“Vamos citar um só
exemplo da diferença entre "igreja" e "religião", para
demonstrar que as igrejas erram, mas a Religião não erra, é divina e
eterna.
Estava anunciada a vinda do Messias
pelos profetas de Israel. Todos o esperavam. Ele veio e o povo o reconheceu e
aceitou de todo o coração. Mas a igreja (os principais sacerdotes) teve medo de
sua popularidade, que punha em risco seus velhos privilégios políticos e
econômicos e tratou de prendê-la e matá-la à traição (Mateus, 26: 3-5) .
A entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém (Mat. 21:1 a 11) mostra que o povo judeu aceitou a Jesus como o
Messias que tinha de vir. Foram exatamente as aclamações do povo que
exasperaram os sacerdotes (Mat. 21:15-16) contra Jesus. A igreja temia o povo
(Mat. 21:45-46), porque o povo compreendeu que Jesus de Nazaré era o Messias
prometido e lho havia demonstrado cabalmente pelas suas palavras e atos.
Fato curioso: a igreja judaica
uniu-se aos materialistas (saduceus) no combate a Jesus, justamente como hoje
faz a Igreja Católica, unindo-se aos materialistas modernos, para combater o
Espiritismo. É a mesma história: todas as armas parecem boas, desde que
destruam, sem perceberem que destroem igualmente a si mesmos.
A minoria insignificante do povo
israelita formava sua igreja, tinha o seu tribunal, o Sinédrio, e cometeu o
grande erro da história religiosa: condenou a Jesus e desencadeou contra ele e
seus continuadores uma propaganda universal, conquistando para o Judaísmo um
ódio igualmente universal que chegou aos nossos dias.
Quando o Cristianismo se constituiu
em igreja romana, tomou represálias contra os judeus, que foram as grandes
vítimas da Inquisição e sofreram as maiores injustiças através dos séculos,
bastando recordar os pogroms russos e
a matança em massa de judeus pelo hitlerismo nos anos de 1933 a 1945. Mas
cumpre reparar essa injustiça: o povo judeu e muito menos seus descendentes não
são culpados pelos erros dos sacerdotes das duas igrejas. Cumpre hoje aos
judeus reconhecerem que seu povo aceitou a Jesus de Nazaré como o Messias
prometido e que devem colocá-lo como o maior de seus profetas, pois que o erro
de condená-lo foi igual ao que condenou a Isaías e a outros profetas, mais
tarde incluídos nos livros sagrados do Judaísmo. É dever dos cristãos
reconhecer que o povo judeu não foi nem é responsável pelo crime praticado por
aquela minoria sacerdotal que formava a igreja judaica ao tempo de Jesus de Nazaré.
Os judeus e os cristãos devem unir-se fraternalmente no mesmo bloco religioso,
esquecendo para sempre os erros de seus infelizes líderes religiosos.
Ismael Gomes Braga
Trecho de artigo sob título
‘Religião, Igrejas e Comunismo’
publicado in Reformador
(FEB) Julho 1961
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