Testemunho insuspeito
Redação
Reformador (FEB) Dezembro 1925
Fato curioso
o que se observa entre os adversários do Espiritismo: no pressuposto de combate-lo,
em vez de o aniquilarem, aumentam-lhe o vigor, graças aos livros que publicam. É
o que vamos verificar por alguns trechos a famosa obra - O Espiritismo em face
da Igreja e da História - publicada m 1866 pelo abade Poussin, então professor do seminário de Nice.
“0 Espiritismo,
diz ele, forçoso é reconhece-lo, envolve, como numa rede imensa a sociedade
inteira; pelos seus profetas, oráculo, livros e jornalismo, esforça-se por
minar surdamente a igreja católica. Se nos prestou o serviço destruir as teorias
materialistas do século XVIII, dá-nos em troca uma revelarão nova, que solapa
pela base todo o edifício da revelação cristã.
“O
Espiritismo invade neste momento a humanidade inteira.
"Vários
escritores católicos, forçados a admitir os fatos, não hesitaram em reconhecer
em certos fenômenos do Espiritismo a intervenção direta do demônio. Para eles, o Espiritismo não é senão a
continuação da magia pagã que aparece em Toda, desde os magos do Faraó, a
pitonisa de Endor, os oráculos de Delfos, as profecias das sibilas e dos
adivinhos, até as possessões demoníacas do Evangelho e aos fenômenos extraordinários
e constatados do magnetismo contemporâneo.
“A crença
na existência dos Espíritos e sua intervenção no domínio da nossa vida ou melhor,
o Espiritismo enfim, e a prática da evocação dos Espíritos, almas, anjos ou
demônios, remonta à mais alta antiguidade, são tão velhos quanto o mundo.
“As
sibilas romanas, evocando os mortos, interrogando os Espíritos, não são menos
surpreendentes do que Tirésias e a pitonisa de Endor. Toda Roma se inclinava diante
das decisões dessas profetisas e os maiores generais, antes de combater,
consultavam as videntes, tão lúcidas como as pitonisas da Grécia. Vários santos
padres reconheceram a existência e o valor de seus oráculos. O historiador
Josefo fala dos versos da sibila da torre de Babel; S. Justino, S. Teófilo de
Antioquia; Clemente de Alexandria e outros santos padres os citam e lhes fazem
ilusão.
“Uma
polêmica entre Celso e Orígenes, sobre a interpretação dos oráculos sibilinos parece
provar que sua autenticidade não fora contestada pelos cristãos e vários dentre
estes chamavam sibilistas, acreditavam, como temos dito, no seu valor profético.
“Persuadido
de que um grande número de oráculos sibilinos eram favoráveis às ideias
cristãs, Constantino, no concílio de Nicéia, seguindo o exemplo dos santos
padres, não hesitou em citá-los, seja por seu valor intrínseco, seja pelo menos
como argumento ad hominem.”
O abade
Poussin, depois de haver remontado à antiguidade, para provar que o comércio
com o invisível nada tinha de novo, toma conhecimento do que se há feito a
respeito do Espiritismo contemporâneo e diz:
"Agora,
para resumir e concluir, diremos aqueles que negam a existência e a possibilidade
desses fatos: - Podeis admitir que tantas testemunhas sérias e graves, que estudaram
friamente essas questões, tenham sido enganadas não diremos sobre a natureza ou
essência do fato, mas sobre a realidade exterior do próprio fato? Quando
teólogos, padres, sábios, católicos, como os Ventura, Matignon, Gury e os
redatores da Civiltá Cattolica;
racionalistas inteligentes e instruídos, como Figuier, Coquerel, Gasparin,
bispos como os de Quebec, de Tours, de Mons; missionários como Huc, Bonduel e
outros; quando todos estes Espíritos graves e sérios atestam os fatos mais
insólitos, como podereis sustentar que eles acreditaram ver no que viam, ouvir
o que não escutavam? Será preciso repelir o testemunho dos sentidos, admitir
que vós somente, que negais, tendes razão
e todos os outros, em massa, são os alucinados.
Mais uma
vez ainda: uma mesa que bate, interroga, responde, levanta-se só no ar; uma
invisível e fria mão que aperta a vossa; um lápis que escreve fatos que se
passam à distância, tudo isso nada tem de comum com a arte, agora desvendada,
dos nossos mais hábeis prestidigitadores, e não poderia escapar a velhos
desconfiados e exercitados.
“Racionalista
ou católicos, é mister, de bom ou mal grado, aceitar o grande número desses fatos
estranhos que abalam a ciência e a teologia, as quais buscam penetrar o
mistério.”
*
Ao Espírito
inteligente do abade Poussin não passou despercebida a ação decisiva do Espiritismo
em face do materialismo; a ele devemos, confessa, a destruição das ideias
materialistas do século XVIII; no entretanto, em troca disso, solapa a igreja
católica e mina pela base todo o edifício da revelação cristã.
A força
de expressão, dá a entender que o monumento cristão, os Evangelhos, sofrem abalos
e ameaçam ruir com o advento da revelação dos Espírito. Ora, esta objeção é sem
fundamento, porque é nos Evangelhos que ela tem sua razão ser. O Espiritismo não
veio destruir a lei, mas cumpri-la; a obra do homem, sim, sofre a ação purificadora
que ele exerce. Se a doutrina dos Espíritos solapa a igreja católica, é porque
esta apartou-se do Evangelho: seu objetivo é cristianizá-la.
Infelizmente
predominou no entendimento do professor do seminário de Nice o demonismo, só
compatível com as épocas obscuras, em contradição com a perspicácia do seu
Espírito; não fora isto, a sua obra teria maior vulto; todavia, podemos afirmar
que muito contribuiu, outrora e quiçá hoje ainda, para a propagação de uma
crença que é tão velha quanto o mundo.
Dos
ataques de toda natureza beneficia o Espiritismo; até mesmo do ridículo de que
pretenderam cobri-lo, resultou ser conhecido. Os homens sérios, que habituaram
por índole a examinar tudo, bem reconheceram logo a magnitude dos fatos que
vieram marcar uma era para a humanidade.
E assim
se comprova a sentença do velho e prudente fariseu Gamaliel: “se esta obra vem
dos homens, ela se dissolverá; porém, se vem de Deus, não a podereis desfazer” (1).
(l) Atos dos Apóstolos, vers. 38.
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