domingo, 28 de setembro de 2014

O homem, o bem e o mal.


               “Encaro o mal, num mundo de provas e expiações qual a Terra, como uma necessidade para o bem, necessidade transitória, sem dúvida, porquanto o único bem que o mal pode produzir é oferecer a quem procede mal a oportunidade da reabilitação pela prática do bem. Para Hobbes, o bem e o mal são ideias relativas; Spinoza considerava o vício e a virtude necessários à vida do homem... Já Leibniz entendia que "o mal não é mais do que o detalhe das coisas e serve para realçar o fulgor do bem". Voltaire acreditava na possibilidade de tornar bons os homens, desde que fossem governados de modo que sua maldade se fizesse menos nociva. Se Rousseau repelia a doutrina da "maldade inata", Lombroso admitia, a princípio, o criminoso nato. Confúcio, do alto daquela doce filosofia que embevece a alma da gente, opinava que "a natureza do homem é boa" e que "essa bondade natural vem a se perder durante a vida, se ele não conquistar para si toda a felicidade". O problema é sério, importante, complexo. Há homens tão inferiorizados espiritualmente, que talvez tenham a alma no estômago, como pretendia aquele extravagante Van Helmont, da Renascença... Querem outros que o homem não seja bom, nem mau: apenas homem... Ninguém foi mais profundo a respeito da posição do homem em face do secular problema do bem e do mal do que Jesus Cristo. Ele não se limitou a divagações metafísicas: deixou a solução ao alcance da Humanidade, nas páginas imortais do Evangelho.”

 José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Março 1948

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os erros das Igrejas



                    “Vamos citar um só exemplo da diferença entre "igreja" e "religião", para demonstrar que as igrejas erram, mas a Religião não erra, é divina e eterna. 

            Estava anunciada a vinda do Messias pelos profetas de Israel. Todos o esperavam. Ele veio e o povo o reconheceu e aceitou de todo o coração. Mas a igreja (os principais sacerdotes) teve medo de sua popularidade, que punha em risco seus velhos privilégios políticos e econômicos e tratou de prendê-la e matá-la à traição (Mateus, 26: 3-5) .

            A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mat. 21:1 a 11) mostra que o povo judeu aceitou a Jesus como o Messias que tinha de vir. Foram exatamente as aclamações do povo que exasperaram os sacerdotes (Mat. 21:15-16) contra Jesus. A igreja temia o povo (Mat. 21:45-46), porque o povo compreendeu que Jesus de Nazaré era o Messias prometido e lho havia demonstrado cabalmente pelas suas palavras e atos.

            Fato curioso: a igreja judaica uniu-se aos materialistas (saduceus) no combate a Jesus, justamente como hoje faz a Igreja Católica, unindo-se aos materialistas modernos, para combater o Espiritismo. É a mesma história: todas as armas parecem boas, desde que destruam, sem perceberem que destroem igualmente a si mesmos.

            A minoria insignificante do povo israelita formava sua igreja, tinha o seu tribunal, o Sinédrio, e cometeu o grande erro da história religiosa: condenou a Jesus e desencadeou contra ele e seus continuadores uma propaganda universal, conquistando para o Judaísmo um ódio igualmente universal que chegou aos nossos dias.

            Quando o Cristianismo se constituiu em igreja romana, tomou represálias contra os judeus, que foram as grandes vítimas da Inquisição e sofreram as maiores injustiças através dos séculos, bastando recordar os pogroms russos e a matança em massa de judeus pelo hitlerismo nos anos de 1933 a 1945. Mas cumpre reparar essa injustiça: o povo judeu e muito menos seus descendentes não são culpados pelos erros dos sacerdotes das duas igrejas. Cumpre hoje aos judeus reconhecerem que seu povo aceitou a Jesus de Nazaré como o Messias prometido e que devem colocá-lo como o maior de seus profetas, pois que o erro de condená-lo foi igual ao que condenou a Isaías e a outros profetas, mais tarde incluídos nos livros sagrados do Judaísmo. É dever dos cristãos reconhecer que o povo judeu não foi nem é responsável pelo crime praticado por aquela minoria sacerdotal que formava a igreja judaica ao tempo de Jesus de Nazaré. Os judeus e os cristãos devem unir-se fraternalmente no mesmo bloco religioso, esquecendo para sempre os erros de seus infelizes líderes religiosos.

Ismael Gomes Braga
Trecho de artigo sob título
‘Religião, Igrejas e Comunismo’
publicado in Reformador (FEB) Julho 1961

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Movimento Espírita



               “O movimento espírita não é e nunca poderá vir a ser uma igreja, porque lhe falta e faltará sempre uma hierarquia sacerdotal que caracteriza a igreja. Os sacerdotes se dizem representantes de Deus, procedem em seu nome, interpretam e aplicam a vontade de Deus ou de seu deus particular; são os intermediários entre Deus e os homens. Os espíritas não têm essa categoria de intermediários, ficam cá em baixo: são todos homens e os seus médiuns não se comunicam com Deus, mas apenas recebem mensagens de outros homens, desencarnados, e que podem ser mais esclarecidos do que nós e nos ajudar com seus ensinos, mas nunca com a pretensão de serem deuses ou representantes de Deus.”

Ismael Gomes Braga
Trecho de artigo sob título
‘Religião, Igrejas e Comunismo’

publicado in Reformador (FEB) Julho 1961

O temor da ciência



                "Sente-se que o temor da Ciência é ter que presenciar o destroçamento total, completo, de suas mais queridas crenças materialistas. A revolução que se processará em todos os ramos do conhecimento humano será tão radical, profunda e irreversível que intimida os “donos” da Ciência. Praticamente, tudo terá de ser reconstruído, não somente em matéria de Filosofia, Religião, Sociologia, Psicologia e Metafísica, como também nos domínios das ciências físicas.

            A matéria, que parece ser a única realidade, será apenas uma das manifestações de uma realidade muito superior. O Evangelho do Cristo, que parecia aos menos avisados mero conjunto de regras de fundo místico, será reconhecido como o verdadeiro fundamento da nova Moral, da nova Metafísica, da nova Sociologia, do novo Direito, da nova Medicina.

            Tudo terá que ser revisto, corrigido, ampliado. As crenças religiosas e científicas, que ora parecem mais firmes e mais apoiadas na realidade, se verão subitamente sem base orgânica de sustentação. Velhas e abandonadas doutrinas, desprezadas pelo chamado racionalismo moderno, ressurgirão cheias de vigor, como a reencarnação, por exemplo. A comunidade humana, que primitivamente era constituída por simples agrupamento familiar de indivíduos, passando depois a tribos, estados, nações, será encarada, não mais como terrena, mas cósmica, pois que há uma comunidade universal de seres humanos em incontáveis graus evolutivos, na matéria e no espírito, em cada astro ou planeta que povoa o espaço. Somos todos irmãos, num sentido amplo, infinito, eterno; apenas habitamos casas diferentes, mundos diversos.

            O desconhecimento dessas verdades conduz a vícios de raciocínio dos mais lamentáveis. Não faz muito tempo, um cientista inglês declarava que o progresso da Medicina acabaria com os gênios, que, na sua maneira de pensar, são produtos de deformações físicas e psicológicas. Uma vez curadas as deformações, cessariam as condições que criam os gênios. Como “prova”, acrescentava que a grande maioria dos gênios media menos de 1,60 m ou eram aleijados; que praticamente nenhum deles foi pai de crianças geniais; que muitos foram alcoólatras, toxicômanos, tuberculosos ou mentalmente instáveis. No entanto, como é fácil, dentro da Doutrina Espírita, responder a essas observações e invalidar essas “provas”. O ilustre cientista toma o efeito pela causa. O gênio não é produto de deformações e deficiências orgânicas ou morais; é, sim, o coroamento de uma longa série de encarnações, em que o conhecimento se acumulou e a inteligência se aperfeiçoou e evolveu. O que, porém, muito frequentemente acontece é que o desenvolvimento das faculdades intelectuais não é acompanhado pela evolução das qualidades morais. Para corrigir o desnível, as leis cármicas determinam a reencarnação sob condições adversas, para que, sem sufocar o cérebro, possa a criatura preencher o vácuo que existe entre suas qualidades morais e as intelectuais. Cabe ao Espírito reencarnante lutar contra as adversidades da existência material, para superar suas próprias deficiências morais. Nessa luta se fortalece e se recupera, preparando-se para a promoção a um estágio superior no mundo espiritual. Assim, o gênio não é produto de taras e deficiências, e sim resultado de longo aperfeiçoamento intelectual, através de muitas existências.

            Resgatadas as faltas e restabelecido o equilíbrio moral, o gênio não deixará de sê-lo; ao contrário, prosseguirá com novos recursos, aparelhado para novas conquistas, colaborando na obra do Criador.

            Por essa pequena amostra vemos quanto falta ainda à Ciência para a exata compreensão dos problemas humanos. Como poderá ela, então, propor soluções para a angústia da nossa época se ainda nem sequer admitiu a existência do Espírito? Como pode receitar remédios se orientar o homem e pontificar sobre questões transcendentais se nem mesmo arranhou a superfície do conhecimento?"

Hermínio Miranda
Trechos do artigo sob  título
 ‘Lendo e Comentando’

in ‘Reformador’ (FEB) Julho  1961

O reconhecimento oficial da existência do espírito...

          
           ...o reconhecimento oficial da existência do Espírito será um acontecimento de tamanha repercussão, que por muito tempo ainda haverá hesitação e contramarchas. Mesmo porque, basta que um cientista de reconhecido valor admita a verdade espírita - como tantos o têm feito no passado - para que passe a ser olhado com desconfiança pelos colegas e seja até expulso das Academias e organizações científicas. Esse é o processo de que se tem socorrido a ciência oficial para “lavar as mãos” nos casos em que elementos de vulto da sua equipe se pronunciam em favor da realidade espiritual. Fenômeno curioso, esse! Homens como Crookes, Varley, Oliver Lodge e muitos outros foram tidos como expoentes incontestáveis de suas especialidades até o dia em que se pronunciaram afirmativamente sobre a realidade do Espiritismo. Daí em diante caíram em desgraça entre muitos de seus colegas intransigentes. Agora uma pergunta: é admissível que o prodigioso cérebro desses homens tenha deixado de funcionar de repente, só porque reconheceram uma verdade evidente? Jamais. Antes, ao contrário, a partir daquele momento é que mais se lhes aclararam os fatos, que passaram a compreender os pontos obscuros da Ciência, que começaram a encontrar explicações lógicas, aceitáveis para o que antes lhes parecia sobrenatural, misterioso; inexplicável.

Hermínio Miranda
Trecho de artigo sob  título ‘Lendo e Comentando’

in ‘Reformador’ (FEB) Julho  1961

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Uma nítida noção do nosso dever...



            “É claro que temos sempre, muito presente, uma nítida noção do nosso dever e da nossa responsabilidade. Cabe a cada um de nós, na tarefa comum, uma parcela de responsabilidade que, somada às demais, totaliza a responsabilidade do grupo a que pertencemos. Se começamos a falhar individualmente, falha o conjunto todo, mas não a ideia em si, nem o movimento. Falham apenas os homens. Outros, porém, se levantarão para retomar a ideia e soprar-lhe novo influxo e vitalidade.

            A História está cansada de nos ensinar isso.

            As grandes ideias da Humanidade, trazidas certamente dos altos círculos da Espiritualidade, são lançadas entre os homens para dar-lhes alento e recordar-lhes sua origem e seu destino; com o correr dos tempos, muitas criaturas - às vezes bem intencionadas - se julgam suficientemente qualificadas para introduzirem "aperfeiçoamentos" na ideia original: E como nem sempre estejam em condições
de fazê-lo, assistimos a uma lamentável deformação do que antes era tão simples e tão puro. Daí surgirem os dogmas e daí as verdadeiras contorções mentais necessárias para "explicar" verdades tão singelas e, ao mesmo tempo, tão profundas.

            Testemunhas do impulso que vem tomando a legítima ideia espírita em todo o mundo, não tememos pelo seu futuro: é sempre útil, entretanto, um exame de consciência para nos certificarmos se estamos dando tudo quanto podemos à ideia que abraçamos ou se não estamos contribuindo, de um jeito ou de outro, para deformá-la e desviá-la de suas próprias finalidades e objetivos.”

Hermínio Miranda
No artigo sob  título ‘Lendo e Comentando’
o autor faz comentários sobre artigos do periódico ‘Two Worlds’.

 ‘Reformador’ (FEB) Novembro   1962

Do Movimento Espírita


          
          “Se há alguma coisa viva hoje e em constante crescimento é o movimento espírita. Certamente que o Espiritismo comercializado e divorciado da parte doutrinária, tende naturalmente a enfraquecer-se, porque deixa de contar com o apoio do Alto. Não se pode esquecer que o Espiritismo é um movimento de colaboração íntima e construtiva entre os dois grandes grupos de Espíritos - encarnados e desencarnados. Quando a coisa degenera em exploração comercial, em rituais, em liturgia, em sacerdócio organizado, a equipe desencarnada mais esclarecida começa a retirar o seu apoio. E que pode o homem encarnado sozinho, dentro do véu físico que obscurece seu entendimento? Não advogamos a tese de, em tudo, recorrer aos Espíritos e somente pensar pela cabeça deles. Nem eles próprios desejam isso, a não ser naturalmente aqueles pobres infelizes que ainda não conseguiram deixar de exercer o perigoso mister da obsessão.”

Hermínio Miranda
No artigo  ‘Lendo e Comentando’ o autor faz comentários 
sobre assuntos constantes no o periódico ‘Two Worlds’.

Desses comentários, extraímos trechos que, entendemos ,
reproduzem o pensamento do querido Dr Hermínio.
 ‘Reformador’ (FEB) Novembro 1962

domingo, 21 de setembro de 2014

A Verdade espiritual é imutável...


               “A questão é que a verdade científica de hoje poderá perfeitamente ser abandonada amanhã, quando novas descobertas forem feitas, enquanto que a verdade espiritual é imutável, porque deriva do próprio conhecimento da realidade transcendental revelada. “

Hermínio Miranda
Do artigo sob o título ‘Lendo e Comentando’
in ‘Reformador’ (FEB) Julho  1961


O Exame da Questão Espírita


             Cientistas da mais alta reputação, competência e lealdade aos princípios da verdade, dedicaram-se ao exame da questão (espírita) nos últimos cem anos. De fato, poucos são os setores do conhecimento humano em que tanta experiência tenha sido acumulada. No entanto, por estranho que pareça, exatamente esse é o ponto sobre o qual maior é a hesitação da ciência oficial, quando não a negativa formal e irrecorrível.

            É um verdadeiro paradoxo esse estranho procedimento. Não seria lógico, racional e humano que primeiro se procurasse conhecer melhor o espírito e depois então nos atirássemos às demais conquistas? Claro que sim. Equacionado e resolvido o problema do espírito, sua existência, sobrevivência, sua atuação na carne e fora dela, muito mais seguro se nos apresentaria o campo de pesquisa que se nos estende à frente. Inegavelmente, tal seria a sequência natural dos acontecimentos, na linha evolutiva da Humanidade. Isso porque, assegurado o reconhecimento universal do espírito, as demais conquistas da Ciência não nasceriam defeituosas como agora, para em seguida serem desviadas de suas verdadeiras finalidades. O objetivo das grandes descobertas não é a destruição da vida nem o fortalecimento do Materialismo, antes, pelo contrário, atrás de todas as grandes conquistas há sempre uma ideia generosa de progresso e evolução. Não há melhores instrumentos de confraternização que o rádio, a televisão, o cinema e outras maravilhas da eletrônica. No entanto, eles também são utilizados para espalhar falsas ideias, ódios, palavras de incentivo à guerra, crimes, fatores de dissolução moral e social. Da mesma forma, foram desvirtuados os objetivos da conquista do átomo. Também a descoberta da aviação não teve melhor sorte: em lugar de unir ainda mais os homens, diminuindo  a distância que os separa, o avião se transformou em mortífero instrumento de guerra. Daí, segundo consta, a profunda melancolia que invadiu o nobre espírito de Alberto Santos Dumont, ao ver que o belo sonho que conseguira realizar, na Terra, estava servindo para matar e destruir.

Hermínio Miranda
Do artigo sob o título ‘Lendo e Comentando’

in ‘Reformador’ (FEB) Julho  1961

Reencarnação


            “Aceito a ideia de um contínuo processo de evolução, através do qual a criatura acumula experiências de todas as espécies, no espaço de uma sucessão de vidas cujo número depende do êxito da criatura na assimilação das lições que as experiências lhe ensejam.

Hermínio Miranda
Do artigo sob  título ‘Lendo e Comentando’
Transcrições do periódico ‘Two Worlds’.
in ‘Reformador’ (FEB) Junho  1961


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Reflexões à Luz do Crepúsculo



                  A intolerância é culpada de muitos crimes. Ao ser acusado de ateu, Tobias Barreto (nascido em Vila de Campos do Rio Real, 7 de junho de 1839 — faleceu em Recife, 26 de junho de 1889) foi um filósofo, poeta, crítico e jurista brasileiro) retrucou com lógica: "Eu não sou ímpio. Creio em alguma coisa que, entretanto, não tenho a felicidade de bem definir". Resposta de sábio, pois só os néscios podem pretender definir o indefinível. O exemplo clássico de Galileu perpassará os séculos porvindouros como exuberante prova dos excessos a que os preconceitos humanos podem chegar. Todavia, malgrado os sílabos, "a Terra se move".
Reflexões à hora do Crepúsculo- 9
por José Brígido (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fev 1948



Tobias Barreto

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Os Inimigos Internos do Espiritismo






Os Inimigos Internos
 do Espiritismo
Reformador (FEB) Outubro 1947




            Temos repetido destas colunas que os inimigos externos do Espiritismo só nos fazem bem com sua crítica e perseguição ostensivas, porque nos corrigem e nos tornam mais coesos; mas os inimigos internos, os que se dizem espíritas e  escrevem em jornais espíritas contra obras respeitáveis e instituições simbólicas da Doutrina, estes reclamam toda a nossa atenção, porque são os únicos inimigos temíveis do Espiritismo.

            Em 3 de Outubro deste ano apareceu um desses artigos venenosos, de rótulo espírita, repleto de calúnias contra as associações espíritas, sem respeito algum à verdade, chegando em sua fúria demolidora a dizer que instituições espíritas neste País "se transformam em casas de comércio e só tratam daquilo que produza lucro certo", Não é verdade e se o fosse seria somente um caso de polícia; seriam criminosos empregando falsamente o nome do Espiritismo. Mas é asserção caluniosa, porque ninguém no Brasil faz profissão de Espiritismo; nossos escritores e médiuns não recebem um centil de direitos autorais, como recebem os da Europa e dos Estados Unidos; os dirigentes de nossas Sociedades dão gratuitamente todo o seu trabalho, gastos de viagens e ainda contribuem sempre monetariamente para manutenção dos serviços de assistência.

