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domingo, 1 de dezembro de 2019

Do Mestre para o Discípulo



Do Mestre para o Discípulo
por  Angel Aquarod
Reformador (FEB) Julho 1920

- O que se deve ao corpo e o que se deve à alma -

            Meu amado discípulo: Livra-te de imitar os que, não tendo outro Deus senão a matéria, cifram todas as suas aspirações em satisfazer as exigências da carne e das paixões que essas exigências desenvolvem; e os que, levados por um egoísmo espiritual mal compreendido, ao impulso de um fanatismo exagerado, sacrificam o corpo, negando-lhe a nutrição que a sua natureza exige, a vestimenta, o repouso conveniente, o asseio e outros cuidados higiênicos indispensáveis à conservação da saúde e ainda o sujeitam à macerações e cilícios brutais.

            Tudo isso, tanto da parte de uns como de outros, é antinatural e, portanto, produz efeitos opostos aos que se visam. Os que querem tratar o corpo como soberano, satisfazendo-lhe a todas as exigências, desequilibram o seu regular funcionamento. Com este desequilíbrio produzem a perda da saúde e, sem nunca o satisfazerem, porque ele é insaciável e descontente como criança mal educada, lhe preparam um fim prematuro, após um período, mais ou menos longo, de sofrimentos.

            Os segundos pensam favorecer a alma e só conseguem atrofiar suas potências principais e entorpecer o cumprimento de sua missão terrestre, quando colocam em más condições o instrumento de sua manifestação no plano físico. O que acontece é inutilizarem o corpo, tornando-o enfermo, enfermidade que se transmite ao espírito, envolvendo-o numa espécie de idiotice - em uma idiotice efetiva - da qual custará muitíssimo a se ver livre.

            São casos de fanatismo fulminante, que ataca a maior parte da humanidade e cujas consequências todos sentimos. A isso se deve a degeneração da espécie, o desequilíbrio entre o corpo e o espírito gerador de tendências rivais, duma irredutibilidade notória, que põe em perigo a liberdade, a paz, o sossego público e a dignidade humana.

            Acrescente-se a perda da saúde corporal e espiritual como resultado fatal, e vejamos se isso não oferece motivo de sobra para bradar forte e insistentemente contra este mal universalmente espalhado.

            Foge, pois, querido discípulo, de semelhantes extremos e dai ao corpo e ao espírito o que a um e a outro corresponde.

            O espírito tem que cumprir, encarnado na Terra, a importantíssima missão de desenvolver e por em ação suas faculdades; de contribuir, em diferentes ordens, para a realização do plano divino, na grande obra da evolução. Para esse fim, como veículo de manifestação, como instrumento de ação, necessita do corpo e se este não se achar de perfeita saúde, em bom estado de funcionamento, comprometida está a missão do espírito, cuja ação se torna deficiente e improdutiva, contraproducente muitas vezes.

            Ao corpo, em verdade, como vês, se devem dar satisfações; porém, nada mais do que aquelas que, legitimamente, exija a sua natureza não viciada: nutrição sã e adequada, em quantidade suficiente, nem mais nem menos, porque igualmente se prejudica o corpo assim por excesso como por falta de nutrição. Exclusão de toda satisfação desnecessária, como é o uso - e mais o abuso - do tabaco, do ópio, das bebidas alcoólicas, os refinamentos da mesa, etc., etc. Desta maneira se favorece ao corpo e se beneficia o espírito. O interesse de ambos é o mesmo. Os excessos que enfermam o corpo enfermam também o espírito. Pois se é pecado cometido por este! Por isso, em boa justiça, sobre ele têm que recair as consequências. O transbordamento das paixões e os fanatismos, que são enfermidades do espírito, repercutem no corpo e o enfermam também, expiando o espírito, nesta enfermidade, seus pecados, que o fazem sofrer e lhe retardam o progresso. Há perfeita solidariedade entre o corpo e o espírito, não ocorrendo a um nada que não afete ao outro.

            Tanto ao corpo como ao espírito se pode e se deve castigar; porém, não da forma como o fizeram e fazem certos místicos e fanáticos religiosos, sujeitando-o a prolongados jejuns, a privações de coisas essenciais ao seu sustento e aplicando-lhe disciplinas e cilícios rigorosos. A violência para com o corpo só se justifica se se lhe regateiam, ou, melhor, se se lhe negam em absoluto os prazeres doentios da gula, da luxúria, da negligência, da inclinação a certos vícios, excessos e paixões desordenadas, que com frequência se apoderam do homem. Destas violências perseverantes e sustentadas com firmeza lucram o corpo e a alma: o corpo, porque o purificam, sublimam e lhe melhoram o estado de saúde e a alma, porque, graças ao seu esforço, se obtém a vitória, sendo ela o principal agente, de justiça é que seja a primeira beneficiada. A alma sai da contenda purificada e enobrecida e com o instrumento, corpo, em melhor disposição para o serviço.

            Por bons motivos, certamente, Deus, ao criar os corpos, sujeitou o funcionamento, o crescimento e a conservação deles a certas leis. Pois bem, cumprir essas leis é fazer a vontade divina e, portanto, obra santa. Conculcá-las (espezinha-las) é faltar à lei de Deus, rebelar-se contra a vontade do Supremo Criador e, por conseguinte, fazer obra má.

            Só é admissível que se castigue o corpo quando em benefício da saúde ou do bem alheio, físico ou espiritual. Também quando, em cumprimento do mandato divino, se expõe a saúde e a vida, chegando-se mesmo à perda desta, procede-se cristãmente, pratica-se um ato plausível e altamente meritório, porque nessa maneira de proceder entram em jogo a abnegação e o sacrifício, duas virtudes celestes que se convertem em brancas asas para os espíritos que delas sabem usar a fim de se elevarem às puríssimas regiões da bem aventurança eterna.


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