sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Preferências


Preferências – 1

por Geminiano Barboza     Reformador (FEB) 1º Maio 1917

             É indubitável que ao homem assiste o direito de preferências.

            Sem o direito de preferência, ficaria peiado (amarrado, preso, limitado) o livre arbítrio do homem, atributo de alto conceito e incalculável valor, por ser um dos mais preciosos dons do Espírito humano, emanação do Poder Supremo e por isso mesmo adstrito às suas sábias e santas leis.

            Fica, por conseguinte, fora de discussão o direito de preferência, por isso que assenta firmemente sobre o livre-arbítrio de cada um.

            Mas, é totalmente fora de dúvida que, sobre o livre arbítrio pesa toda a responsabilidade do pensamento, da palavra e da escrita, assim como de todos os atos do homem.

            Como evitar tamanho perigo, cuja sutileza escapa, quase sempre à perspicácia mais fina e vivaz?

            Como?.. Socorrendo-se cada um da própria consciência... Não sabeis que a consciência humana é o espelho onde se reflete a Verdade divina?.. Limpai, pois, o espelho para que a Verdade nele se reflita.

            Meus amigos, as ciências humanas, obedecendo ao louvável intuito de colocar o homem na cumeada (limite, topo) do saber, tem de fato conseguido grandes maravilhas, tão úteis quanto belas, em criações, inventos e descobertas. Mas, infelizmente, conquanto pareça haver a sapiência humana conseguido a pletora (abundância) do saber, o mundo continua pobre, apesar dos tesouros depositados em seu seio; continua tateando nas trevas, quando é certo que já podia nadar num oceano de luz.

            É que o homem supõe satisfeitas todas as necessidades humanas por efeito do vigoroso incremento facultado à civilização e a grande amplitude que tomaram as ciências legadas pelo passado.

            Entretanto, como muito bem sabem todos: (sábios, filósofos e leigos) - todo tempo não é um. 

            A era que se abre diante do nosso mundo, exige urgentemente novas aplicações, novos estudos, nova orientação, novo tirocínio; porque, era de remodelação, tal qual se anuncia e cujo início já se faz sentir, fatalmente nos fará passar por uma espécie de demolição, aliás inevitável, a bem da reconstituição geral; assim na ordem físico-material, como na ordem moral e na intelectual.

            Sabeis que o homem muito se há esmerado na cultura intelectual (no que faz muito bem); mas também descurou-se muito da cultura moral e religiosa, no que muito mal andou, porque atrasou deploravelmente seu progresso espiritual e criou dificuldades ao progresso do planeta.

            Agora, porém, soou o momento da Grande Evolução, evolução acelerada, porquanto, é tempo de eximir-se o nosso mundo da triste condição de “mundo de expiação”, para entrar na categoria de “mundo de regeneração”.

            O período de transição já aí está em pleno vigor; os reveladores o dizem e os fatos o confirmam... Os fatos insólitos e ultra extravagantes, as grandes e rudes tribulações que estortegam e afligem nossa pobre humanidade, as rijas provas a que ora nos achamos submetidos e que tantas dores e tantas lágrimas produzem, provocando veementes queixas e súplicas a uns e medonhas blasfêmias e pragas a outros; finalmente, o tumultuar de crimes que por toda parte se desdobram, atestam vigorosamente a veracidade daquela afirmativa. 

            Convém, entretanto, que não nos perturbemos: “- tudo o que é tem sua razão de ser.”, - Jesus o disse. 

            A humanidade havia contraído uma grande dívida para com Deus, de cuja benevolência abusou, fazendo-se relapsa e contumaz, inspirada nas teorias materialistas cujo maior empenho é desterrar do pensamento do homem a ideia de Deus.

            Os teoristas do materialismo parecem haver esquecida a asserção categórica daquele enunciado evangélico: “...e mostrarei que Eu sou o Senhor”...” E a humanidade esquece que tudo deve a Deus e que pouco ou nada lhe dá, porquanto, o próprio tributo de amor em parte lhe há negado.

