A bebida mortal
Redação
Reformador (FEB) Dezembro 1925
Ao dar
a seus apóstolos e discípulos as últimas instruções, antes de desaparecer
definitivamente de suas vistas humanas e voltar às regiões superiores donde
dirige e governa o nosso mundo e a humanidade terrena, disse Jesus, entre
outras coisas: “Aos que crerem acompanharão
estes milagres; expulsarão os demônios em meu nome; falarão novas línguas; segurarão
a serpente com as mãos e se tomarem alguma bebida mortal, esta nenhum mal lhe fará”.
Falando
quase sempre por parábolas e por símbolos, como lh'o impunham as necessidades
daquela época e o estado das inteligências dos que o ouviam, Jesus, compondo em
poucos termos uma imagem material singela, oferecia aos homens ensinamentos de
uma profundeza que, obscurecidos pela carne, os nossos Espíritos, ainda agora,
só muito imperfeitamente podem alcançar.
É o
que mais uma vez se nos depara nesta figura de extrema simplicidade com que ele
simbolizou o poder extraordinário, formidável da fé, como a ensinou e
exemplificou em todo o curso da sua
missão messiânica: “Os que crerem
segurarão com as mãos a serpente e, se tomarem alguma bebida mortal, esta
nenhum mal
lhes fará.”
De
novo se apresenta aqui a serpente corno símbolo do mal. Tendo que dali partir,
para desempenharem a missão em que ele os investia - a de pregarem
pelo mundo o Evangelho a todas as criaturas,
iam os discípulos pôr-se em contato com a serpente de mil cabeças, pelas quais
instila os venenos mortíferos dos vícios, paixões e misérias, que taravam e ainda
taram a pobre humanidade. Eles, porém, criam, tinham a fé viva e pura lhes
garantia a assistência continua do Espírito Santo, isto é, dos Espíritos puros,
dos Espíritos superiores, dos Espíritos elevados, que são os ministros do Senhor,
agentes da misericórdia divina. Tanto bastaria, afirmava-lhes o divino Mestre,
para que nenhum mal lhes causasse a peçonha do temível réptil e, mais ainda, para que
o segurassem com as mãos, o dominassem, livrando-se de suas terríveis
mordeduras.
Tampouco,
mal algum lhes faria essa bebida mortal que tanto prazer dá ao homem- a
lisonja, que alimenta a vaidade,
filha primogênita do orgulho, principal tropeço ao progresso do Espírito.
Era
de certo a esse outro veneno que aludia Jesus, quando dizia: “Se alguma bebida
mortal tomarem (os que crerem), ela nenhum mal lhes fará.”
Pela
fé, estariam preservados, mas não pela fé que só existe nos lábios. A fé que
preserva da peçonha do monstro de tantas cabeças quantas são as causas de
queda, de pecado para o homem, é a fé como a tinham os apóstolos, a que assenta na humildade, a que só reconhece
poder no Criador e no seu Cristo, que dele o recebeu para tudo quanto respeita
ao nosso mundo; a que repete sinceramente com Jesus, que a personificava: só
Deus é bom, porque só Ele é absolutamente perfeito.
Quando,
como os discípulos do Mestre divino, todos os homens abrigarem nos seus corações
a fé qual na amplitude infinita do seu poder; Jesus, a mostrava, a serpente do
orgulho, do egoísmo, da vaidade, de todos os vícios e paixões que degradam a
humanidade e que daqueles derivam, estará banida da Terra, onde só viverão
mansas ovelhas do rebanho do divino Pastor.
De
que esse dia chegará, de que não vem por demais longe, temos a certeza, pela fé
plena que depositamos nas promessas do mesmo Jesus.
E
tanto mais pronto serão seu advento, quanto mais depressa os novos discípulos
do Cristo, os espíritas cristãos se revelarem possuidores dessa fé, se mostrarem
verdadeiros crentes do Evangelho, que lhes incumbe a eles pregar agora pelo
mundo, e o pregarem demonstrando que dominaram por completo a infernal serpente
e se imunizaram contra aquela mortal bebida.
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