Nos domínios da fé - 1
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB)
Julho 1925
“Aquele que persevera
até ao fim será salvo”. Jesus
Do mundo das inspirações benfazejas, em hora de
meditação, quando a alma do crente, na contrição da prece, se transporta às regiões
espirituais, em vibrações de amor, lhe transitam pela imaginação, plenas de luz
e de harmonia, sugestivas melodias, portadoras do convite que os mensageiros do
Alto dirigem aos viajores da Terra, dizendo-lhes: -
“Trabalhemos para a Vida
Com os olhos fitos no Além,
Porque o instante da partida,
Certamente, a todos vêm.
A Terra não nos pertence,
Quem a palmilha, contrito,
Vivendo para o Alto, vence
Etapas pelo Infinito !..
Acatando esse convite que os Trabalhadores Invisíveis nos
dirigem, vamos trabalhar para a verdadeira vida.
Façamos a melhor jornada. Dispostos a sacrifícios,
confiemos na palavra divina, ouvindo a promessa do Cristo às gerações que, em
surtos e quedas, ora na
Terra, ora no
espaço, fazem trânsito pelo mundo.
Trabalhemos estimulados pelas exortações animadoras do “Filho
do Homem”, quando, em contato terreno com a turba, iniciando a era cristã,
visando a humanidade de todos os tempos, carinhosamente dizia: - “Aquele que
perseverar até ao fim será salvo!”
Nesse aviso, temos sentença e recompensa: sentença em
virtude da qual se dermos mau emprego ao exercício da vida, em prejuízo do
próximo e, por conseguinte, da lei de amor: - Amai-vos uns aos outros - o futuro
nos será de expiadoras aflições; recompensa que, prometedora de melhores dias aos
dedicados executores das instruções cristãs, garante ao homem ativo e esforçado
na realização de obras meritórias, soberana paz nos santuários da eternidade,
onde os que se sacrificam por amor à justiça, tranquilidade e progresso de seus
semelhantes, vencendo, em etapas luminosas para as mais altas regiões, os
mundos inferiores, destinados à vida embrionária da humanidade confusa, libertos
da imperfeição, livres da ignorância, invulneráveis às sugestões orgulhosas dos
estacionários e rebeldes, sentir-se-ão felizes, plenamente remunerados, ao cêntuplo,
das aspirações mantidas através de todas as lutas.
Quem persevera até o fim tem direito a essa remuneração,
porque, perseverar no Bem, praticando-o de ânimo forte, superior as instigações
contrárias, sem esmorecimentos, sem recuar das dificuldades e provas que exigem
muito amor, resignação, tolerância e inquebrantável fé, é crescer para a vida eterna,
florir para Jesus, para o regaço da Divindade, numa grande paz, inesgotável e santa,
abençoada pelo Senhor; é realizar etapas luminosas, conquistando, em gloriosa
ascensão, farta recompensa portadora de perpétua felicidade e de maiores possibilidades,
para as escaladas do progresso e da sabedoria nos departamentos do Infinito.
Não perseverar, afastar-se do dispositivo em que a fé se
caracteriza por força da demonstração paciente, deixando-se ficar inerte e
duvidoso, sem coragem
Para a luta, sem
as energias do esforço, da crença, bem provada, para a vitória moral, é
recusar-se ao caminho da espiritualidade, patenteando falta de confiança na
Providência divina; é não querer aceitar a assistência heroica e magnânima do
Cristo, nascendo numa manjedoura, irmanando-se aos pobres, acolhendo-os para
seus discípulos, sorrindo, com indulgência, aos seus detratores e perdoando a
seus verdugos, nos braços de um madeiro.
Destarte, quem se não irmana à alma simples dos viajores
obscuros, tratando-os com carinho, imitando-os na modéstia; quem se não faz
complacente e tolerante, olvidando ofensas, orando por seus desafetos, para
todos pedindo a misericórdia do Senhor; quem se revolta e blasfema, cuidando,
na hora do sofrimento e das provações necessárias, que melhor fora não ter
nascido, deserta, lamentavelmente, as estâncias da fé, precipitando-se na
voragem da descrença, do desespero e do
desânimo - despenhadeiro horrível em que o homem se não contenta com a promessa
do reino espiritual e onde os aflitos d'alma, por não terem conseguido posições
distintas, que os trabalhadores cristãos jamais pleiteiam, não raro e deixam
arrastar, desorientados e cegos às soturnas regiões do suicídio, em cujo âmbito
vão despertar, atônitos e confusos, para a jornada do arrependimento.
