Inspirações – 13
por Angel
Aquarod
Reformador (FEB) Dezembro
1923
O ESPIRITISMO NAS BAIXAS
CAMADAS SOCIAIS
Se o Espiritismo, com as asas
de seus elevadíssimos ensinamentos, penetra no gabinete do sábio e o
convida a sondar os arcanos da natureza e a pesquisar no oculto, também com as asas
de sua piedade, portador de divinas consolações, desce ao tugúrio do indigente,
penetra na lôbrega mansão dos Infortunados, roça sua alva túnica pelo ladrilho
dos prostíbulos, invade a cela do recluso; alenta o delinquente condenado pela
justiça humana, dando-lhe forças para carregar suas pesadas cadeias; atrai a
atenção dos párias do presente; acaricia o ignorante, chamando-o a si; afaga o
indignado contra a injustiça social oferendo lhe maior esclarecimento das
coisas que ele estuda, para fazê-lo conhecer que em tudo há a justiça que ele
não sabe ver. A esse e a quantos rastejam pelas baixas camadas sociais, com o
exato conhecimento do porque do que lhes sucede, oferece uma âncora salvadora,
um lenitivo as penas, uma certeza necessária da eternidade da vida, um motivo
de alegria em meio dos penares terrenos e a segura redenção do gênero humano.
A ninguém o Espiritismo se
nega. Por conseguinte, não terá que ser ocultado dos seres que vivem na humilde
condição descrita acima.
Não andam acertados os que
temem que doutrina que professais chegue a ser tão popular, que até nas mais
baixas camadas sociais encontre assento. Precisamente, se alguém necessita dos
consolos que o Espiritismo pode proporcionar são todos esses seres desprezados
pela sociedade que se qualifica a si mesma de culta. A esses infelizes é que
buscava o doce Nazareno, para prodigalizar-lhes o pão de vida que com tanta abundância
distribuiu pela espécie humana. E o Espiritismo seria menos? Ah, não!
Não temais que esses irmãozinhos
vossos, que ocupam os últimos lugares na escala social o prostituam. Desde que
o não compreendam bem. Sem, nem por isso será inútil o ensino que do
Espiritismo recebam.
Em verdade, a esses irmãozinhos
vossos e meus não se pode pedir que sejam poços de sabedoria; não se pode
exigir que tudo compreendam e vejam à luz de clara lógica; não se pode exigir
que sejam filósofos acabados. Tudo isso está acima deles e deles não se pode
esperar. Pode-se, porém, esperar que compreendam o que há de essencial na
doutrina, que percebam o porquê da vida, o plano da criação, na sua expressão
mais simples, o bastante para não andarem cegos pelo deserto terrestre. Deles se pode esperar que,
conhecendo a existência do mundo super físico, a comunicação dos espíritos e
os bons efeitos da oração, busquem neste recurso magnífico e celestial, maior
bem para si e para os outros. Pode-se esperar, dos que arrastam as cadeias do
presidiário, que se tornem dignos cidadãos, amigos de praticar o bem entre seus
companheiros, por meio da prece sentida, e se convertam em dóceis servidores do
Pai e de seus irmãos, preparando-se para merecer o convívio da gente honrada,
ao recobrarem a liberdade. Pode-se esperar do indigente que, não obstante a sua
penúria, se mantenha honrado e espere mais do esforço próprio, do trabalho
honesto o gozo do necessário para a subsistência, do que da humilhante dádiva
do orgulhoso senhor. Pode-se esperar do desvalido, do enfermo, do desamparado,
do desprezado, que suporte seus sofrimentos, sua condição infeliz, com
resignação, conformando-se com a vontade divina. Pode-se esperar do revolucionário
impenitente que modifique seu modo de ver as questões de sua competência e
abandone os processos violentos, procurando a solução dos problemas sociais na
santa doutrina pregada por Jesus. Pode-se esperar da infeliz meretriz que,
compreendendo as leis que regem o mundo moral e
confiando na misericórdia divina, imite a Madalena e se converta em providência
redentora de outras irmãs também caídas no lodaçal do vício... Pode-se esperar
que do ignorante faça um aplicado ao estudo e que lhe desperte no íntimo as
arraias do saber, ensinando-lhe que pela sabedoria e pelo amor se chega até
Deus.
Pode-se esperar do perdido,
do ocioso, do viciado em todos os ramos da má vida, que volte atrás e,
arrependido de seu proceder, tome outro roteiro, voltando, qual filho pródigo, à
casa do Pai. Tudo isso e muito mais se pode esperar desses irmãozinhos nossos,
tão desprezados, tão escarnecidos e até tão perseguidos.
Podereis objetar-me: Que
será o Espiritismo entre essa gente? Será o que é, nem mais nem menos. Pode a
alma humana, que jaz pura no mais íntimo de vosso ser, tirar sua pureza da escória
com que a vestis, envoltório físico as vezes dominado pelas mais baixas
paixões? Não, não é verdade? Pois, do mesmo modo, o Espiritismo, não obstante mal compreendido e pior
praticado quanto a seu lado moral, por muitos de seus adeptos, sempre é o
mesmo; não perde nunca um só átomo que seja de sua pureza.
Assim, distribui com todos o
manjar que Ele a todos oferece a fim de que os que possam aproveitar alguma
coisa do seu espírito aproveitem.
Não está ao vosso alcance
determinar quais os que podem aproveitar do Espiritismo e quais os que dele
nada podem aproveitar. Assim sendo, oferecei-o a todos, sem distinção, porque
quem deva tirar dele proveito o abraçará com entusiasmo e beneficiará de seus
ensinamentos. Não deveis insistir com tenacidade junto dos que o repelem, mas
não deixeis de oferece-lo a quem quer que seja e mais que a todos aos que
sofrem, aos descontentes da vida, aos que necessitam de consolo. A todos estes
oferecei-o e não poupeis esforços para dar-lhes conhecimento de vossas crenças.
Não temais pelo uso que
possam fazer do que lhes ensinais. Por muito mal que compreendam o que lhes
ensineis, sempre será maior o bem que obterão e que proporcionarão à própria
sociedade de que fazem parte, do que o mal que possam causar à doutrina. Esse
mal será sempre nulo, porque a doutrina é intangível. Ninguém a pode prejudicar
jamais.
Jesus nunca deixou de descer
às mais ínfimas camadas sociais para levar aos irmãos que as compunham a saúde
da alma. Deveis fazer o mesmo com o Espiritismo e com o Cristianismo, explicado
à sua luz.
O Espiritismo não veio exclusivamente
para os entendidos e para os felizes. Veio para todos. A ninguém,
pois, negueis a sua luz, sob pretexto algum; iluminai todos os vossos irmãos de
cativeiro, pondo a luz que possuis sobre o candelabro. Isso representará o
pagamento de uma dívida que tendes para com eles; não lhes negueis o pagamento
de tão justo tributo.
Para todos há alimento no
Espiritismo, que corresponde a todos os estados e a todas as necessidades da criatura
humana. Só vos compete, pois, graduar seus ensinamentos à natureza e à
extensão dessas necessidades, regular a maneira de ministra-los, etc., etc.,
para dar a cada um o que lhe possa ser útil, por corresponder ao estado de sua consciência.
Entrego ao vosso estudo esta
matéria para que desentranheis dela a caudal imensa de sábios ensinamentos
que encerra e encontrareis o modo mais fácil de fazerdes penetrar o Espiritismo
em todas as inteligências, seja qual for a cultura dos indivíduos e a classe
social a que pertençam.
Tende presente, ao demais,
que pouca diferença há, considerando-se o valor intrínseco dos espíritos, entre
os que ocupam as últimas camadas sociais e os que ocupam as camadas médias e as
mais altas. A lei divina é sumamente igualitária; é o que poderíeis dizer, na
vossa linguagem humana, à moderna, socialista, pois que todos os espíritos, nas
suas diferentes encarnações, passam por todas as camadas sociais e até se sentam
nas curuis (poltronas) dos magistrados, ditando
sentenças condenatórias, para, na encarnação seguinte, arrastar a grilheta numa
prisão ou morrer num patíbulo.
Dos que estão em cima aos
que estão embaixo, passando por todos os outros, não há privilégio algum.
Assim, não estabeleçais diferenças entre eles para a difusão do vosso ideal,
que para Deus não há classes privilegiadas. Para Ele todos precisam e devem ser
iluminados pela luz da Nova Revelação, sejam quais forem e a classe em que se
achem e a condição de vida que buscaram.
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