quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Antes e depois da conversão

 

Antes e depois da conversão

A Redação   Reformador (FEB) 1º Março 1924

             O espírita, conhecedor e praticante da doutrina, ao cogitar no problema do sofrimento humano, cuja solução lhe foi proporcionada, pode examinar, sereno e calmo, a sua atual situação e, mediante um estudo retrospectivo, compara-la à anterior.

            São estados psicológicos bem dessemelhantes.

            O ego permaneceu inalterável; mas houve grande mudança nas ideias e nas ações correspondentes e consequentes.

            Outros pensamentos, outros rumos.

            O converso, a quem aludimos, simultaneamente agente e paciente, ora iluminado pela Nova Revelação, percebe, compreende, sente e pode analisar a sua renovação espiritual.

            Poderíamos inquiri-lo.

            Amigo, que pensamentos te ocorriam, em face do sofrimento?  Hoje, como encaras a dor?

            Foram muitas as aflições, muitos os momentos de amarguras e angústias.

            Em horas de fraqueza, de tédio e desalento, te insurgias contra o destino, descrias da Providência, que veste os lírios do campo e alimenta as aves do céu, blasfemavas e até passava-te pela mente a solução resultante do suicídio - inominável crime.

            Não sabias sofrer. Iam sendo agravados os tormentos pela tua própria irritação e descrença, manifestações, pensamos nós, das antigas taras do orgulho.

           - Se pensasse então, como penso hoje...

            Todos os convertidos podem repetir esta frase.

            Se, agora, ferir-te um rude golpe, saberás suportá-lo, como crente submisso à lei, resignado e confiante.

            O sentimento religioso, outrora incerto e vacilante, apagado e quase extinto, ressurgiu com vigor, firmou-se e se apurou.

            Bem o sentes.

            A prece, grande força à disposição do crente, é repelida pelos desesperados.

            Feliz o que aprendeu a orar e o sabe fazer...

            Tiveste a ventura de achar o caminho, após o sofrimento.

            Outros desfrutaram, durante anos uma existência de prazeres e regalos, a exemplo do rico descuidoso, figurado na parábola evangélica.

            Quando soou a hora da adversidade, não estavam preparados para resistir e sofrer.

            Na sociedade contemporânea, como na antiga, tem numerosos representantes essa classe, aplaudida e adulada, de gozadores egoístas, futuro sofredores.

            A lei não abre exceções.

 *

             A doutrina dos Espíritos deu-nos a solução do torturante problema do sofrimento, na Terra e no espaço, até onde alcança a nossa compreensão.

            Porque sofremos?  Não seria difícil a resposta imediata:

            Sofremos porque somos imperfeitos, falidos, culposos, encarnados em planeta expiatório.

            Não resgatando as faltas, temos de padecer ainda na erraticidade, depois de abandonado aos vermes o corpo material.

            A resposta é para espíritas. Não a compreendem os incrédulos et pour cause. Ela pressupõe a existência e a solução de outras questões sobre o destino das almas, à descida à matéria, a volta ao espaço, as vidas sucessivas e o progresso espiritual.

            O sofrimento de que tanto nos queixamos, por ignorância, não é pena imposta pela vontade arbitrária de um Soberano irritado e ofendido pelos atos do homem.

            O sofrimento é a sanção pela infração de leis morais e serve para o progresso do paciente, neste mundo e no Além.

            A doutrina das igrejas, em contrário, foi inventada pela política sacerdotal para servir aos interesses da orgulhosa casta dos fariseus...

            Encontramo-los, possuidores de fortuna, que se divertem e gozam.

            Outros vergam ao peso dos trabalhos e da miséria.

            Aqueles não estão isentos da dor.

            A todos colhe a morte.

            Onde está a felicidade?  Onde estiver a virtude.

            Quais são os felizes? A resposta encontramo-la no Evangelho.      

            Se as seitas religiosas, transigentes e acomodatícias, não entenderam as “bem-aventuranças” do Sermão da Montanha, os mensageiros do Senhor vêm relembra-las à humanidade e faze-las resplandecer:

            Bem-aventurados os simples, os humildes, os mansos, os aflitos, os famintos e sequiosos de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacíficos, os perseguidos e caluniados, como discípulos de Jesus.


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