Não há milagres no Espiritismo
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Maio 1959
Certo
cidadão da nossa política escreveu, há tempos, um artiguete, explicando as
razões pelas quais não acreditava nos fenômenos espíritas. Perdera um filho na
guerra e um amigo lhe havia informado que, segundo certa comunicação do Além, o
rapaz estava ainda encarnado e bem de saúde. Efetivamente, era uma contradição.
Semelhante fato, porém, não serve de argumento contra o Espiritismo. Se no mundo
físico estamos sujeitos a ser enganados por pessoas brincalhonas ou mentirosas,
o mesmo sucede no mundo espiritual, porque o fato de um Espírito deixar o
invólucro carnal não lhe confere uma moralidade que ele não possuía antes,
assim como também não lhe altera a personalidade. Lá, como cá, o Espírito está
sujeito à educação, que pode dar resultados dentro de pouco ou de muito tempo.
Tudo depende, evidentemente, do caráter em jogo.
O
referido político, que é médico e já fez muitas vezes profissão de fé ateísta,
não poderia mesmo aceitar o Espiritismo, como não aceita nenhuma outra doutrina
religiosa. Portanto, o seu ceticismo já está encruado.
Há
muita gente que vai para o Espiritismo à procura do maravilhoso. Quer “milagres”,
esquecida de que o privilégio milagreiro está com a Igreja. Está ou esteve,
porque, hoje, com o progresso, com o avanço da Ciência, com a rapidez das
comunicações a indústria milagreira perdeu sua força e está desaparecida.
Antigamente, qualquer coisa servia para embair a ingenuidade popular. Até um
cometa que aparecia no céu era explorado pelos industriais do milagre. Hoje,
entretanto, as coisas estão mudando. A Igreja, dotada de extraordinária
faculdade mimética, vai-se adaptando depressa a situações que, antes, justificavam enérgicas
reprimendas dos piedosos bonzos (hipócritas) da Inquisição. Mesmo dentro da seara espírita, o
trabalho educativo é cada vez mais necessário. Todos os dias o Espiritismo recebe novos adeptos
e a maioria vem do Catolicismo, decepcionada por que a Igreja só lhes oferece quimeras,
preocupando-se com o número dos que frequentam os templos e comparecem a certas
exteriorizações festivas. Alguns chegam ao Espiritismo imbuídos das ideias
adquiridas no credo que abandonaram. E intentam fazer reformas nas práticas
espíritas. Querem santos, como se nós adotássemos ídolos em nossa crença.
Procuram adaptar ritos que não são aceitos no Espiritismo. Daí o fato de certos
confrades pouco esclarecidos pretenderem realizar “batismos”, “casamentos”,
etc., como se o Espiritismo pudesse ser confundido com certas religiões que,
para sobreviverem, tiveram de condescender com o paganismo, adotando-lhe
métodos e sistemas.
Por
isso, é importante que a Doutrina seja cada vez mais disseminada, não só pela
palavra escrita como pela palavra falada. Doutrina, Doutrina, Doutrina e
Doutrina.
Os
que assim procedem, da maneira a que nos referimos, merecem nossa paciência,
mas não podemos com eles concordar, porque, se o fizermos, estaremos
concorrendo para a deturpação dos princípios e postulados divulgados por Allan
Kardec.
Não
é a assiduidade a sessões fenomênicas que define o espírita, mas o seu conhecimento
da Doutrina e o esforço que realiza por exemplificá-la em cada vinte e quatro
horas de sua vida.
Não
nos interessam ritos, imagens, cânticos e demonstrações materiais de poder
temporal, de pompa e vaidade. O que realmente nos interessa e a quantos queiram
permanecer fiéis à Doutrina Espirita, é a reforma intima de cada um, a melhora
do homem, o apuramento moral, o estabelecimento da paz interior e exterior, o
culto do bem, o combate ao mal pelo exercício da bondade, da caridade e do
amor, porque isto, em última análise, é Cristianismo puro. O
espírita verdadeiro não estimula desarmonias, não dá curso à maledicência, não
cede a impulsos egoístas, não dá mostras de intolerância, mas é firme em suas
convicções, fiel à Doutrina e dotado de sólida determinação no cumprimento de
seus deveres para com o Espiritismo.
Estudemos
as lições doutrinárias, diariamente, porque encontraremos sempre novos pontos
de esclarecimento e de orientação. E, sobretudo, guiemos os novos, aqueles que
estão começando a sua jornada espírita, fazendo que se esqueçam totalmente das
fantasias que religiões falidas ou em vias de decomposição lhes inculcaram na
alma. Uma das grandes tarefas do Espiritismo é reformar o homem, preparando-o “para
o Terceiro Milênio, já às nossas portas.
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