Aproveitamento das forças
por Angel
Aquarod
Reformador (FEB) Dezembro 1925
O estudo
da economia é indispensável ao Espírito em evolução na Terra, a fim de que
possa utilizar bem as forças e elementos de que disponha para sua atuação no
planeta.
Falando,
porém, aqui, de economia, não nos referimos à que se ensina nas instituições
docentes da Terra. Aludimos à que o espírita precisa conhecer para o máximo
aproveitamento das forças com que conte.
É de
simples bom senso que, ao tentar-se a realização de um empreendimento, depois
de concebido o projeto, depois de estudado por todas as faces e de pesadas as
vantagens ou desvantagens que possa trazer o empreendimento, importa se reúnam
os elementos indispensáveis à sua execução.
Sem que se faça isso, o fracasso é inevitável.
E não é
senão por descurarem desse trabalho prévio que os espíritas militantes tão
grande número de fracassos contam no desenvolvimento da obra a que se
consagraram.
O Espiritismo
oferece pasto abundante às imaginações ardorosas, que facilmente se deixam
seduzir pelos encantos da realização prática de empreendimentos de maior ou
menor importância. São excelentes, não há negar, os seus propósitos e
abençoadas as suas intenções. Isso, porém, não é suficiente para o êxito. Não
basta que um projeto seja bom. Preciso é também que seja viável, que por bem empregado
se possam dar os esforços que o empreendimento exija ou melhor, que fique
plenamente demonstrado haver mais vantagem na execução da obra intentada do que
no seu adiamento para outros tempos.
Não é raro
esquecerem-se os espíritas de que a doutrina de que são adeptos ainda não
adquiriu desenvolvimento bastante para que à sua sombra se empreendam certas
obras, como raro não é que simultaneamente e sem que os respectivos projetos tenham
passado por amadurecido estudo, vários núcleos se lancem à realização de empreendimentos
idênticos ou semelhantes, descurados dos elementos indispensáveis ao êxito.
Em geral,
apressam-se demais, levados por louvado zelo pelo engrandecimento da doutrina,
traduzindo-se em obras visíveis de maior ou menor vulto. Logo, porém, surgem os
inconvenientes da ideia propugnada e abandonando-se os intentos anunciados com
entusiasmo. Com isso, está claro, nada lucra a doutrina.
Sem dúvida,
o Espiritismo dará nascimento a obras de grande importância e vulto, com o
cunho da elevação que lhe é própria, mas a seu tempo.
Quais,
entretanto, as obras visíveis, de caráter social que já podem se realizar sob a
égide do Espiritismo? Indubitavelmente as de beneficência e de instrução. Assim
o têm entendido os adeptos mais entusiastas da Nova Revelação, tanto que desses
gêneros são as instituições que projetam fundar.
Bom é que
assim aconteça. Cumpre, todavia, que tais propósitos se não generalizem e que
os poucos núcleos que se acham em condições de tornar realidade esse objetivo
não ultrapassem os limites do possível e do razoável.
Não é,
contudo, o que se observa. São em grande número os núcleos que se mostram inclinados
a realizar os mesmos intentos, contando, não com recursos próprios, mas com os
que terceiros lhe ofereçam. Ora, manifesto parece o inconveniente de semelhante
método, cujo resultado é fatigarem-se com exigências contínuas a maiores
esforços, os que podem dar alguma coisa, oferecendo-se lhes por prêmio se seus
sacrifícios uma série de fracassos.
E,
enquanto isso, deveres outros que a doutrina impõe a todos os seus adeptos e
aos núcleos de crentes, deveres a cuja observância importa que uns e outros se
consagrem escrupulosamente, ficaram esquecidos. Esses deveres são os de contribuírem, todos, por seus
esforços e meios que lhe estejam ao alcance, para aumentar, em si e nos outros,
a cultura doutrinária, assentando sobre bases indestrutíveis os elementos
componentes do organismo espírita para que a toda parte sejam levados os
ensinos dos Espíritos, de modo que ninguém fique ignorante do que ela proclama,
do que dela podem que é a Nova Revelação, dos princípios esperar os indivíduos
e as sociedades e dos benefícios que proporciona aos que a conhecem, sentem e
praticam.
Distrair
para outros efeitos as forças, de que disponham, é desperdiçá-las.
Para a
propaganda doutrinária dispõem os núcleos espíritas das copiosas obras a que o
Espiritismo tem dado origem, para oferece-las aos que queriam instruir-se das
sessões de estudo: para a prática da beneficência dispõem das faculdades
mediúnicas de alguns de seus membros, mediante as quais podem restituir a saúde
aos que a perderam e dispõem das contribuições pecuniárias com que essa obra
possam concorrer os que a compõem.
Para a
instrução da infância e mocidade, dispõem do recurso do instituírem aulas
especiais, onde se ensine a doutrina espírita, sob seus aspectos, filosóficos e
moral religiosos. Essas aulas não reclamam grandes dispêndios para serem
criadas e podem sempre funcionar em dias e horas que não obstem ao
comparecimento dos que as ajam de frequentar, nas escolas oficiais ou
particulares, onde vão beber os conhecimentos que nelas se ministram.
