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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Sobre o perispírito

 

Sobre o perispírito

por Pedro Richard    Reformador (FEB) Agosto 1917

                  Alocução proferida perante a Comissão de Assistência aos Necessitados, pelo seu Diretor, Pedro Richard:


                 Nesta cadeira, onde a vossa bondade me colocou, procedo com o máximo cuidado para que eu seja apenas um fiel expositor da doutrina que, por misericórdia, nos foi revelada pelos espíritos a serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo.

                Como sabeis, a primeira fase da revelação, que trata da parte filosófica e doutrinária, os espíritos deram a Kardec por diversos médiuns, sendo que o seu complemento que diz com a parte científica e evangélica, foi confiada a Roustaing, que a recebeu pelo médium Mme. Collignon.

                Tratando-se, pois, do perispírito, que é o agente intermediário entre o espírito e o corpo material, isto é, o veículo pelo qual o espírito pode agir sobre a matéria, dizem-nos os espíritos que esse agente participa das duas naturezas: do espírito e da matéria. Assim, somos levados a procurar -  o quanto estiver ao nosso alcance - compreender a natureza do espírito e da matéria.

                Por isso aconselhei, na sessão passada, o estudo dos pontos da nossa doutrina, que tratam dessa transcendental questão.

                Como vistes, a revelação dada no “Livro dos Espíritos” e no ‘Gênese” está de acordo com a ampla revelação dada a Roustaing, no volume 1, págs. 258 a 315.

                Na monumental revelação da origem da criação, os espíritos, por ordem de Jesus, nos deram o máximo que podemos comportar.

                Vamos procurar fazer a sua síntese, e para desempenhar-me de tão alto encargo, ergo os olhos para Jesus, pedindo-lhe que supra as minhas deficiências, permitindo que a minha exposição seja clara e compreendida por vós outros.

                Diz a Revelação (Roustaing): Tudo na criação tem uma origem comum: tudo procede do infinitamente pequeno para o infinitamente grande, até Deus, que é o ponto de partida e reunião. Tudo vem de Deus e volta para Deus” (1)

                 (1) As citações de Roustaing são, algumas textuais e outras em resumo.

                 O fluido universal, que parte de Deus e que é dirigido pela sua inteligência e vontade suprema, é o elemento produtor de todas as criações, quer espirituais quer e fluídicas, quer materiais, enfim de tudo quanto se move, vive e existe.

                A vontade do Senhor Deus Onipotente, que a tudo preside, anima esse fluido em todas as suas variedades e com ele produz as mais sutis combinações, até as essências espirituais, os princípios primitivos de espíritos em gérmen. 

                Nos mundos primitivos, o Criador coloca os princípios constitutivos, na ordem espiritual, fluídica e material, dos diversos reinos que os séculos hão de elaborar.

                Ao mesmo tempo, o principio inteligente desenvolve-se com a matéria que com ele progride, passando destarte de essência à vida e cujo progresso se faz sob a vigilância de espíritos prepostos. 

                E assim ele passa. “sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas formas e espécies intermediárias desses três reinos.”

                Nas primeiras fases a essência espiritual, absolutamente sem consciência do seu ser, se manifesta pela essência da vida.

                Percorrendo todos os degraus da escala e chegando ao desenvolvimento máximo nesses reinos, das suas formas intermediárias, o espírito em estado de formação e continuamente sob a vigilância dos espíritos propostos, é conduzido para mundos ad hoc, isto é, mundos apropriados ao fim colimado, para dele ser expurgada toda a materialidade que o contato da matéria grosseira lhe imprimiu.

                Aí, ele se prepara para entrar propriamente na vida espiritual, chegando por tal processo ao verdadeiro estado de espírito formado, consciente e responsável. 

                E, então, quando ele se apossa do livre arbítrio, isto é, da faculdade de pensar e de agir por sua vontade.

                De posse dose dom (o livre arbítrio) ele opera, preparando a constituição fluídica que se chama períspiríto, a fim de poder agir sobre a matéria.

                Donde se vê que o espírito não pode agir sobre a matéria, a qual não é possível ligar-se sem esse agente intermediário. O perispírito, pois, é bem o veículo pelo qual o espírito se pode ligar e agir na matéria.

                Do que temos dito se conclui que o espírito em formação, durante todo esse tempo em que esteve ligado intimamente à matéria, faz o seu progresso relativo e proporcional. Indo para o mundo ad hoc, sofre todo o expurgo da materialidade que lhe imprimiu o contato íntimo da matéria. É então quando ele tem entrando na vida de livre pensador. Nessa estação de chegada, o espírito fica plenamente constituído com todas as suas faculdades, tornando-se, por isso, incompatível com a ligação direta à matéria; daí a necessidade de um agente intermediário, de um veículo que lhe permita entrar com relações e ter contato, mais ou menos íntimo, com a matéria grosseira.

                Peço, com muito empenho, a vossa atenção para este ponto primordial.

                Tudo está ligado por atos contínuos e indestrutíveis, no universo.

                Não há solução de continuidade.

                Essa mesma cadeia, que de Deus parte e que a Ele volta contém em si tudo quanto é necessário para a execução do Seu plano divino: a Criação.

                Os seus elos estão ligados pelos reinos intermediários (permitam a expressão) e participam das espécies relativas.

                Assim sendo, o elo final não podia dispensar essa ligação, e, daí, a formação natural e lógica do perispírito, que, necessariamente, tem de participar das duas naturezas, a espiritual e a material. 

                Vede como é profunda e grandiosa essa cadeia infinita, que liga todas as coisas e tudo na ordem universal e que conduz o amor do homem ao amor infinito e puríssimo do seu Criador, do seu Deus!

                O espírito depois de plenamente constituído, de posse do livre arbítrio, consciente, dotado do inteligência e vontade com todos os seus predicados, forma, como vimos, o seu perispírito, para poder movimentar esses dotes e ser com eles o próprio artífice do seu progresso.

                Agora vejamos como o próprio espírito colabora na confecção do seu perispírito.

                Constituído o espírito do modo como vimos ele expor, ele, com o concurso e direção de espíritos propostos e por intermédio do magnetismo, atrai da atmosfera do mundo ad hoc, onde ele então se acha, o fluido necessário que, combinado com os elementos do seu próprio ser espiritual, forma em torno de si o envoltório que se denomina perispírito.  Dizemos e empregamos o termo elementos, porque nos falta um termo apropriado que defina coisas que não estão sujeitas à análise dos nossos sentidos de homens.

                Pois que o espírito é alguma coisa de real, é óbvio que tem uma origem preparada.

                Tudo na natureza é sabiamente preparado e previsto. 

                Tomai de uma semente e analisai-a. Os nossos instrumentos, imperfeitos que são, pouco nos dizem da sua essência. 

                E, no entanto, lá está a vida, o espírito em formação; o tipo da espécie, o gérmen da procriação, enfim, tudo quanto se faz necessário ao fim para que foi criado.

                Da pequenina semente iremos até aos mundos em formação. Sempre a mesma ordem presidindo a tudo. Tudo está, maravilhosamente, atendido e organizado.

                Prossigamos: 

                O Espírito combina esses dois elementos, um tirado do seu próprio ser, o outro extraído da atmosfera em que ele se acha envolvido, e forma o seu envoltório, no princípio tão sutil que dificilmente é percebido pelos próprios espíritos prepostos, segundo eles mesmos nos dizem.

                À proporção que o espírito vai agindo, mais visível se vai tornando o seu envoltório.

                A- parte espiritual do perispírito é o receptáculo das impressões do espírito.

                Ela participa das suas condições morais. A material participa das condições do elemento atmosférico.

                Assim sendo, é claro que é o espírito quem modifica as condições do períspirito, tornando-o mais ou menos grosseiro, pesado e materializado, de acordo com os seus sentimentos.

                Quando o espírito muda de planeta, reforma o seu perispírito quanto à parte material, deixando-a na atmosfera do planeta de onde saiu, porque agora essa parte tem de ser tirada da atmosfera do novo planeta em que vai o espírito habitar.

                A parte espiritual conserva-se até que se modifiquem as condições morais do espírito.

                Como vedes, o assunto é complexo e profundo e o expositor é baldo de recursos.

                Perdoai-me se não satisfiz às vossas exigências.

                Uma coisa vos pede o vosso companheiro, é que estudeis a Revelação da Revelação dada a Roustaing e muito melhor do que eu compreendereis o ponto em questão.


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