Do
Mestre para o Discípulo
por Angel Aquarod
Reformador
(FEB) Julho 1920
- O que se deve ao
corpo e o que se deve à alma -
Meu amado discípulo: Livra-te de
imitar os que, não tendo outro Deus senão a matéria, cifram todas as suas
aspirações em satisfazer as exigências da carne e das paixões que
essas exigências desenvolvem; e os que, levados por um egoísmo espiritual mal
compreendido, ao impulso de um fanatismo exagerado, sacrificam o corpo,
negando-lhe a
nutrição que a sua natureza exige, a vestimenta, o repouso conveniente, o
asseio e outros cuidados higiênicos indispensáveis à conservação da saúde e
ainda o sujeitam à macerações e cilícios brutais.
Tudo isso, tanto da parte de uns
como de outros, é antinatural e, portanto, produz efeitos
opostos aos que se visam. Os que querem tratar o corpo como soberano,
satisfazendo-lhe a todas as exigências, desequilibram o seu regular funcionamento. Com
este desequilíbrio produzem a perda da saúde e, sem nunca o satisfazerem,
porque ele é insaciável e descontente como criança mal educada, lhe preparam um
fim prematuro, após
um período, mais ou menos longo, de sofrimentos.
Os segundos pensam favorecer a alma
e só conseguem atrofiar suas potências principais e entorpecer o cumprimento de
sua missão terrestre, quando colocam em más condições o instrumento de sua
manifestação no plano físico. O que acontece é inutilizarem o corpo, tornando-o
enfermo, enfermidade que se transmite ao espírito, envolvendo-o numa espécie de
idiotice - em uma idiotice efetiva - da qual custará muitíssimo a se ver livre.
São casos de fanatismo fulminante,
que ataca a maior parte da humanidade e cujas consequências
todos sentimos. A isso se deve a degeneração da espécie, o desequilíbrio entre
o corpo e o espírito gerador de tendências rivais, duma irredutibilidade notória,
que põe em perigo a liberdade, a paz, o sossego público e a dignidade humana.
Acrescente-se a perda da saúde
corporal e espiritual como resultado fatal, e vejamos se
isso não oferece motivo de sobra para bradar forte e insistentemente contra
este mal universalmente espalhado.
Foge, pois, querido discípulo, de
semelhantes extremos e dai ao corpo e ao espírito o que a um e a outro
corresponde.
O espírito tem que cumprir, encarnado
na Terra, a importantíssima missão de desenvolver e por em ação suas
faculdades; de contribuir, em diferentes ordens, para a realização do plano
divino, na grande obra da evolução. Para esse fim, como veículo de manifestação,
como instrumento de ação, necessita do corpo e se este não se achar de perfeita
saúde, em bom estado de funcionamento, comprometida está a missão do espírito,
cuja ação se torna deficiente e improdutiva, contraproducente muitas vezes.
Ao corpo, em verdade, como vês, se
devem dar satisfações; porém, nada mais do que aquelas que, legitimamente,
exija a sua natureza não viciada: nutrição sã e adequada, em quantidade suficiente,
nem mais nem menos, porque igualmente se prejudica o corpo assim por excesso
como por falta de nutrição. Exclusão de toda satisfação desnecessária, como é o
uso - e mais o abuso - do tabaco, do ópio, das bebidas alcoólicas, os
refinamentos da mesa, etc., etc. Desta maneira se favorece ao corpo e se
beneficia o espírito. O interesse de ambos é o mesmo. Os excessos que enfermam
o corpo enfermam também o espírito. Pois se é pecado cometido por este! Por
isso, em boa justiça, sobre ele têm que recair as consequências. O
transbordamento das paixões e os fanatismos, que são enfermidades do espírito,
repercutem no corpo e o enfermam também, expiando o espírito, nesta
enfermidade, seus pecados, que o fazem sofrer e lhe retardam o progresso. Há
perfeita solidariedade entre o corpo e o espírito, não ocorrendo a um nada que
não afete ao outro.
Tanto ao corpo como ao espírito se
pode e se deve castigar; porém, não da forma como o fizeram e fazem certos místicos
e fanáticos religiosos, sujeitando-o a prolongados jejuns, a privações de
coisas essenciais ao seu sustento e aplicando-lhe disciplinas e cilícios
rigorosos. A violência para com o corpo só se justifica se se lhe regateiam,
ou, melhor, se se lhe negam em absoluto os prazeres doentios da gula, da luxúria,
da negligência, da inclinação a certos vícios, excessos e paixões desordenadas,
que com frequência se apoderam do homem. Destas violências perseverantes e
sustentadas com firmeza lucram o corpo e a alma: o corpo, porque o purificam,
sublimam e lhe melhoram o estado de saúde e a alma, porque, graças ao seu
esforço, se obtém a vitória, sendo ela o principal agente, de justiça é que
seja a primeira beneficiada. A alma sai da contenda purificada e enobrecida e com
o instrumento, corpo, em melhor disposição para o serviço.
Por bons motivos, certamente, Deus,
ao criar os corpos, sujeitou o funcionamento, o
crescimento e a conservação deles a certas leis. Pois bem, cumprir essas leis é
fazer a vontade divina e, portanto, obra santa. Conculcá-las (espezinha-las) é faltar à lei de
Deus, rebelar-se contra a vontade do Supremo Criador e, por conseguinte, fazer
obra má.
Só é admissível que se castigue o
corpo quando em benefício da saúde ou do bem alheio, físico ou espiritual. Também
quando, em cumprimento do mandato divino, se expõe a saúde e a vida,
chegando-se mesmo à perda desta, procede-se cristãmente, pratica-se um ato
plausível e altamente meritório, porque nessa maneira de proceder entram em
jogo a abnegação e o sacrifício, duas virtudes celestes que se convertem em brancas
asas para os espíritos que delas sabem usar a fim de se elevarem às puríssimas regiões
da bem aventurança eterna.
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