Quem assim proceda, afastando-se ingloriamente do caminho
da perseverança, não se poderá livrar da sentença reservada aos que não
souberem perseverar até ao fim; mas, ao tropeçar na pedra tumular, depois de
haver entregue ao seio da “mãe comum” os despojos materiais, verificará que
melhor fora perseverar, porque as dores e dificuldades, bem sofridas na
travessia terrena, purificam o Espírito, aproximando-o da mansão divina, do
reino anunciado por Jesus, para que possa
receber na hora propícia a recompensa que o Senhor reserva aos servidores
fieis.
Abandonar, por conseguinte, o caminho de perseverança, continência,
resignação, simplicidade e tolerância, é contrapor-se à lei divina; é
recusar-se à prova de disciplina espiritual, negando-se à obra edificadora, à
sujeição meritória que, para exemplo aos viajores do mundo, o Cristo abnegadamente
realizou, enaltecendo-se, por isso, nas fileiras humildes e obscuras dos pescadores
e necessitados.
Trabalhemos, pois, modelados pelo divino Mestre,
desenvolvendo atividade produtora de frutos que alimentem o Espírito.
Desse modo, estimulando e fortalecendo os necessitados de
ânimo, conseguiremos perseverar até o fim, colhendo e distribuindo energias sãs
e perfeitas, garantidoras de paz.
Nos domínios da fé - 2
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB) Setembro
1925
“Não queiras para outrem o que rejeitarás, se te
quisessem dar...”
Cuidemos de nosso dever perante Deus,
deixando-nos guiar pelo sopro inspirador dos emissários que o divino Mestre
orienta e dirige para edificação da humanidade.
Não nos afastemos da norma que nos
seja traçada por esse critério superior, convindo, para esse fim, não
descuidarmos o presente, perdendo o tempo em indagações e conjecturas vãs, preocupando-nos
com o que nos possa advir e entregando-nos à voragem do pavor ante a dolorosa
expectativa do amanhã sombrio...
O presente pertence a quem o faz, o
futuro a quem o prepara e distribui para as vidas que transitam em todos os
departamentos e moradas do Infinito. O acorda de novo dia, para o que desperta,
não depende da vontade do homem: determina-o a Sabedoria Divina, que o
regulariza, recompensando a atividade meritória de quantos se encartam na
existência, e não o trabalho egoístico dos ambiciosos que, esquecidos de
nobilitarem o presente, tornam-se para a sociedade improdutivos e indesejáveis.
Deus, premiando aos que se esforçam
e ajudam na prática do amor fraterno, garante o futuro do viajor que o atende e
se sabe contentar como o que lhe é permitido em cada dia da vida, dizendo-lhe: “Não queiras para outrem o que rejeitarás se
te quiserem dar.”
Quem se descuida do amor ao próximo, blasfemando na
adversidade, tornando-se, na abastança, indiferente aos que necessitam e
sucumbem, humildemente, nos tentáculos da miséria; quem não faz bom uso do que
recebe em obras de merecimento, por entender que, desse modo, deixará de
acautelar os interesses pessoais; imprevidente e inútil para a coletividade;
diante do tribunal divino, é semelhante à criança que constrói sobre a areia em
castelo de cartas, a mercê do vento que o arrebata e o distribui pelos ares...
O homem que se não esquece do dever, impulsionado pelos
sentimentos do bem, propelido para os domínios da fé – âmbito de luz garantidor
de paz – constrói montanhas de felicidade – indestrutíveis rochas e, assim,
meritoriamente, trabalha o dia que lhe é dado viver.
Orando e vigiando, portanto, não nos afastemos dessa rota
que se vai desenhando, para não suceder que as emboscadas dos estacionários, a
se fazerem ricos para a vida passageira e pobres para as alvoradas futuras na
evolução eterna do Espírito, nos venham determinar a queda, por meio de maus
conselhos ditados pela cegueira da alma, pelas sugestões que nos despertem
ambições desmedidas, propelindo-nos ao despenhadeiro em que, rolando para a
escuridão do túmulo e para a agonia da existência errante no prisma espiritual,
também nos precipitaremos em tenebroso abismo...