            Quem escreve estas linhas tem feito longas viagens a serviço da Doutrina e nunca pensou em receber um centil de ajuda de custas. Em nossos jornais todo o serviço de redação e revisão, é feito gratuitamente e quase sempre os editores ainda subvencionam a publicação para que ela se possa manter.

            No entanto, tais calúnias são lançadas pela imprensa ao grande público, de modo vago, podendo recair sobre a mesma editora que as publica, e sobre as mais venerandas instituições de caridade.

            Ao contrário do que diz o infeliz autor, o movimento espírita brasileiro é a grande esperança do mundo, pelo seu altruísmo superior, pelo espírito de sacrifício que se revela tanto nas mínimas como nas máximas coisas. Todos dão com entusiasmo seu trabalho, sua inteligência, suas economias, seu conforto para manutenção das instituições e estas se multiplicam por toda a parte num entusiasmo sempre crescente.

            Até os membros de outras escolas filosóficas e religiosas respeitam o movimento espírita brasileiro e lhe proclamam a superioridade moral, o alto idealismo. 0 autor destas linhas trabalha no movimento espírita há mais de trinta anos, conhece uma infinidade de instituições espíritas pelo País todo e nunca observou o mínimo deslize no procedimento dos espíritas e de suas organizações. Ao contrário, só tem encontrado honestidade, dedicação, espírito de sacrifício, benevolência, e a alta proteção espiritual que se revela em favor do movimento demonstra-nos que tais qualidades não são apenas aparências externas, são reais, senão não atrairiam tal proteção dos Espíritos superiores.

            O autor do artigo diz que o movimento espírita no Brasil é maior do que em todo o resto do mundo reunido e isso é verdade, se como Espiritismo só aceitarmos a codificação kardeciana, como é justo. Declara que se divulgam aqui em grande escala as obras de Kardec, mas a seguir diz que nossos centros espíritas não conhecem Kardec, ''a maioria deles nem saibam que o Espiritismo é uma doutrina filosófica-científica-religiosa".

            É verdade que o nosso movimento é o maior do mundo quanto à Escola Kardeciana e o seu crescimento se deve à sua pureza, à sua superioridade. Nos países em que essa pureza não foi conservada, em que se quis fazer profissão do Espiritismo, o movimento desapareceu, porque os Espíritos superiores o abandonaram. O mesmo se dará conosco, se um dia tivermos os defeitos graves que já nos atribui esse inimigo interno da Doutrina. O Espiritismo conserva a sua pureza ou morre; não se corrompe, porque ele depende exclusivamente dos Espíritos superiores e estes não colaboram com pessoas desonestas. Basta percorrer a história do Espiritismo nos países em que os homens quiseram transformá-lo em profissionalismo religioso, para verificarmos que o movimento lá desapareceu, as sociedades cerraram as portas, os jornais e livros não encontraram mais editores e esgotaram-se para sempre.


            Por mercê de Deus, o nosso movimento até agora tem trilhado o bom caminho e vem sendo fortemente protegido pelos Espíritos superiores. Não podemos ter orgulho, estamos sempre sujeitos a quedas, mas estejamos certos de que, se cairmos, não levaremos conosco o Espiritismo: ele pode desaparecer, ficar eclipsado longo tempo, mas não se corrompe. Mais tarde o Senhor da Seara enviará melhores trabalhadores e ele ressurgirá. 


A Cólera


A Cólera
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1955


            A cólera é responsável por alta percentagem do obituário no mundo, como legítimo fator de enfermidade e portadora eficiente da morte. Além disso, é também a raiz de grande parte dos males e perturbações que solapam a segurança dos trabalhos associativos na Terra.

            Nos lares invigilantes, é o gênio escuro da discórdia. 

            Nas instituições respeitáveis, é o fermento da separação.

            Nas vias públicas, é a porta de acesso ao crime.

            Nos círculos da fé religiosa, é a brecha por onde se derramam os fluidos destruidores das trevas.

            Nos gastrônomos, produz a hepatite.

            Nos fracos, estabelece o abatimento letal.

            Nos irritadiços, plasma os fenômenos epileptóides.

            Nos invejosos e nos despeitados, engendra a loucura por efetuar a ligação imediata da alma com as entidades representativas de charcos espirituais deprimentes.

            Nos maus, desperta os monstros do homicídio.

            Nos corações desprevenidos; arroja as sementes envenenadas do vício.

            Nos inconformados, desequilibra as paredes celulares do edifício orgânico, favorecendo a prosperidade do câncer.

            Nos rebeldes, espalha as sugestões do suicídio.

            Nos intemperantes mentais, provoca ingratas perturbações alérgicas e concretiza moléstias filiadas a diagnose indefinível.

            Em toda parte, quando encontra guarida em algum coração menos consagrado à humildade e à fé, transforma-se em mensageira de terríveis obsessões, que somente a compaixão divina, apoiada na bondade humana, consegue reduzir ou curar.

            Recebamos a experiência, por mais amargosa, com a luz da confiança no Senhor que, em nos oferecendo a prova; nos possibilita a purificação.

            A passagem na Terra é aprendizado.


            Revoltar-se o homem, à frente da vida, é menosprezar o Mestre, aniquilar a oportunidade e perder a lição.             

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Aos Espíritas


                   A lenta evolução moral da Humanidade, nestes quase dois mil anos de Cristianismo mal compreendido e assimilado, tem uma de suas causas nas deturpações sofridas pela doutrina de Jesus da parte daqueles que receberam o legado dos primitivos cristãos e não souberam conservá-lo imune das paixões humanas. O espírito sectário gerou a intolerância, estimulou a ambição do poder, inspirou movimentos armados contra professantes de outros credos, acendeu fogueiras e imolou milhares de seres humanos, levando a Humanidade a mergulhar nas trevas do terror, da ignorância e do ódio. Aos espíritas compete exercer permanente vigilância em torno das ideias e dos atos que se desenvolverem dentro do Espiritismo, para que este não venha também a corromper-se e possa continuar sua obra saneadora e construtiva, iluminando as consciências e restabelecendo o reinado do Cristianismo redivivo no seio das gerações de hoje e do futuro. Cabe ao Espiritismo fazer desta humanidade que sofre e range os dentes, a alma pintalgada do sangue das guerras e ensombrada de preconceitos, uma humanidade reconciliada com Jesus, uma humanidade tranquila, confiante, pacifica.

José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Março 1948

A Prece


A Prece
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1955

            A oração não será um processo de fuga do caminho escuro que nos cabe percorrer, mas constituirá uma abençoada luz em nosso coração, clareando-nos a marcha.

            Não representará uma porta de escape ao sofrimento regenerativo de que ainda carecemos, mas expressará um bordão de arrimo, com o auxílio do qual superaremos a ventania da adversidade, no rumo da bonança.

            Não será um privilégio que nos exonere da enfermidade retificadora, ambientada em nosso próprio templo orgânico pela nossa incúria e nossa irreflexão, no abuso dos bens do mundo, entretanto, comparecerá por remédio balsâmico e salutar, que nos renove as energias, em favor de nossa própria cura.

            Não será uma prerrogativa indébita que nos isente da luta humana, imprescindível ao nosso aperfeiçoamento individual, todavia, brilhará em nossa experiência por sublime posto de reabastecimento espiritual, suscetível de garantir-nos a resistência e o valor na tarefa de renunciação e sacrifício em que nos cabe perseverar.

            Não será uma outorga de recursos para que os nossos caprichos pessoais sejam atendidos, no jardim de nossas predileções afetivas, contudo, será uma dispensação de forças para que possamos tolerar galhardamente as situações mais difíceis, diante daqueles que nos desagradam, em sociedade ou em família, ajudando-nos, pouco a pouco, a edificar o santuário da verdadeira fraternidade, no próprio coração, em cujos altares amealharemos o tesouro da paz e do discernimento.          

            Ainda mesmo que te encontres no labirinto quase inextricável das provações inflexíveis, ainda mesmo que a tua jornada se alongue sob o granizo da discórdia e da incompreensão, em plena sombra cultiva a prece, com a mesma persistência que empregas na procura diária da água para a sede e do pão para a fome do corpo.

            Na dor, ser-te-á divino consolo, na perturbação constituirá tua bússola.

            Não olvides que a permanência na Terra é uma simples viagem educativa de nossa alma, no espaço e no tempo, e não te esqueças de que somente pela oração descobriremos, cada dia, o rumo que nos conduzirá de retorno aos braços amorosos de Deus.



Questão de Valor


Questão de Valor
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1955

            Ninguém pode alegar insignificância ou desvalia para fugir aos deveres que lhe competem, na obra de elevação do mundo.

            A pedra quase impermeável serve aos alicerces.

            A areia áspera é valioso elemento na construção.

            O remédio amargo é instrumento da cura.
            O mal de agora pode ser simplesmente um véu de sombra, ocultando o bem de amanhã.

            Há pessoas que se confessam inaptas para qualquer serviço do Evangelho, entretanto, isso acontece porque vivem esquecidas de que a direção da vida, entre os filhos da fé, não pertence à vontade humana.

            O bloco de mármore, perdido no matagal, é simples calhau sem valor, mas, nas mãos do artista, é a fonte de que sairá a obra-prima.

            Uma enxada ao abandono é traste inútil, entretanto, nos braços do bom lavrador, é precioso instrumento na garantia do pão.

            O pântano, em si, é pestilência e ruína, contudo, se recebe a assistência do pomicultor, dá lugar a vegetais que enriquecem a vida.

            Um fio de cobre, perdido na via pública, é resíduo destinado à lata de lixo, mas se for ligado entre a usina e a lâmpada é o condutor imponente da luz e da energia, que sustentam o progresso.

            Se contamos exclusivamente conosco, na realidade somos meros átomos pensantes, todavia, se aceitarmos a direção de Jesus para a nossa vida, cada experiência ser-nos-á indubitavelmente rica de bênçãos do Divino Mestre.

            Pelo nosso passado, somos simples sombras, mas se o nosso presente procura imanar-se com o Cristo, nossa bússola indicará os horizontes da verdadeira luz em nosso favor.

            Não te consideres tão somente pelo que és.

            Vejamo-nos em companhia do Cristo, para que o Senhor esteja em nós.

            O zero à esquerda do número será sempre nada, mas, à direita do algarismo, é valor substancial em ascensão crescente para o Infinito.

            Lembremo-nos de que Jesus é a Divina Unidade e situemos nossa existência à direita do Nosso Senhor e Mestre.





Ainda o Indalício Mendes... (2)


            É o mal que dá mérito ao bem, como é o bem que identifica e combate o mal. Pelo fato de o mal valorizar o bem, não se deve vacilar entre um e outro, porque só o bem pode levar-nos ao gozo pacífico das consciências tranquilas. A vida tem um lado bom e um lado mau, porque vivemos em planeta ainda em fase pouco elevada de evolução. É dever do homem transformar em bom o lado mau, para que a beatitude desça sobre ele. A transformação do mal em bem deve começar pelo próprio indivíduo, que deve tirar de si o "homem velho", para que o "homem novo" surja, provocando a mutação da sociedade em que ele vive. Portanto, tem o homem de vencer primeiramente suas próprias imperfeições para poder, depois, vencer o mundo.

José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Março 1948

Ainda o Indalício Mendes...


            Eu amo o que a vida tem de bom, de belo, de inocente, e luto para evitar que o sonho azul dos meus ideais se desvaneça ao contato da realidade cruel. São esses ideais que me dão forças para ir suportando os desenganos da vida terrena.

José Brígido (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Março 1948