Inspirações
– 9
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Setembro 1923
PARA PREPARAR O FUTURO DO ESPIRITISMO
Sinto intenso prazer de poder conversar convosco
breves instantes, sobre assuntos que afetam a doutrina que professais, à qual
teria também eu servido, na terra, se houvesse podido prolongar meus dias.
Porém, à falta disso, sigo daqui o curso do progresso espírita e me comprazo em
contribuir para ele na medida do que posso, deste lado.
E daqui, os que estamos dedicados a esta
tarefa, prevemos coisas, para o futuro, que não podeis prever. Por isso, pude
dizer-vos que o Espiritismo reserva, no porvir, muitas surpresas, tanto a seus
adeptos, como aos que hoje são profanos, muitos dos quais se tornarão, em tempo
talvez não distante, adeptos fervorosos.
Atualmente, existe, no campo espírita, no que
respeita à orientação da marcha do ideal, a aplicação deste ao modo de obrar
dos indivíduos e ao da coletividade, uma diversidade enorme de sentir, uma
verdadeira anarquia. É o que ocorre sempre em todas as ordens de manifestações
do espírito, quando ainda não é possível uma orientação definida relativamente
aos processos a empregar-se para converter em obra as teorias.
É natural que não exista entre vós uniformidade
de critério, em todos os aspectos da ideia, nem em todos os métodos para seu
cultivo; é natural a desorientação de que vos lamentais; porque tudo isso obedece ao
regular desenvolvimento do ideal, está plenamente no modo de ser da atual etapa
que atravessais. Mas, assim não o considera a maioria, por suporem os que a
compõem que, seguindo-se a opinião destes ou daqueles, se conseguirá chegar à
uniformidade de métodos, a regularizar os processos de desenvolvimento. Para
chegar-se a tal resultado, cada um teria de abrir mão do seu modo de apreciar as coisas, para adotar um só
dos métodos encomiados (recomendados). Tal processo, porém, é inexequível.
Todavia, lá se chegará, mas por processos que
não imaginais, nem podeis imaginar ainda e que ainda não vos podemos revelar,
porque seria prematuro. Se fizéssemos, em vez de facilitarmos o regular
desenvolvimento do ideal, o perturbaríamos, pois que vos desviaríamos da missão
que cada um de vós deve
atualmente desempenhar, desempenhando a tarefa
que vos cabe no labor comum. Depois que cada um tenha executado o labor que lhe
corresponde, depois de bem preparados a família espírita e o mundo profano,
quando já não haja perigo de desvio, então aparecerá, entre vós, a fórmula
salvadora. Até lá, conformai-vos com o fazerdes obra de preparação, com o
serdes precursores, pelo vosso trabalho, do labor mais perfeito que em seguida
será levado a efeito e dos grandes espíritos que encarnarão na terra para fixar
a orientação definitiva.
Não obstante o que venho de dizer, posso adiantar
que está reservado ao Espiritismo unir seu labor ao de quantos, sem
exclusivismo, se esforçam, visando o futuro, por conseguir para o gênero humano
uma religião que abarque todas as existentes, que a nenhuma rechace, realizando
a unidade de crenças, já anunciada aos homens desde tempos imemoriais e que o
Cristo patrocinou em seus elevados ensinamentos.
Já vedes que ainda estais distantes do ponto
que deveis atingir, embora da vossa doutrina conste que ela objetiva esse
elevado propósito. Contudo, se da realização desse desideratum se conserva
afastado o Espiritismo, não é porque coisa alguma, em a sua doutrina, que é
verdadeira, a isso se oponha, mas pela idiossincrasia da maioria de seus
adeptos, que estão ainda muito longe de encarnar em si tão alto ideal.
Para preparardes o advento de uma era em que
exista uma religião que a nenhuma outra repila e que a todos ampare e
justifique, religião essa vinculada precisamente no Espiritismo, tereis de
começar compreendendo quanto precisa que se modifique o atual modo de pensar de
seus adeptos. De suas mentes tem que desaparecer toda ideia de agressão a
qualquer outro credo. Cumpre considerem que todos são necessários, porque
representam sendas diversas apropriadas às necessidades dos espíritos que nelas
militam para ascender a Deus.
Quando os espíritas compreenderem isto, o Espiritismo
será respeitado e será aceito por todos sem dificuldade alguma.
A hostilidade atual se há de tornar benevolência
e respeito.
Disto estais, como já vos disse, muito
distantes ainda; porém, já é tempo de preparardes o terreno.
Preciso é para isso que se comece por casa,
acostumando-se todos os adeptos ao respeito mútuo e a considerar que, dentro do
próprio Espiritismo é forçoso que existam muitas sendas diferentes para
ascender-se às culminâncias de seu conhecimento.
O Espiritismo deve acolher em seu seio, dadas
as várias tendências que nele existem, todos cujo sentir corresponda a essas tendências.
Deve preparar-se para ser de todos, sábios e ignorantes, bons e maus, pobres e
ricos, e para contar em seu seio gente de todas as condições, de todas as raças
e de todas as nações do mundo.
Assim sendo, deverá formular o seu credo de
maneira que ninguém fique excluído e haja, no seu seio, possibilidade para o
desenvolvimento de todas as faculdades intelectuais e morais de que é
susceptível a alma humana.
Por isso, todos os exclusivistas terão de
retificar radicalmente seu critério, pois o exclusivismo, dentro da vossa doutrina, lhe acarretaria
a morte.
Deve tender para seu fim a era dos
exclusivistas de escola, porque esses exclusivismos já não correspondem ao grau
de evolução alcançado pelos espíritos que no futuro formarão a maioria da
humanidade terrestre. Porém, como não será possível excluir os atrasados e eles
são por si mesmos exclusivistas, haverá necessidade de uma organização em que
eles não fiquem de fora. Bastará que não se lhes permita - tirando-se lhes toda
possibilidade de fazê-lo exercer, na sociedade, a influência que exerceram em
passa os séculos e que ainda hoje exercem.
Tarefa longa tendes e não espereis que se vos
dê tudo feito, pois vos cabe a missão de estudar tudo para colherdes os
conhecimentos que esses estudos vos podem proporcionar, sendo isto precisamente
o de que vos incumbiram vossos mestres do espaço para que sejais seus
instrumentos entre os homens.
Preparai-vos, pois, para acolher em vossas
fileiras todo aquele que se vos chegue, seja qual for sua condição e o grau de
sua evolução, colocando-o no lugar que lhe é próprio e dando-lhe o alimento que
seu estado requer.
Alimento e lugar para todos, entendei-o bem. Se
o Espiritismo não adotasse esta fórmula necessária, remédio não haveria senão
confiar a outra escola a missão que ele deve desempenhar. Porém, não haverá
necessidade disso, porque é providencial que ele reúna todos os espíritos numa só ala e num
só pensamento. E, para que assim seja, não faltarão espíritos escolhidos que passarão
a militar em seu seio, a fim de cumprir este desígnio divino.
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