quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Lições do Leiteiro








Lições do Leiteiro
Romeu A. Camargo
Reformador (FEB) Maio 1942

(Do canhenho (caderno de notas) de um pastor evangélico)

Oh! "seu" Manoel, dou-lhe parabéns, pela, sua prosperidade no seu comércio de leite!

- E porque fala assim a senhora?

É que hoje o leite está gordo, com nata grossa, sabor muito diferente, gostoso e então eu disse a meu marido que o "seu" Manoel vai muito bem
e com certeza este leite bom é de alguma vaca nova, talvez uma holandesa...

- Não! não! Minha senhora! Eu lhe conto a história inteirinha. Não comprei nenhuma vaca nova. As vacas são as mesmas. Eu é que estou com vida nova: aceitei o Evangelho de Jesus e essa encantadora doutrina encerra a moral pura, que condena a mentira por pensamento, por palavra e por obra; eu não mentia por palavras diante da senhora e das outras freguesas do meu leite. Eu mentia sem abrir a boca, mas entregando-lhe leite misturado com água. Era um furto. A norma de minha vida de hoje em diante, está na Moral do Evangelho e essa moral me ensina que não devo mentir nunca; ensina que não devo desejar nem fazer aos outros o que não desejaria para mim; que devo amar a Deus e mostrar esse amor amando o meu próximo, que é filho de Deus e meu irmão. O leite que eu vendia era uma mentira... Hoje falo a verdade, porque a minha consciência é uma testemunha silenciosa dos meus atos e pensamentos, que me aplaude quando pratico o bem e me repreende quando pratico um ato mau...
 
E aquela senhora ficou estupefata, vivamente impressionada. Nunca vira espetáculo semelhante! Seu marido ficou contagiado desse assombro estupeficador. Ambos se puseram a meditar e, não resistindo à curiosidade, procuraram conhecer o misterioso poder dessa leitura que virou a vida do leiteiro pelo avesso.

No dia seguinte, a senhora lá foi ao portão do jardim, bem cedinho, muito antes da hora da chegada do homem “renascido”. Lá veio ele, com semblante de quem vive alegre e sem preocupação. "Olhe, seu Manoel, eu estou curiosa por deitar os olhos nesse tal Evangelho que tirou a água do leite...”

No dia seguinte, D. Margarida recebeu um exemplar da Bíblia Sagrada, traduzida em português pelo Padre Antônio Pereira de Figueiredo e editada pela Sociedade Bíblica Britânica.
..................................................................................

Um mês depois, o próprio leiteiro é que ficou estupeficado ante a radical transformação operada na vida daquele lar, que agora conhecia de perto, pois que passou a ser considerado ali como irmão em Jesus e não mais como apenas fornecedor de leite.

E o venturoso casal, que vivia sempre em plena harmonia, cercado dos seus cinco filhos, mercê da saúde e da abundância de recursos, passou a ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, vendo o número incalculável dos necessitados ao alcance de sua proteção, e ouvindo as súplicas dos incontáveis padecentes de toda espécie que arrastam a existência como só eles sabem, sob a vigilância dos olhos paternais de Deus.

*

Ocorreu-me citar nestas colunas a edificante história do leiteiro, por ver nela lições que nunca perderão o sal da oportunidade. É mais um dos retalhos tirado do baú velho do meu Protestantismo (e esse ai data de 1909).       

Mas, devo ao grande Emmanuel, a ideia de vir a público com esta narrativa, que ouvi dos lábios de piedoso pastor protestante, e este relatou o episódio verificado no vasto campo de seu pastorado. Um dos aspectos mais impressivos do trabalho do púlpito é esse: o dos casos Ilustrativos citados pelo pregador, geralmente colhidos no tirocínio, na experiência própria, durante suas excursões pela zona que lhe está confiada.

Emmanuel, o iluminado espírito que nos tem dado, a nós espíritas, uma nova literatura, rica de espiritualidade, com perfume e com sabor que não são da terra - fala-nos com a autoridade da sua longa e penosa experiência, quando fez a sua
extensa caminhada neste mundo. Quero referir-se a esse trabalho preciosíssimo (e todos os seus trabalhos são preciosíssimos), intitulado “O Consolador”, em cujas teses-perguntas, em número de 411, se encontram todos os problemas que
envolvem a vida toda do homem seja nos domínios da Ciência e da Filosofia, seja no reino privativo dos sentimentos, denominado: Religião.

O dedicado servo de Jesus com a exatidão da matemática e com a firmeza da lógica, conduz o espírito do leitor a encontrar a desejada solução para todos esses problemas.

De início, na solução indicada a tese número um, diz o amorável discípulo do Mestre (pag. 19):

“Importa considerar, todavia, que a ciência do mundo, se não deseja continuar no papel de comparsa da tirania e da destruição, tem absoluta necessidade do Espiritismo cuja finalidade divina é a iluminação dos sentimentos, na sagrada melhoria do homem, nas suas características morais”. (O grifo é nosso).

Está bem claro o pensamento do digno autor, confirmando aquele do Mestre: “e a liberdade vos livrará”. Esta liberdade não é um farol, um holofote: é um sol! Di-lo a transformação desse casal que, possuído pelo Evangelho que é a palavra de amor, mas amor vivo, que revela vida operante, em ação - começou a ver o mundo e os homens sob um prisma inteiramente novo, e a sentir a vida íntima, fundindo-a na de seus semelhantes. Lição frutificada da “consciência iluminada” do bom leiteiro.

Através da “iluminação dos sentimentos” é que o Espiritismo realizará na terra todos os milagres, todos os prodígios de que é capaz o amor. A assistência aos necessitados deixará de ser filha envergonhada da mendicância, quando os homens estiverem com a consciência, com os sentimentos iluminados, clarificados pelo Espiritismo que é a palavra prometida, o Consolador, a Verdade. Aí, consciência e assistência estarão Irmanadas para todo o sempre.

No próximo artigo soará, ainda, a palavra instrutiva do eminente irmão Emmanuel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário