sábado, 12 de dezembro de 2020

Três de Outubro

 Três de Outubro

A Redação    Reformador (FEB) Maio 1937

             A medida que os anos se vão sumindo no passado, menos e menos significativas se tornam as palavras, já de si mesmas inexpressivas, para assinalarem, na data de hoje, o advento da Revelação Espírita, personificada naquele que foi o escolhido para veiculá-la entre os homens - o grande missionário Allan Kardec. É que, de ano para ano, que dizemos? De dia para dia, de hora em hora, cresce, intensifica-se e amplia-se o brilho dessa luz que lhe coube, obediente aos altos Espíritos do Senhor, acender quando; pelas sombras densas de dilate do crepúsculo, se anunciava o tétrico negror da noite que ia envolver a humanidade terrena, emergindo do recesso dos corações, onde quase de todo se apagara a última claridade dos ensinos do Cristo, Senhor do mundo.

             Abriram-se então os túmulos, falaram os “mortos” luminosos, bradando alerta! Aos “vivos” que se debatiam na escuridão, dentro do sepulcro de carne. E ao elevado Espírito que já noutra existência se dera em holocausto da verdade proscrita pelo orgulho e pelas ambições humanas, coube recolher os ecos desses brados do Além para fazê-los repercutir em todas as almas, com o timbre da voz do Salvador, de novo chamando suas ovelhas ao aprisco.

             E os espíritos, aos punhados, às multidões, na terra e no espaço, acordam e, ainda que a cair com frequência, porque mal despertas do sono dos vícios, do torpor das paixões, vão buscando a porta da ressurreição, que se lhes abre para ida do Espírito nos esplendores da comunhão universal. E aos olhos de cada um, à proporção que melhor se orientam e esclarecem com o farol da verdade a luzir nos ensinos espíritas, mais avulta a figura inconfundível daquele que, espalhando-os em corpo de doutrina, restituiu, na sua primitiva pureza, às almas débeis e combalidas, o alimento de vida eterna, o pão do céu que as vivifica para a conquista das bem aventuranças prometidas no sermão do monte - pão e alimento que são as lições do Mestre divino.

             Nem só, porém, mais refulgente se faz aos olhos de cada um dos que assim vão tendo saciadas a sua fome e a sua sede de verdade, de paz e de amor, a personalidade excelsa que o mundo conheceu no missionário da Terceira Revelação. Ganha-as, de par com a veneração que lhes inspira a sua superioridade espiritual, a gratidão, o reconhecimento pelo muito que lhe devem, devendo-lhe, com a certeza indestrutível de que esse é o destino que os aguarda, o sentirem-se fortalecidos para a escalada dos altos cumes da perfeição espiritual, onde entrarão na posse do reino que lhes está preparado, a herança de glória eterna em comunhão com o Pai, pela identificação com o Cristo. Essa gratidão, esse reconhecimento, fazem que do íntimo de cada coração conquistado para o amor e para a fraternidade, se elevem um cântico de graças, um entoar de hosanas, que se confundem, nas sublimadas regiões da luz, com os hinos dos eleitos, dos redimidos, celebrando a glória dos que triunfam com o Cristo, alargando lhe o império sobre as almas, concorrendo para a vitória do seu amor sobre o mundo que lhe pertence.

             Sendo dos que hão beneficiado da formosa obra do abnegado missionário, cumprimos o dever de juntar as vozes apagadas de nossa alma ao coro dos que o glorificamos. Porém, sendo também dos mais carecentes de expressões para fazê-lo de forma condigna dos seus peregrinos méritos e contemplando de dentro da nossa extrema pequenez, a maravilhosa fortaleza de que ele foi o maior obreiro humano, fortaleza de encontro a cujos muros se quebram todas as forças que objetivam destruí-la da fé cristã renovada, sintetizamos o nosso modesto preito de amor e de cada vez maior admiração ao relembrarmos a data augusta da mais recente encarnação de seu Espirito, dizendo tão somente: Salve, Allan Kardec.

             Esta saudação, embora singelíssima, ele, estamos certos, a acolherá benigno, onde quer que se ache, e nela encontrará tudo quanto lhe podem com sinceridade exprimir os humildes discípulos que lhe enviam, sob o influxo de um sentido único: o de lhe seguirem as pegadas de Mestre, para se aproximarem do seu Mestre, do Mestre dos Mestres - Jesus.



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