Lições do Leiteiro
Romeu A. Camargo
Reformador (FEB)
Maio 1942
(Do canhenho (caderno de notas) de um pastor evangélico)
Oh! "seu" Manoel, dou-lhe parabéns, pela, sua
prosperidade no seu comércio de leite!
- E porque fala assim a senhora?
É que hoje o leite está gordo, com nata grossa, sabor
muito diferente, gostoso e então eu disse a meu marido que o "seu"
Manoel vai muito bem
e com certeza este
leite bom é de alguma vaca nova, talvez uma holandesa...
- Não! não! Minha senhora! Eu lhe conto a história
inteirinha. Não comprei nenhuma vaca nova. As vacas são as mesmas. Eu é que
estou com vida nova: aceitei o Evangelho de Jesus e essa encantadora doutrina
encerra a moral pura, que condena a
mentira por pensamento, por palavra e por obra; eu não mentia por palavras diante
da senhora e das outras freguesas do meu leite. Eu mentia sem abrir a boca, mas
entregando-lhe leite misturado com água. Era um furto. A norma de minha vida de
hoje em diante, está na Moral do Evangelho e essa moral me ensina que não
devo mentir nunca; ensina que não devo desejar nem fazer aos outros o que não
desejaria para mim; que devo amar a Deus e mostrar esse amor amando o meu próximo,
que é filho de Deus e meu irmão. O leite que eu vendia era uma mentira... Hoje falo
a verdade, porque a minha consciência é uma testemunha silenciosa dos meus atos
e pensamentos, que me aplaude quando pratico o bem e me repreende quando
pratico um ato mau...
E aquela senhora ficou estupefata, vivamente impressionada.
Nunca vira espetáculo semelhante! Seu marido ficou contagiado desse assombro estupeficador.
Ambos se puseram a meditar e, não resistindo à curiosidade, procuraram conhecer
o misterioso poder dessa leitura que virou a vida do leiteiro pelo
avesso.
No dia seguinte, a senhora lá foi ao portão do jardim,
bem cedinho, muito antes da hora da chegada do homem “renascido”. Lá veio ele,
com semblante de quem vive alegre e sem preocupação. "Olhe, seu Manoel, eu
estou curiosa por deitar os olhos nesse tal Evangelho que tirou a água do
leite...”
No dia seguinte, D. Margarida recebeu um exemplar da Bíblia
Sagrada, traduzida em português pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo e
editada pela Sociedade Bíblica Britânica.
..................................................................................
Um mês depois, o próprio leiteiro é que ficou estupeficado
ante a radical transformação operada na vida daquele lar, que agora conhecia de
perto, pois que passou a ser considerado ali como irmão em Jesus e não mais
como apenas fornecedor de leite.
E o venturoso casal, que vivia sempre em plena harmonia,
cercado dos seus cinco filhos, mercê da saúde e da abundância de recursos,
passou a ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, vendo o número incalculável dos
necessitados ao alcance de sua proteção, e ouvindo as súplicas dos incontáveis
padecentes de toda espécie que arrastam a existência como só eles sabem, sob a
vigilância dos olhos paternais de Deus.
*
Ocorreu-me citar nestas colunas a edificante história do
leiteiro, por ver nela lições que nunca perderão o sal da oportunidade. É mais
um dos retalhos tirado do baú velho do meu Protestantismo (e esse ai data de
1909).
Mas, devo ao grande Emmanuel,
a ideia de vir a público com esta narrativa, que ouvi dos lábios de piedoso
pastor protestante, e este relatou o episódio verificado no vasto campo de seu
pastorado. Um dos aspectos mais impressivos do trabalho do púlpito
é esse: o dos casos Ilustrativos citados pelo pregador, geralmente colhidos no
tirocínio, na experiência própria, durante suas excursões pela zona que lhe
está confiada.
Emmanuel, o iluminado espírito que nos tem dado,
a nós espíritas, uma nova literatura, rica de espiritualidade, com perfume e
com sabor que não são da terra - fala-nos com a autoridade da sua longa e
penosa experiência, quando fez a sua
extensa caminhada
neste mundo. Quero referir-se a esse trabalho preciosíssimo (e todos os seus
trabalhos são preciosíssimos), intitulado “O
Consolador”, em cujas teses-perguntas, em número de 411, se encontram todos
os problemas que
envolvem a vida
toda do homem seja nos domínios da Ciência e da Filosofia, seja no reino
privativo dos sentimentos, denominado: Religião.
O dedicado servo de Jesus com a exatidão da matemática e
com a firmeza da lógica, conduz o espírito do leitor a encontrar a desejada
solução para todos esses problemas.
De início, na solução indicada a tese número um, diz o
amorável discípulo do Mestre (pag. 19):
“Importa considerar, todavia, que a ciência do mundo, se
não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da destruição, tem absoluta
necessidade do Espiritismo cuja finalidade divina é a iluminação dos sentimentos, na sagrada melhoria do homem, nas suas
características morais”. (O grifo é nosso).
Está bem claro o pensamento do digno autor, confirmando
aquele do Mestre: “e a liberdade vos livrará”.
Esta liberdade não é um farol, um holofote: é um sol! Di-lo a transformação
desse casal que, possuído pelo Evangelho que é a palavra de amor, mas amor
vivo, que revela vida operante, em ação - começou a ver o mundo e os homens sob
um prisma inteiramente novo, e a sentir a vida íntima, fundindo-a na de seus
semelhantes. Lição frutificada da “consciência iluminada” do bom leiteiro.
Através da “iluminação dos sentimentos” é que o
Espiritismo realizará na terra todos os milagres, todos os prodígios de que é
capaz o amor. A assistência aos necessitados deixará de ser filha envergonhada
da mendicância, quando os homens estiverem com a consciência, com os sentimentos
iluminados, clarificados pelo Espiritismo que é a palavra prometida, o
Consolador, a Verdade. Aí, consciência e assistência
estarão Irmanadas para todo o sempre.
No próximo artigo soará, ainda, a palavra instrutiva do
eminente irmão Emmanuel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário