Unificação e Doutrina
por Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB)
Setembro 1962
O trabalho de unificação dento do Espiritismo
tem dado, fora de dúvida, excelentes resultados, embora exija ainda, e o exigirá
por muito tempo, as atenções dos responsáveis pela propagação e defesa de seus
princípios. Nada se deve fazer fora da Doutrina. Esta é uma norma fixa e
invariável. Omiti-la ou despreza-la será como que renunciar àqueles princípios
ou subordiná-los a pontos de vista meramente pessoais, nem sempre afins com os
reais e altos interesses espíritas.
Quando vemos alguns confrades
entusiasmados em fundar serviços já existentes e em pleno funcionamento na zoa
em que residem, lamentamos que tanto entusiasmo e tanto esforço não sejam
dirigidos para revitalizar e desenvolver os trabalhos já fundados e em
funcionamento. Essa dispersão de esforços não atende às necessidades legítimas
da nossa causa, porque a unificação de trabalhos, a união maior para um mesmo
fim, tornará possível a realização mais rápida e mais eficiente dos objetivos
louváveis que engalanaram a alma desses obreiros.
Se cada grupo puxar para um lado
diferente, o resultado será muito menos satisfatório do que se todos, unidos,
puxarem para um lado só. Às vezes pode ser a vaidade a inspiradora da criação
de obras paralela. Em outras, porém, acreditamos, é o desejo de fazer alguma
coisa mais substancial em benefício do próximo, com a presunção de que o
existente não satisfaz. Ora, se todo os espíritas estiverem imbuídos de
humildade; se não prevalecer a preocupação de aparecer com destaque; se
concordarem em dar a sua valiosa cooperação àqueles que já lutam para sustentar
e desenvolver trabalhos de finalidade idêntica, tudo melhorará. A união faz a
força. Ou somos espíritas e aceitamos integralmente a Doutrina ou somos falsos
espíritas e, neste caso, só aceitamos da Doutrina aquilo que nos convém em
determinadas ocasiões.
Allan Kardec, nas obras que trazem o
seu nome, é um manancial de instruções preciosas. Ninguém, dentro do
Espiritismo, tem o direito de ignorar a Doutrina, do contrário será, não um
espírita, mas um aderente sem raízes profundas. O que dá força ao Espiritismo é
justamente a sua doutrina, porque estabelece com segurança os rumos que todos
devemos seguir, que nos orienta, nos instrui e nos aponta os caminhos certos da
salvação quando nos encontramos em dúvida ou ficamos presos a situações criadas
pela nossa própria imprevidência ou ignorância.
O Espiritismo não pode estacionar. Mesmo
que os homens, mal inspirados, tentassem fazê-lo, esbarrariam com a ação
dinâmica dos Espíritos. Há trabalho, cada vez maior em nossa seara. Todos
trabalham. A Federação Espírita Brasileira dá o exemplo de ação bem orientada e
de trabalho fecundo, embora silencioso. Mas não se afastará, como jamais se
afastou, dos deveres impostos pela Doutrina. Isto é que se precisa realçar. “A Doutrina é, sem dúvida, imperecível,
porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde
às legítimas aspirações dos homens”, disse-o Kardec.
Como sempre acontece à margem de
qualquer movimento religioso, filosófico ou ideológico, é vezo surgirem
inovadores, os que acham que não se faz nada, ou que se faz pouco ou mal, e
engendram planos mirabolantes, espaventosos, por isso mesmo sem base sólida e
fadados ao malogro. Ora, a Doutrina Espírita tem caráter essencialmente progressivo,
conforme o Codificador acentuou: “Pelo
fato de ela não se embalar com sonhos irrealizáveis, não se segue que se
imobiliza no presente. Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar
mais do que estas leis; mas se pôr de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar
a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as
ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou
metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais
garantias da sua perpetuidade.” São também palavras de Allan Kardec.
Todavia, essa aceitação ou
assimilação terá de se sujeitar a um critério altamente ponderado. Nada poderá
ser feito precipitadamente. Semelhante predisposição, contida em Kardec, prova
a maleabilidade superior da nossa Doutrina, maleabilidade inerente à sua
natureza profundamente progressiva.
Quando se cogitava de dar ao Espiritismo
uma orientação única, surgiram ideias variadas e curiosas. Conta Kardec: “Houve quem propusesse que os candidatos
fossem designados pelos próprios Espíritos em cada grupo ou sociedade espírita.
Além de que este meio não obviaria a todos os inconvenientes, apresentaria
outros peculiares a semelhante modo de proceder, que a experiência já
demonstrou e que fora supérfluo lembrar aqui. Não se deve perder de vista que a
missão dos Espíritos consiste em nos instruir, para que melhoremos, porém não
em se sobreporem ao nosso livre arbítrio. Eles nos sugerem ideias, ajudam com
seus conselhos, principalmente no que concerne às questões morais, mas deixam
ao nosso raciocínio o encargo da execução das coisas materiais, encargo que não
lhes cabe poupar-nos. Contentem-se os homens com o serem assistidos e
protegidos por Espíritos bons; não descarreguem, porém, sobre eles, a
responsabilidade que incumbe ao encarnado.
“Esse
meio, aliás, suscitaria maiores embaraços do que se poderia supor, pela
dificuldade de fazer-se que todos os grupos participassem de semelhante
eleição. Seria uma complicação nas rodagens e estas tanto menos suscetíveis se
mostrarão de desarranjar-se, quanto mais simplificadas forem.
“O problema é, pois, o de
constituir-se uma direção central, em condições de frça e estabilidade que a ponham
ao abrigo de todas as flutuações, que correspondam a todas as necessidades da
Causa e oponham intransponível barreira às tramas da intriga e da ambição.”
Unificar, em todos os sentidos e de
todas as formas, é o objetivo que todos os espíritas devemos perseguir sem
esmorecimento. Para que se torne fácil, basta que cada qual siga a Doutrina,
exemplifique seus princípios, procure colocar a Doutrina acima de atitudes
personalistas e de interesses outros, porque a verdade é que ninguém perderá
coisa alguma se se dispuser a obedecer àqueles princípios. Pelo contrário,
somente se beneficiará, beneficiando a coletividade espírita e a Humanidade.
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