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sábado, 7 de março de 2020

A advertência de João Batista



A advertência de João Batista
Carlos Buchele Junior
Reformador (Julho 1942)

            Na época atual, de grande movimento expiatório dos indivíduos e das coletividades, em que a humanidade se debate no último estertor causado pelos ideais anti-fraternos desenvolvidos por deletério materialismo, nunca é demais recordar, aos que buscam o refúgio da religião, a advertência de João Batista dirigida aos fariseus e saduceus, que vinham ao seu batismo: "Raça de víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoira?" Duríssimas parecem estas palavras nos lábios do Precursor do Cristo, mas é que ele antevia naqueles falsos conversos os enfatuados e orgulhosos que se jactavam no íntimo: "Temos como pai Abraão", e que talvez, por isso mesmo, se riam, depois, os primeiros a condenarem o próprio Cristo de Deus.

            Na sua grandiosa missão, que era a de preparar o caminho do Senhor e endireitar as suas veredas, a "Voz do que clama no deserto" concitava os homens, dizendo: "Arrependei-vos; pois está próximo o reino dos céus". É que muitos eram por ele batizados no rio Jordão confessando os seus pecados. Confessar pecados não é condição para se "fugir da ira vindoira", isto é, libertar-se do juízo inflexível da consciência criminosa que transgrediu a lei de amor, mas, primordialmente, "dar frutos dignos desse arrependimento" .

            O ato meramente exterior do batismo era uma prática simbólica dos judeus, significando a purificação espiritual de que os batizandos necessitavam, prática que deveria terminar com João Batista, porquanto ele mesmo afirmou: "Eu vos batizo com água ; um,  virá, mais poderoso do que eu, de cujas alpercatas não sou digno de desatar as correias, que vos batizará em Espírito Santo e em fogo".

            Os corpos levados ao fogo desenvolvem calor e luz e de sua combustão resultam as transformações, químicas ou físicas, desejadas.

            O fogo é o simbolo da dor moral ou física que, na "função fundamental de equilíbrio na economia da vida", ou como "irredutível fator substancial que a evolução reclama", no quadro das provações e expiações, processa no cadinho da experiencia a transformação do Espírito, desenvolvendo nele o calor dos sentimentos nobres e a luz da compreensão da Verdade, para que um Espírito Santo, em nome do Senhor, implante definitivamente no seu coração o Reino dos Céus.

            Jesus, ao iniciar sua imorredoura pregação, repetia textualmente as palavras de João Batista: "Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus", chamando a atenção dos conversos à Verdade de que é pela porta do arrependimento sincero que se penetra no templo augusto do Evangelho do Reino.

            Ora, nos tempos que correm, de dolorosas provações terrenas, em que, com o advento do Consolador, se cumpre de modo formal a promessa do Divino Mestre, do restabelecimento de todas as coisas pelo Espírito de Verdade, ninguém busque o refúgio da religião no sentido apenas de fugir aos azorragues impiedosos do sofrimento, de doenças, enfermidades e espíritos malignos, porque, então, soará tonitroante, como látego de fogo, percutindo na consciência, as palavras do Precursor do Cristo: "Raça de víboras, quem vos recomendou que fugísseis da ira vindoira?" Advertência permanente, de que não basta ter Abraão por pai, isto é, firmar-se numa crença qualquer, para fugir do julgamento implacável da consciência; é preciso dar frutos dignos de um arrependimento sincero, porque "o machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo".


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