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domingo, 20 de dezembro de 2020

Louvável atitude

 

Louvável atitude

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)    Reformador (FEB) Novembro 1963

 

            Causaram estupefação na Europa certas declarações do arcebispo-auxiliar Dom Hélder Câmara à revista católica, “de maior penetração na França” – “Information Catholiques Internacionales”, no número de 1 de Outubro deste ano.

            O mencionado arcebispo teve a louvável coragem de dizer que acabava de enviar “a todos os meus irmãos no episcopado” uma carta revolucionária, propondo, entre outras coisas:

a)         “retorno à pobreza”;

b)         que os bispos “abandonem seus títulos de Excelências e Eminências”;

c)         que “deponham aos pés do Papa suas cruzes peitorais de ouro ou de prata, para lhe pedir cruzes de madeira ou de bronze”;

d)         que “troquem seus carros luxuosos - se os tiverem - por outros mais pequenos e mais modestos”;

f)         que deixem de lado “sua autoridade de príncipes em palácios que os separam dos fiéis e dão a estes a impressão de que os bispos aí estão para serem amados e servidos, mais do que para amarem e servirem”;

f)         que estimulem os jovens arquitetos a construir “não igrejas grandiosas, mas santuários simples”, etc.

            Isto que acabamos de transcrever foi publicado no “Diário de Notícias” do Rio, de 15 de Outubro, por seu correspondente especial em Roma, Padre Pascoal Rangel.

            A comunicação não diz se o arcebispo aludiu diretamente à pompa pontifícia, às riquezas do Vaticano, à intromissão da Igreja em assuntos políticos, e, consequentemente, da política nos atos da Igreja, etc.

            Disse Leão Tolstoi: “a fé cristã começou a perder seu verdadeiro sentido na época da conversão de Constantino.” Desde então, a Igreja não mais se desinteressou da política profana e criou a sua própria política.

            Não podendo eliminar de todo as divindades pagãs e seus templos, quando dessa concordata, achou a Igreja mais prudente e oportuno substituir as imagens pagãs pelas imagens dos santos. Com o correr dos tempos, a Igreja foi perdendo a sua legítima característica cristã, renunciou à simplicidade, deixou de seguir os exemplos do Cristo e, assim, arruinou o Cristianismo, deu alento ao ceticismo, estimulou o materialismo, trocou a sua substância espiritual e enveredou cega e decididamente pela senda utilitarista.

            A atitude do arcebispo do Rio de Janeiro mostra que não exageramos.

            Estamos argumentando em tese, pois seria injusto esquecer os sacerdotes que vivem alheios à vida opulenta, procurando seguir o caminho justo, ao contrário dos poderosos purpurados que, havendo repudiado a exemplificação do Evangelho, preferem permanecer fiéis à máxima: “façam o que nós dizemos e não o que fazemos" ...


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