A advertência de João Batista
Carlos Buchele Junior
Reformador (Julho 1942)
Na época
atual, de grande movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, em
que a humanidade se debate no último estertor causado pelos ideais
anti-fraternos desenvolvidos por deletério materialismo, nunca é demais
recordar, aos que buscam o refúgio da religião, a advertência de João Batista
dirigida aos fariseus e saduceus, que vinham ao seu batismo: "Raça de víboras, quem vos recomendou que
fugísseis da ira vindoira?" Duríssimas parecem estas palavras nos lábios
do Precursor do Cristo, mas é que ele antevia naqueles falsos conversos os
enfatuados e orgulhosos que se jactavam no íntimo: "Temos como pai Abraão", e que talvez, por isso mesmo, se riam,
depois, os primeiros a condenarem o próprio Cristo de Deus.
Na sua
grandiosa missão, que era a de preparar o caminho do Senhor e endireitar as suas veredas, a "Voz
do que clama no deserto" concitava os homens, dizendo: "Arrependei-vos; pois está próximo o reino
dos céus". É que muitos eram por ele batizados no rio Jordão confessando os seus pecados. Confessar pecados não é condição
para se "fugir da ira vindoira",
isto é, libertar-se do juízo inflexível da consciência criminosa que
transgrediu a lei de amor, mas, primordialmente, "dar frutos dignos desse arrependimento" .
O ato
meramente exterior do batismo era uma prática simbólica dos judeus,
significando a purificação espiritual de que os batizandos necessitavam,
prática que deveria terminar com João Batista, porquanto ele mesmo afirmou:
"Eu vos batizo com água ; um, virá, mais poderoso do que eu, de cujas
alpercatas não sou digno de desatar as correias, que vos batizará em Espírito
Santo e em fogo".
Os corpos levados
ao fogo desenvolvem calor e luz e de sua combustão resultam as transformações,
químicas ou físicas, desejadas.
O fogo é o
simbolo da dor moral ou física que, na "função fundamental de equilíbrio
na economia da vida", ou como "irredutível fator substancial que a
evolução reclama", no quadro das provações e expiações, processa no
cadinho da experiencia a transformação do Espírito, desenvolvendo nele o calor
dos sentimentos nobres e a luz da compreensão da Verdade, para que um Espírito
Santo, em nome do Senhor, implante definitivamente no seu coração o Reino dos
Céus.
Jesus, ao
iniciar sua imorredoura pregação, repetia textualmente as palavras de João
Batista: "Arrependei-vos, pois está
próximo o reino dos céus", chamando a atenção dos conversos à Verdade
de que é pela porta do arrependimento sincero que se penetra no templo augusto
do Evangelho do Reino.
Ora, nos
tempos que correm, de dolorosas provações terrenas, em que, com o advento do
Consolador, se cumpre de modo formal a promessa do Divino Mestre, do
restabelecimento de todas as coisas pelo Espírito de Verdade, ninguém busque o
refúgio da religião no sentido apenas de fugir aos azorragues impiedosos do
sofrimento, de doenças, enfermidades e espíritos malignos, porque, então, soará
tonitroante, como látego de fogo, percutindo na consciência, as palavras do
Precursor do Cristo: "Raça de
víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoira?" Advertência
permanente, de que não basta ter Abraão por pai, isto é, firmar-se numa crença
qualquer, para fugir do julgamento implacável da consciência; é preciso dar
frutos dignos de um arrependimento sincero, porque "o machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não dá bom
fruto é cortada e lançada ao fogo".
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