terça-feira, 3 de setembro de 2019

Nos domínios da fé







Nos domínios da fé - 1
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB) Julho 1925

“Aquele que persevera até ao fim será salvo”. Jesus

Do mundo das inspirações benfazejas, em hora de meditação, quando a alma do crente, na contrição da prece, se transporta às regiões espirituais, em vibrações de amor, lhe transitam pela imaginação, plenas de luz e de harmonia, sugestivas melodias, portadoras do convite que os mensageiros do Alto dirigem aos viajores da Terra, dizendo-lhes: -

“Trabalhemos para a Vida
Com os olhos fitos no Além,
Porque o instante da partida,
Certamente, a todos vêm.

A Terra não nos pertence,
Quem a palmilha, contrito,
Vivendo para o Alto, vence
Etapas pelo Infinito !..

Acatando esse convite que os Trabalhadores Invisíveis nos dirigem, vamos trabalhar para a verdadeira vida.

Façamos a melhor jornada. Dispostos a sacrifícios, confiemos na palavra divina, ouvindo a promessa do Cristo às gerações que, em surtos e quedas, ora na
Terra, ora no espaço, fazem trânsito pelo mundo.

Trabalhemos estimulados pelas exortações animadoras do “Filho do Homem”, quando, em contato terreno com a turba, iniciando a era cristã, visando a humanidade de todos os tempos, carinhosamente dizia: - “Aquele que perseverar até ao fim será salvo!”

Nesse aviso, temos sentença e recompensa: sentença em virtude da qual se dermos mau emprego ao exercício da vida, em prejuízo do próximo e, por conseguinte, da lei de amor: - Amai-vos uns aos outros - o futuro nos será de expiadoras aflições; recompensa que, prometedora de melhores dias aos dedicados executores das instruções cristãs, garante ao homem ativo e esforçado na realização de obras meritórias, soberana paz nos santuários da eternidade, onde os que se sacrificam por amor à justiça, tranquilidade e progresso de seus semelhantes, vencendo, em etapas luminosas para as mais altas regiões, os mundos inferiores, destinados à vida embrionária da humanidade confusa, libertos da imperfeição, livres da ignorância, invulneráveis às sugestões orgulhosas dos estacionários e rebeldes, sentir-se-ão felizes, plenamente remunerados, ao cêntuplo, das aspirações mantidas através de todas as lutas.

Quem persevera até o fim tem direito a essa remuneração, porque, perseverar no Bem, praticando-o de ânimo forte, superior as instigações contrárias, sem esmorecimentos, sem recuar das dificuldades e provas que exigem muito amor, resignação, tolerância e inquebrantável fé, é crescer para a vida eterna, florir para Jesus, para o regaço da Divindade, numa grande paz, inesgotável e santa, abençoada pelo Senhor; é realizar etapas luminosas, conquistando, em gloriosa ascensão, farta recompensa portadora de perpétua felicidade e de maiores possibilidades, para as escaladas do progresso e da sabedoria nos departamentos do Infinito.

Não perseverar, afastar-se do dispositivo em que a fé se caracteriza por força da demonstração paciente, deixando-se ficar inerte e duvidoso, sem coragem
Para a luta, sem as energias do esforço, da crença, bem provada, para a vitória moral, é recusar-se ao caminho da espiritualidade, patenteando falta de confiança na Providência divina; é não querer aceitar a assistência heroica e magnânima do Cristo, nascendo numa manjedoura, irmanando-se aos pobres, acolhendo-os para seus discípulos, sorrindo, com indulgência, aos seus detratores e perdoando a seus verdugos, nos braços de um madeiro. 

Destarte, quem se não irmana à alma simples dos viajores obscuros, tratando-os com carinho, imitando-os na modéstia; quem se não faz complacente e tolerante, olvidando ofensas, orando por seus desafetos, para todos pedindo a misericórdia do Senhor; quem se revolta e blasfema, cuidando, na hora do sofrimento e das provações necessárias, que melhor fora não ter nascido, deserta, lamentavelmente, as estâncias da fé, precipitando-se na voragem da descrença, do desespero e do desânimo - despenhadeiro horrível em que o homem se não contenta com a promessa do reino espiritual e onde os aflitos d'alma, por não terem conseguido posições distintas, que os trabalhadores cristãos jamais pleiteiam, não raro e deixam arrastar, desorientados e cegos às soturnas regiões do suicídio, em cujo âmbito vão despertar, atônitos e confusos, para a jornada do arrependimento.

Quem assim proceda, afastando-se ingloriamente do caminho da perseverança, não se poderá livrar da sentença reservada aos que não souberem perseverar até ao fim; mas, ao tropeçar na pedra tumular, depois de haver entregue ao seio da “mãe comum” os despojos materiais, verificará que melhor fora perseverar, porque as dores e dificuldades, bem sofridas na travessia terrena, purificam o Espírito, aproximando-o da mansão divina, do reino anunciado por Jesus, para que possa receber na hora propícia a recompensa que o Senhor reserva aos servidores fieis.

Abandonar, por conseguinte, o caminho de perseverança, continência, resignação, simplicidade e tolerância, é contrapor-se à lei divina; é recusar-se à prova de disciplina espiritual, negando-se à obra edificadora, à sujeição meritória que, para exemplo aos viajores do mundo, o Cristo abnegadamente realizou, enaltecendo-se, por isso, nas fileiras humildes e obscuras dos pescadores e necessitados.  

Trabalhemos, pois, modelados pelo divino Mestre, desenvolvendo atividade produtora de frutos que alimentem o Espírito.

Desse modo, estimulando e fortalecendo os necessitados de ânimo, conseguiremos perseverar até o fim, colhendo e distribuindo energias sãs e perfeitas, garantidoras de paz.

Nos domínios da fé - 2
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB) Setembro 1925

“Não queiras para outrem o que rejeitarás, se te quisessem dar...”

            Cuidemos de nosso dever perante Deus, deixando-nos guiar pelo sopro inspirador dos emissários que o divino Mestre orienta e dirige para edificação da humanidade.

            Não nos afastemos da norma que nos seja traçada por esse critério superior, convindo, para esse fim, não descuidarmos o presente, perdendo o tempo em indagações e conjecturas vãs, preocupando-nos com o que nos possa advir e entregando-nos à voragem do pavor ante a dolorosa expectativa do amanhã sombrio...

            O presente pertence a quem o faz, o futuro a quem o prepara e distribui para as vidas que transitam em todos os departamentos e moradas do Infinito. O acorda de novo dia, para o que desperta, não depende da vontade do homem: determina-o a Sabedoria Divina, que o regulariza, recompensando a atividade meritória de quantos se encartam na existência, e não o trabalho egoístico dos ambiciosos que, esquecidos de nobilitarem o presente, tornam-se para a sociedade improdutivos e indesejáveis.

            Deus, premiando aos que se esforçam e ajudam na prática do amor fraterno, garante o futuro do viajor que o atende e se sabe contentar como o que lhe é permitido em cada dia da vida, dizendo-lhe: “Não queiras para outrem o que rejeitarás se te quiserem dar.”

Quem se descuida do amor ao próximo, blasfemando na adversidade, tornando-se, na abastança, indiferente aos que necessitam e sucumbem, humildemente, nos tentáculos da miséria; quem não faz bom uso do que recebe em obras de merecimento, por entender que, desse modo, deixará de acautelar os interesses pessoais; imprevidente e inútil para a coletividade; diante do tribunal divino, é semelhante à criança que constrói sobre a areia em castelo de cartas, a mercê do vento que o arrebata e o distribui pelos ares...

O homem que se não esquece do dever, impulsionado pelos sentimentos do bem, propelido para os domínios da fé – âmbito de luz garantidor de paz – constrói montanhas de felicidade – indestrutíveis rochas e, assim, meritoriamente, trabalha o dia que lhe é dado viver.

Orando e vigiando, portanto, não nos afastemos dessa rota que se vai desenhando, para não suceder que as emboscadas dos estacionários, a se fazerem ricos para a vida passageira e pobres para as alvoradas futuras na evolução eterna do Espírito, nos venham determinar a queda, por meio de maus conselhos ditados pela cegueira da alma, pelas sugestões que nos despertem ambições desmedidas, propelindo-nos ao despenhadeiro em que, rolando para a escuridão do túmulo e para a agonia da existência errante no prisma espiritual, também nos precipitaremos em tenebroso abismo...

Quem cumpre o seu dever semeia para o futuro e para ele armazena frutos que o sustentem, distribuindo boas ações e amando ao presente que lhe seja concedido pela Divindade.
  
Nos domínios da fé - 3
por Luiz de Oliveira
Reformador (FEB) Outubro 1925

“Ajuda-te que o Céu te ajudará”

Vence de ânimo forte as dificuldades da vida quem se não afasta da moral Cristã e nela procura equilibrar-se, alheando se do convencionalismo dos homens para se não escravizar às atrações materiais.

Na hora do sofrimento, das acerbas desilusões, quando a alma do que padece é experimentada, em sua resistência, pelos retardatários que a alvejem, não sucumbe o que se entrega à misericórdia do Senhor porque, amparado pelos protetores espirituais, na guerra que lhe ofereçam os inimigos da Luz, inspirando-se no Mártir do Calvário, para suportar resoluto as supremas investidas contrárias que lhe venham colocar em prova a fortaleza moral, fortalecido, se ente amparado pela ação benéfica dos mensageiros do Alto, aparelhando-o para vitoriosamente resistir às lutas que se desenhem.

O trabalho na vida terrena é áspero e bruto, mormente para o homem que
se esforça, desejoso de realizar existência cristã e desse objetivo se não distancia, preferindo, para mantê-lo, renunciar aos bens garantidores da fortuna material, quando a posse destes, resultando em prejuízo coletivo, lhe venha conturbar a pureza dos sentimentos, comprometendo-o perante o tribunal da consciência e invalidando-o para o convívio simples e pacífico dos que se alteiam nas veredas da fraternidade, recolhendo as bênçãos do Senhor.

Difícil, em verdade, a execução dessa tarefa; mas quem não se desvia desse
critério modelado pelo “Filho do homem”- Jesus de Nazaré - que, para nortear o espírito humano à conquista do prometido reino espiritual, nasceu em condição humilde, preferindo para seu progenitor um carpinteiro, a fim de demonstrar que o operário, em seu trabalho honesto, tem mais valor que o rico de ouro e pobre de sentimento; quem não afasta dessa diretriz não conhece barreira nem mortificação capazes de lhe amortecerem o vigor e anseios progressistas; antes, acionado pela fé, que se não caracteriza unicamente pela prece, porque – “nem todos os que dizem Senhor! Senhor! entrarão no reino do céus” - inspirando-se no divino Mestre, para se não desviar da prática do bem, sentir-se-á tranquilo e bem disposto, sempre apto para vencer na trajetória do progresso.

O homem de fé não perde nunca a esperança de melhores dias. Em situação precária, na miséria, na enfermidade, na hora acerba dsa fundas agonias, sente-se amparado pela caridade do Alto, que lhe transmite o alento renovador das energias inquebrantáveis, dando-lhe coragem e perseverança para não esmorecer na lutas. Então, a voz serena e persuasiva dos Instrutores divinos lhe vem dizer: “A impaciência é inimiga da evolução; originando-se da ignorância, impossibilita o progresso do Espírito, precipitando-o na violência, na exteriorização do orgulho que o desorienta e propele ao desespero, em cujo reduto, estacionário e insano, vomitando para o infinito a gargalhada rebelião, semeia ventos que passam o fermento das tempestades...”  

O homem de fé assim não procede, isto é, como o que semeia ventos... Ao contrário, modelando-se pelo Cristo, amando e distribuindo frutos de amor, de paciência e harmonia, com exemplos que edificam, trabalha, espera e progride sempre. Trabalha quanto pode, dentro da esfera de ação que lhe esteja determinada, para o bem comum; não visa recompensa aos benefícios que derrama e, deste modo, entregando-se à proteção divina, realiza a maior das fortunas que consiste, unicamente, na paz espiritual, pela consciência do dever cumprido.

Assim vive o homem de fé. De outro modo não deve agir o espírita cristão, pois, o que desta arte não procede deixa de cumprir o dispositivo divino: “Ajuda-te que o Céu te ajudará.”

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