Ecos e Fatos
A Redação Reformador (FEB) 1º Dezembro 1912
Não fosse a respeitabilidade do escritor, um dos mais famosos talentos que honram a nossa literatura, como outrora honrou o parlamento brasileiro, sob a monarquia, e que só por uma dessas inexplicáveis aberrações se conserva jungido a disciplina do obsoleto romanismo – tão distanciado do espírito cristão – e não nos julgaríamos no dever de tomar em consideração o seu escrito, tal a fragilidade dos argumentos invocados em condenação do Espiritismo.
É verdade que, para revestir a sua palavra da
indispensável autoridade no assunto, declara já o haverem atraído “as
inquirições espiritistas”, a que “lealmente consagrou não pouco tempo e
atenção.”
Não temos a menor dúvida em
acreditar que se tenha ele aplicado a algumas experimentações, sem método e sem
a prévia, demorada e indispensável iniciação teórica, e que nessa prematura
incursão, às apalpadelas e sem critério, no domínio do invisível, as mais
lamentáveis decepções, como de resto acontece à grande maioria, senão à
totalidade, dos experimentadores sôfregos e imprudentes, lhe tenham sido
reservadas. Daí o considerar “a
comunicação com os espíritos um comércio com elementos demoníacos (?) altamente
condenável e danoso.”
O conhecimento, porém, que imagina
possuir da doutrina espírito, cujo estudo evidentemente não se quis dar ao
trabalho de empreender, pois ser avaliado pela exatidão com que declinou o nome
e a profissão de Allan Kardec, “pseudônimo – diz ele – do Sr. DUVOILLE, gerente que foi de uma casa de pensão nos arredores de Paris.”
O ilustrado articulista que, apesar
de discípulo da escola aristocrática do Vaticano, a cuja classe nobiliárquica
pertence, como titular que é, tivesse o autor da 1099ª cota aos casos qualquer
intuito deprimente a respeito de Allan Kardec, ao atribuir-lhe aquela
profissão.
Para tolher-lhe, ao demais, qualquer
assomo em tal sentido, de dele fosse capaz,aí estaria a própria história do
Cristianismo, desce a incomparável figura de seu divino instituidor, a
demonstrar que tudo ele – o Cristianismo – no seu brevíssimo período inicial de
três a quatro séculos, único em que como tal mereceu essa denominação, antes de
se converter no intolerante, soberbo e pomposo catolicismo romano, foi a
epopeia dos humildes e obscuros.
Quem mais humilde, aos olhos dos
homens e para a sua edificação, do que Jesus? E depois dele, a maior figura do
Cristianismo, pois que foi a alma intrépida e infatigável de sua organização –
o iluminado Paulo – que posição ocupava na sociedade?
Era um simples tecelão, posto que,
por seus talentos e cultivo, se impusesse à admiração de seus contemporâneos.
Como ele, os discípulos do Cristo e
os apóstolos eram de modesta condição, o que de resto não sucedera por acaso,
mas segundo as sábias vistas da Providência, para confundir a soberba dos
grandes e a dos que, intitulando-se mais tarde continuadores e representantes
do humilde Nazareno, haviam de alimentar entre os homens as distinções de
classes e de castas e até criar ordens honoríficas e instituir na Terra um
principado.
Sem remontarmos tão longe, poderíamos recordar que um
dos grandes fundadores de religiões – Maomé – não fora julgado incompatível com
esse elevado ministério pelo fato de ser um mero pastor, ou tangedor de
camelos.
Se, pois, tivesse Allan Kardec sido
“gerente de uma casa de pensão”, isso em nada amesquinharia o seu mérito e
ainda menos o valor da obra que veio na Terra providencialmente executar.
A verdade, porém, é outra, bem
diversa, e como só a verdade é que nos propomos restabelecer aqui, à
retificação, que acima fica, do nome de Allan Kardec, acrescentaremos as
seguintes notas biográficas, particularmente relativas aos cargos que exerceu
na Terra e ao preparo de que era dotado o codificador do Espiritismo, as quais
se encontram na MEMÓRIA HISTÓRICA publicada pela Federação Espírita Brasileira
(págs. 10 a 12).
“Ele (Allan Kardec) – diz o seu
biógrafo, Sr. Henri Sausse era bacharel em letras e ciências e doutor em
medicina, tendo feito todos os estudos médicos e defendido brilhantemente sua
tese. Linguista distinto, conhecia a fundo e falava corretamente o alemão e o
inglês, o italiano e o espanhol; conhecia também o holandês e podia facilmente
exprimir-se nessa língua.”
Nota do Blog:
Allan
Kardec não se graduou em Medicina! Vide, para o necessário esclarecimento, o
livro “Allan Kardec – Meticulosa pesquisa biográfica” (Ed. FEB), em 3 volumes,
de autoria de Francisco Thiesen e Zêus Wantuil.
Discípulo que havia sido do célebre educador Pestalozzi, começara a vida prática, fundando em Paris, à rua de Sèvres nº 35 e de sociedade com um tio, um “Instituto Técnico” de ensino nos moldes do de Yverdun e de que era diretor.
Como seu sócio, que tinha a paixão
pelo jogo, houvesse comprometido os haveres da sociedade, dissipando grandes
somas, Allan Kardec requereu a liquidação do Instituto e colocou em mãos de um
amigo, negociante, os 45000 francos que lhe couberam na partilha, mas que
vieram a perder-se com a falência daquele, em consequência de maus negócios.
Terminaremos estas notas, informando
que, tendo sido as diversas obras pedagógicas publicadas por Allan Kardec, e
que o biógrafo menciona, adaptadas pela Universidade de França, e vendendo-se
abundantemente, pode ele reunir um modesto pecúlio que o abrigou das
necessidades até ao fim da vida e lhe permitiu, quando veio mais tarde a
conhecer o Espiritismo, dedicar-se ao seu estudo e propaganda, sem inquietações
materiais.
-Não foi mais feliz o ilustrado
crítico das “Gotas aos Casos”, quando dirige suas setas contra as manifestações
espírita, pretendendo fundar-se na proibição contida no DEUTERONÔMIO XVIII,
41-42).
Essa proibição, formulada sabiamente
por Moisés e motivada pelo mal uso que o povo, grosseiro e ignorante, fazia das
evocações, é equivalente às recomendações que os próprios espíritas
esclarecidos hoje fazem acerca das cautelas a adotar e dos elevados fins a ter
em vista, nas experimentações mediúnicas.
Nunca, porém, Moisés, que era um
grande iniciado, poderia condenar de um modo absoluto as relações com o
invisível, ele que, médium de poderosas faculdades, as cultivava com sabedoria
e oportunidade. O espaço, de que já abusamos, não nos permite citações. Mas
quem quer que estude o Velho Testamento “com o espírito que o ditou”, segundo a
recomendação da ‘Imitação de Cristo’, não terá dificuldade em reconhecer a
frequência da intervenção dos invisíveis em toda a história dos hebreus e com o
concurso dos profetas, que outra coisa não eram senão médiuns de diferentes
faculdades.
Essa mesma intervenção dos seres
espirituais é igualmente frequente em vários episódios da história evangélica e
nos primeiros tempos da propaganda do Cristianismo.
Paulo, em mais de uma passagem de
suas epístolas, dirige recomendações aos círculos cristãos, nas quais se
percebe claramente que eles cultivavam as manifestações espíritas (leia-se, por
exemplo, I Coríntios, XIV, 26-32).
E que quer dizer esta recomendação
de João, o evangelista, em sua 1ª Epístola (cap. IV, 4), “caríssimos, não
creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus”, senão que os
primeiros cristãos praticavam, em suas reuniões, o comércio com os espíritos,
tal como sucede agora nos círculos espíritas?
E que aí tanto se podiam manifestar
os bons como os malévolos espíritos, prova-o essa mesma advertência de João,
tornando indispensável a análise dos ensinamentos do invisível, para repudiar
os falsos e admitir somente os verdadeiros.
Há, assim, uma perfeita similitude
entre o que praticavam os primeiros cultores da doutrina de Jesus e os seus
discípulos atuais, pois que o Espiritismo, em seu ensino e aplicações, não vem
fazer mais que restabelecer em espírito e verdade aquela doutrina, deturpada
por seus infiéis depositários.