Quem cumpre o seu dever semeia para o futuro e para ele
armazena frutos que o sustentem, distribuindo boas ações e amando ao presente que
lhe seja concedido pela Divindade.
Nos domínios da fé - 3
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB) Outubro
1925
“Ajuda-te que o Céu
te ajudará”
Vence de ânimo forte as dificuldades da vida quem se não
afasta da moral Cristã e nela procura equilibrar-se, alheando se do convencionalismo
dos homens para se não escravizar às atrações materiais.
Na hora do sofrimento, das acerbas desilusões, quando a
alma do que padece é experimentada, em sua resistência, pelos retardatários que
a alvejem, não sucumbe o que se entrega à misericórdia do Senhor porque, amparado
pelos protetores espirituais, na guerra que lhe ofereçam os inimigos da Luz, inspirando-se
no Mártir do Calvário, para suportar resoluto as supremas investidas contrárias
que lhe venham colocar em prova a fortaleza moral, fortalecido, se ente amparado
pela ação benéfica dos mensageiros do Alto, aparelhando-o para vitoriosamente
resistir às lutas que se desenhem.
O trabalho na vida terrena é áspero e bruto, mormente
para o homem que
se esforça,
desejoso de realizar existência cristã e desse objetivo se não distancia,
preferindo, para mantê-lo, renunciar aos bens garantidores da fortuna material,
quando a posse destes, resultando em prejuízo coletivo, lhe venha conturbar a
pureza dos sentimentos, comprometendo-o perante o tribunal da consciência e
invalidando-o para o convívio simples e pacífico dos que se alteiam nas veredas
da fraternidade, recolhendo
as bênçãos do Senhor.
Difícil, em verdade, a execução dessa tarefa; mas quem
não se desvia desse
critério modelado
pelo “Filho do homem”- Jesus de Nazaré - que, para nortear o espírito humano à
conquista do prometido reino espiritual, nasceu em condição humilde, preferindo
para seu progenitor um carpinteiro, a fim de demonstrar que o operário, em seu trabalho
honesto, tem mais valor que o rico de ouro e pobre de sentimento; quem não
afasta dessa diretriz não conhece barreira nem mortificação capazes de lhe
amortecerem o vigor e anseios progressistas; antes, acionado pela fé, que se
não caracteriza unicamente pela prece, porque – “nem todos os que dizem Senhor!
Senhor! entrarão no reino do céus” - inspirando-se no divino Mestre, para se não
desviar da prática do bem, sentir-se-á tranquilo e bem disposto, sempre apto
para vencer na trajetória do progresso.
O homem de fé não perde nunca a esperança de melhores dias.
Em situação precária, na miséria, na enfermidade, na hora acerba dsa fundas agonias,
sente-se amparado pela caridade do Alto, que lhe transmite o alento renovador
das energias inquebrantáveis, dando-lhe coragem e perseverança para não esmorecer
na lutas. Então, a voz serena e persuasiva dos Instrutores divinos lhe vem dizer:
“A impaciência é inimiga da evolução; originando-se da ignorância, impossibilita
o progresso do Espírito, precipitando-o na violência, na exteriorização do
orgulho que o desorienta e propele ao desespero, em cujo reduto, estacionário e
insano, vomitando para o infinito a gargalhada rebelião, semeia ventos que passam o fermento das tempestades...”
O homem de fé assim não procede, isto é, como o que semeia
ventos... Ao contrário, modelando-se
pelo Cristo, amando e distribuindo frutos de amor, de paciência e harmonia, com
exemplos que edificam, trabalha, espera e progride sempre. Trabalha quanto
pode, dentro da esfera de ação que lhe esteja determinada, para o bem comum;
não visa recompensa aos benefícios que derrama e, deste modo, entregando-se à
proteção divina, realiza a maior das fortunas que consiste, unicamente, na paz
espiritual, pela consciência do dever cumprido.
Assim vive o homem de fé. De outro modo não deve agir o espírita
cristão, pois, o que desta arte não procede deixa de cumprir o dispositivo
divino: “Ajuda-te que o Céu te ajudará.”
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