            Sabemos que as teorias controversas atinentes ao materialismo, ateísmo, negativismo, etc. foram instigadas pela ideia de combate nos erros da moderna teologia, cujas fórmulas, dogmas e ritos ortodoxos denunciavam “flagrante e tumultuoso conflito doutrinário”, tornando-se por isso inaceitáveis à Razão esclarecida.

            Mas, sabemos igualmente que os teoristas não foram coerentes nem sinceros; não agiram de boa-fé, mas somente em atenção às suas paixões e seus inferiores.

            Por isso, pretendendo libertar a alma humana do “pão falsificado” que lhe fornecia a Igreja, prejudicou-a miseravelmente oferecendo-lhe “pão envenenado" pelo fermento corruptor que suas paixões introduziram em toda a massa, conforme seus interesses.

            Estabelecida assim a confusão sempre crescente, em razão da exploração indômita dos pretensos guias e diretores da orientação dos povos; a humanidade, sempre propensa à regra do menor esforço, arrastada, aliás pelas tendências materiais, facilmente se deixou insuflar pelas teorias comodistas, que lhe desobrigam do respeito à Lei que manda “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si próprio.”

            Assim, imbuída de falsos princípios, teorias falsas e doutrinas sofismadas, vem a trôpega humanidade atropelando o próprio “destino” tropeçando nos próprios e erros, e caindo, de existência em existência, nos mais profundos abismos de iníquas culpas.

            Deste imperfeito raciocínio, propositalmente resumido, podemos desde já deduzir o seguinte:

            A massa ignara que constitui a maioria da humanidade da Terra, longe de ser inocente, é indubitavelmente culpada; mas as culpas piores decorrem do mal doutrinamento tão levianamente lançado pelos educadores da consciência humana: uns impingindo teologia falsificada, outros preconizando o sofisma corrosivo de suas teorias, e ainda outros, propinando doutrinas destiladas no laboratório de suas portentosas fontes de erudição; todos, porém, prevaricando arrogantemente.

            Como sabeis, há quase meio século baixou à Terra a doutrina espiritualista trazida pela Terceira Revelação; pois esses impenitentes envenenadores da alma humana foram os primeiros oposicionistas, os mais ferrenhos adversários que ardorosamente saíram a oferecer combate à nova doutrina enviada pelo “Cristo Redivivo”, para restabelecer, elucidar e completar a verdadeira doutrina de Paz, Amor e Caridade.

            A biblioteca espiritualista é já bastante volumosa; os fatos experimentais contam-se por milhares, sendo a maior parte constatada e dada à luz da publicidade por conceituados membros do “corpo científico mundial”, de insuspeita reputação e cultura; os fatos espontâneos por toda parte se ostentam, quais provas irrefragáveis da imortalidade do Espírito e da sua comunicabilidade com os seus irmãos da Terra; mas a Teologia caduca e a Filosofia pirrônica (incrédula) continuam a negar a possibilidade de tais fatos, para que não sejam abatidos “seu orgulho e sua vaidade”, nem diminuída sua importância de autoridades teológicas ou científicas.

            Não obstante, a Verdade germina e se propaga com incrível rapidez, sem o emprego de violência alguma ou de pérfidas manobras, mas com a naturalidade do perpassar das horas, utilizando apenas a boa vontade dos crentes e humildes.

            E tal é o império da Verdade que, muitos dos seus mais temíveis adversários curvaram-se ante a evidência e são presentemente ardentes defensores da causa espiritualista, verdadeiros baluarte da Verdade velada.

            Que belo exemplo a ser imitado!

            E como é agradável reconhecer a nobre lealdade de tais adversários!..

  Preferências – 2

por Geminiano Barboza      Reformador (FEB) 16 Maio 1917

             A preferência é, em alguns casos, o reduto da prudência, mas talvez alguma vez o refúgio da superstição e erros inveterados.

            Agora mesmo temos presente uma modesta obra, que confirma o nosso pensamento; obra cujo despretensioso conjunto, na simplicidade de sua narrativa,  

projeta benfazeja luz em qualquer consciência predisposta a receber a Verdade.

            Referimo-nos à obra intitulada “Ensinos Espiritualistas” mediunicamente recebida e completada por Willian Stainton Moses, traduzida e publicada pela Federação Espírita Brasileira, que em sua livraria colocou-a à disposição do público.

            Essa modesta obra, compendiada em pequeno volume de 352 páginas conquanto pequena no tamanho, é grandiosa no seu valor instrutivo, no terreno da elucidação do Senso moral e religioso.

            Aborda questões importantes, responde a argumentos complexos e artificiosos,

discorre magistralmente sobre as relações entre o mundo visível e o invisível, dá definições de alto interesse aos que estudam e, por efeito das luzes que esparge na alma do leitor, predispõe o homem para os grandes e proveitosos estudos espiritualistas, dos quais “não pode prescindir” o homem do futuro.

            Meus amigos; bem sabeis que o Progresso é LEI e essa lei não retroage, mas prossegue indefinidamente adstrita à Evolução, outra lei inalterável, de ação permanente.

            Pois vem: a Evolução e o progresso conduziram o homem do seu estado inicial.de crassa ignorância estúpido obscurantismo, ao grau de civilização que hoje enaltece e envaidece o homem... Pensais vos que o homem ficará aí estacionado, chumbado ao materialismo? Não!  A Evolução e o Progresso continuarão a arrastar o homem pela estrada da perfeição, com escala pela Regeneração, na grande conquista da reabilitação do Espírito.

            Notai mais: - Não é só e exclusivamente o homem que evolui e progride, mas também o planeta, que obedece às mesmas leis e não pode estacionar no estado de imperfeição e impureza em que ainda se acha.

            Por essa razão e porque se aproximasse o momento em que o nosso mundo tem de pagar o seu tributo, baixaram à Terra os Arautos do Senhor, a fim de porem de sobreaviso o homem, para que se acautelasse de modo a suavizar as dores das provas de transição.

            Bem sabeis que, “não há parto sem dor... Era justo, pois, que o homem fosse avisado e o foi em larga escala... Por toda parte se hão manifestado os mensageiros do Filho de Deus, desde o meado do século 19, lançando o misterioso aviso: “Os tempos são chegados.”

            Em 1857 baixou a Revelação Espírita, dada a Allan Kardec, a compilou e codificou; em 1863 recebia J. B. Roustaing a Revelação da Revelação, que nós cognominamos “Revelação Evangélica”. Entretanto, os Espíritos não cessavam de agir. Por toda parte irrompiam manifestações espíritas (e ainda hoje assim é) despertando as atenções, advertindo o homem, preparando o advento do Espiritualismo.

            Em 1870 era Stainton Moses atraído ao Espiritualismo, “em pleno antagonismo com as suas convicções teológicas”, e, em 1873, tendo perfeitamente desenvolvida sua mediunidade, se bem que a contragosto, recebia de Seu guia importantes instruções, dentre as quais destacamos o seguinte período:

             “- Aproxima-se o tempo em que um novo raio de luz dissipará o nevoeiro da ignorância humana; as sublimes verdades que estamos encarregados de proclamar apagarão da superfície da Terra de Deus a rivalidade sectária, a amargura teológica, a cólera e a má vontade, o rancor, o orgulho farisaico, que desfiguram o nome de Religião e tornaram entre os homens a teologia sinônimo de discórdia...

            Essa nobre ciência, que devia instruir o homem no conhecimento da natureza de Deus e inspirar-lhe alguma coisa do amor que emana da Divindade, tornou-se o campo de batalha de seitas e partidos, a planície árida onde os mais mesquinhos preconceitos são imiscuídos com as mais miseráveis paixões. O deserto estéril onde o homem apenas demonstra a sua completa ignorância a respeito do assunto de que trata com tanto devotamento.” (Seção XVL pags. 202 a 203 da obra citada.)

             Como vedes, meus amigos, vem de longe o aviso paternal, o incentivo amigo, o convite ao estudo e à meditação... Mas, o homem, sempre refratário à luz e à verdade espirituais, continuou, zombeteiro e folgazão, a deliciar-se nos gozos da matéria, esquecido de que possui com o corpo uma alma, que maior desvelo lhe deve merecer, porque a alma não morre com o corpo, mas continua viva, para assumir a responsabilidade dos atos do homem.

            E, agora, que parece o nosso mundo se haver colocado fora das leis de normalidade e justiça, admiram-se “os próprios refratários” da incoerência brutal dos fatos e da indómita crueldade que ora domina o mundo.

             Não vêm nisso os refratários o resultado das preferências imprudentes; consequência do desprezo à Lei e seus preceitos... Não compreendem que, havendo chegado o momento das reivindicações, cumpre-se a palavra de Deus:- “...e mostrarei que Eu sou o senhor.”

            Analisando a boa fé, perfunctoriamente embora, julgamos licito supor, dentro dos preceitos da lógica, que, “se os mentores, os educadores e os doutrinadores dos povos” houvessem trilhado a estrada ampla e clara da Razão, da Verdade e da Justiça, com retidão e lealdade, certamente o resultado seria   TODO benéfico, plausível, próspero e confortável; assim no domínio da moral pública e privada como na religiosidade; assim nas relações os homens entre si como nas relações do homem com o seu Deus.

            Faltou lhes, naturalmente, predisposição espiritual, que lhes devia facultar o estímulo, o conselho, a advertência, qual sucedera a Stainton Moses por parte do seu guia espiritual, conforme se vê desta pequenina amostra:

            - 0 Evangelho da humanidade é o Evangelho de Jesus Cristo; o único que se torna necessário a homem, o único que pode prover as suas faltas e ajuda-lo em suas necessidades.

            Ora, é precisamente desse Evangelho que se têm esquecido os preparadores da Consciência mundial: educadores, instrutores, doutrinadores; e assim todos quantos, de boa ou má fé, se hão dedicado à orientação do Senso humano.

            E porque assim pensamos, e porque obedecemos ao princípio da caridade espiritual, não encerraremos este nosso modesto estudo sem chamarmos mais uma vez a atenção dos estudiosos para aquela interessante obra (Ensinos Espiritualistas), cuja elucidação, insinuante e adaptável, ainda pode salvar do naufrágio muitas almas periclitantes.

            Sentimos não poder reproduzir aqui muitos do belos e eloquentes ensinamentos de que é depositário o livro de Moses, mas não fugiremos ao desejo de atrair a atenção dos amigos de bons estudos para o magistral argumento contido nas páginas 241 a 243 cujo critério deixa evidenciada a superioridade da fonte de onde emanou.

            Concluiremos, pois, aconselhando aos senhores intelectuais, literatos, educadores e pastores espirituais a leitura espiritualista, como “essencial” aos seus misteres; porquanto, a orientação do futuro repousará inevitavelmente em bases concretas e estáveis, sob os auspícios do “Espiritualismo”, cuja era se inicia e cujos efeitos são já manifestos e incontestável o seu progresso incessante e feliz, na sua humildade benfazeja.  

            Nós, que vimos do Credo católico, não por apostasia, mas por coerência espiritual, porque nos devorava a sede da Verdade teológica, a Verdade oculta nos mistérios e nos  subterfúgios, e sempre vedada aos leigos; nós, que nos convertemos ao Espiritismo a fim de apaziguar nossa consciência; hoje que sentimos suavizada a nossa sede, confortada a nossa alma satisfeita e tranquila a consciência; cumprimos um dever de lealdade fraternal bradando com vigor e sem cessar:- “Vinde amigos, vinde irmãos, vinde comungar conosco na mesa farta da Verdade espiritual, abastecida pela Terceira Revelação... Vinde aprender a  penetrar os mistérios, a fim de entrardes no conhecimento de que “o homem só se eleva pelo Espírito – tanto quanto se abate pela matéria.

            Vinde comungar conosco e, sem esforço, compreendereis a enigmática parábola de Jesus:

            “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem de Deus.”

            Pois bem, a Palavra de Deus é hoje fartamente distribuída. As livrarias espíritas são verdadeiros repositórios de excelentes obras. Visitai a livraria da Federação Espírita Brasileira, e verificareis a verdade do que afirmamos.

            E, uma vez que aqui estamos em cumprimento do dever ao serviço da Verdade. Não cometeremos a imprudência de reter no pensamento o que a consciência ordena que proclamemos.

            Tomai, meus amigos, todos vós, muito cuidado com as vossas preferências; porque, se o vosso livre arbítrio é soberano, tremenda é a RESPONSABILIDADE que sobre ele paira.


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