Desse modo
de praticar a beneficência ou a caridade podem lançar mão, com relativa
facilidade, todos os núcleos espíritas visto que ao alcance de todos estão os
meios indispensáveis para isso, acrescendo que o desempenho dessa tarefa não impede o cumprimento dos outros
deveres que a doutrina prescreve a seus adeptos e às agremiações por eles
formadas.
Embora
ainda não sejam tantas quantos se desejam, já por toda parte há escolas que
facilitam às crianças e aos jovens instruírem-se nas matérias que formam o
curso elementar de ensino, pondo-as em condições de mais tarde ampliarem seus
conhecimentos, de acordo com as suas vocações. As escolas espíritas, portanto,
deverão ter por fim apenas ministrar a essas mesmas crianças e jovens a
instrução moral cristã, na conformidade da doutrina dos Espíritos, o
conhecimento do ideal que lhes inspirou a fundação. As de outro gênero só deverão
cuidar de fundá-las os núcleos espíritas que o possam fazer, tão somente para
atender à necessidade da instrução nos bairros e nas povoações que não as possuam
e onde, conseguintemente, as crianças não podem sair das trevas da ignorância completa.
Fora
destes casos especiais, afigura-se nos não haver motivo para que todos os
núcleos espíritas se preocupem com a fundação de escolas para instrução primária
e secundária. Basta se preocupem com oferecer às crianças o pão do Espírito e
isto todos o podem fazer abundantemente.
No
tocante a instituições de beneficência, certo não se contam ainda tantas
quantas são precisas e nem todas as que existem correspondem ao ideal cristão,
a que se acha vinculada a verdadeira caridade. Muitas instituições desse
gênero, porém, já existem que, melhoradas, aperfeiçoadas, satisfariam, em
escala bastante considerável, à necessidade da assistência aos indigentes e
sofredores. Incontestavelmente, mais fácil seria para os espíritas a tarefa de
amparar e melhorar as instituições já fundadas com esse caráter, ou que venham
a fundar-se, do que criar outras, responsabilizando por elas, ante o mundo, o
Espiritismo.
Sabe-se
que não é com os filantropos abastados, com os que empregam grandes capitais na
fundação e manutenção de instituições de beneficência, que as fileiras espíritas
se engrossam. Ao contrário, em geral são pobres de bens materiais os adeptos da
Nova Revelação. Assim sendo, claro é que todos os empreendimentos, da natureza
das instituições de que tratamos, por eles tentados se ressentirão sempre da
falta de recursos para sua manifestação. Para sua manutenção, quando cheguem a
efetivar-se do que resulta estarem de princípio condenados a fracassos
comprometedores do prestígio da doutrina.
De
tais fracassos não há duvidar, desde que somente de boa vontade disponham os núcleos
que se abalancem, assim no campo do ensino, como no da
beneficência, a semelhantes empresas
que, ainda quando sejam suficientes os recursos financeiros, exigem
trabalhadores em grande número, devotados
e capazes, além de extrema atenção e cuidado
com enorme dispêndio de energias.
Ao
fracasso se juntará uma perda imensa de forças que, bem empregadas, na medida
do possível, a favor do ideal, teriam produzido efeitos importantíssimos.
A observação
dos fatos já ocorridos mostra que toda vez que entidades
Espíritas hão tentado a realização de empreendimentos
da ordem dos que tratamos, tudo quanto a doutrina mais reclama de seus adeptos foi
posto de lado, pela necessidade de fazer convergir todas as atenções e todos os
esforços para a obra tentada.
Em sobrevindo
o fracasso, que é o com que as mais das vezes deve contar, enormemente sofrerá
o núcleo, se não chegar mesmo a dissolver-se, por efeito dos desgostos e
decepções decorrentes do malogro. Se este não se der, quase sempre mesquinha
será a instituição resultante dos ingentes esforços empregados, instituição que,
por conseguinte, em nada contribuirá para o prestígio de uma causa da
importância do Espiritismo, redundando mesmo a sua manutenção em prejuízo da
ideia que este consubstancia, porquanto ele ficará desatendido nos seus mais
importantes aspectos.
Quer
parecer que ainda não chegou o tempo dos espíritas consagrarem seus esforços à
fundação de instituições de ensino, que devem continuar principalmente a cargos
dos poderes públicos, nem de instituições de beneficência nos moldes das que já
existem com caráter oficial ou sob o patronato de confissões religiosas. A
situação em que se encontra o Espiritismo não permite que seus adeptos empreguem
as forças de que disponham em empresas de tal natureza.
Por enquanto,
o que há de mais aconselhável, para o melhor aproveitamento dessas forças, é
que os núcleos espíritas, em geral, se limitem, ao cultivo da doutrina, à sua
difusão, ao fortalecimento dos mesmos núcleos para lhe assegurar a inextinguibilidade.
Dentro
desses limites, cabe perfeitamente o que dissemos acima relativamente à assistência
moral e à instrução espírita das crianças e dos jovens.
Faz-se
mister o aproveitamento de todas as forças existentes no campo do
Espiritismo, para que o ideal espírita cada
vez mais esplendente se mostre e em condições de exercer a influência social
que lhe compete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário