possível excluir os atrasados e eles são por si mesmos exclusivistas, haverá necessidade de uma organização em que eles não fiquem de fora. Bastará que não se lhes permita - tirando-se lhes toda possibilidade de fazê-lo exercer, na sociedade, a influência que exerceram em passa os séculos e que ainda hoje exercem.

Tarefa longa tendes e não espereis que se vos dê tudo feito, pois vos cabe a missão de estudar tudo para colherdes os conhecimentos que esses estudos vos podem proporcionar, sendo isto precisamente o de que vos incumbiram vossos mestres do espaço para que sejais seus instrumentos entre os homens.

Preparai-vos, pois, para acolher em vossas fileiras todo aquele que se vos chegue, seja qual for sua condição e o grau de sua evolução, colocando-o no lugar que lhe é próprio e dando-lhe o alimento que seu estado requer.

Alimento e lugar para todos, entendei-o bem. Se o Espiritismo não adotasse esta fórmula necessária, remédio não haveria senão confiar a outra escola a missão que ele deve desempenhar. Porém, não haverá necessidade disso, porque é providencial que ele reúna todos os espíritos numa só ala e num só pensamento. E, para que assim seja, não faltarão espíritos escolhidos que passarão a militar em seu seio, a fim de cumprir este desígnio divino.

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