Já não temo, infelizmente, espaço
para analisar os motivos por que a igreja, a medida que se afastava do ideal
cristão, modificava as suas práticas, terminando por proibir toda relação com o
invisível e erigindo-se autoritariamente em única intérprete das sagradas
letras.
Ao talentoso escritor, porém, que
nos proporcionou o afortunado ensejo desta réplica, não terminaremos sem
recomendar que, analisando com sua inteligência de claro descortino os
significativos caracteres da concordância histórica a que acabamos de aludir,
procure melhor compreender as razões desta Revelação nova, que tantas
hostilidades provoca no campo do materialismo e das religiões positivas,
feridas em seus tenazes interesses.
E, se o não tolhem as malhas da
intolerância sectária dessa igreja, que já não é a do Cristo e não tem, por
isso, o direito de imperar sobre as consciências esclarecidas que buscam na
Verdade a liberdade que o Cristo prometeu, leia os livros da doutrina, sem
esquecer esse precioso escrito que é o “Roma
e o Evangelho” e as obras de Léon Denis, e, como Paulo, que descobrira ao
fim o “Deus desconhecido”, saberá onde se asila o espírito do Cristianismo
rejuvenescido.
É tal o poder de expansão do
Espiritismo, tão generalizadas se vão fazendo suas conquistas no domínio das
inteligências esclarecidas e emancipadas que até jornais profanos já o tomam
como assunto para editoriais, incertos no lugar de honra, em que é costume
figurarem os artigos políticos.
É o
que, pelo menos, acabamos de ter a satisfação de verificar no Estado do Rio,
hebdomadário independente que se publica na Paraíba do Sul, em cujas edições de
17 e 24 de outubro encontramos, no indicado lugar, dois interessantes e bem
traçados artigos, respectivamente intitulados “O Espiritismo através das épocas” e “A vitória do Espiritismo”.
O fato, pela sua significação,
merecia bem este registro, constituindo um precedente, não somente honroso para
o seu autor, como digno de ser imitado pelos que compreendem a verdadeira
função do jornal: instruir e esclarecer o povo nos conhecimentos mais
necessários ao seu progresso espiritual.
O fato que
o nosso colega ETERNIDADE, de Porto Alegre, reproduziu do 'EL BUEN SENTIDO', de
Ponce, sob a epígrafe “O fantasma do caçador” e que, por sua vez, em seguida
transcrevemos, apresenta de singular a circunstância de se reproduzir a
aparição ainda ao fim de cinquenta anos da desencarnação do espírito, que nele
fora protagonista.
Permaneceria ele todo esse tempo em
estado de perturbação, ou essa imagem seria apenas a figura fluídica do
desaparecido, segundo a teoria dos teosofistas, flutuando como uma sombra, no
lugar em que ocorrera o desastre? Ou seria que a presença eventual do espírito
aí, evocando a lembrança do ocorrido, criara pelo pensamento a forma fluídica
do caçador vitimado?
A narrativa é esta:
“No excelente colega 'EL BUEN
SENTIDO', de Ponce, encontramos a seguinte narrativa que, com a devida vênia,
passamos também para nossas colunas:
“Lendo uma interessante revista, nos
veio à ideia relatar um estranho fato sucedido, faz dois anos em 4 de outubro
último, e do qual fomos testemunhas.
Havíamos alugado, em Sologne, uma
pequena propriedade. Uma tarde, após a caçada, nos sentamos junto ao fogão,
alumiados somente pela alegre chama produzida por uma acha, alquebrada pelo
cansaço, fumávamos em silêncio, quando acreditamos perceber, refletindo-se no
espelho uma espécie de vapor esbranquiçado que desapareceu quase
instantaneamente. A princípio, não prestamos atenção; porém, dez minutos
depois, a aparição se tornou mais clara. Voltamo-nos ao mesmo tempo e vimos
claramente um homem de elevada estatura, que parecia estar encostado a uma
cadeira e deixava pendente uma espingarda. O rosto experimentava uma angústia
terrível e do peito corria um fio de sangue. Quase imediatamente a aparição se
desvaneceu. Olhamos um para o outro, cheios de terror, acreditando termos sido
vítimas de uma alucinação, conquanto isto fosse inverossimel. Mas, no dia
seguinte, ao falar nisso, um guarda nos contou que o pai do antigo
proprietário, o conde de M..., matou-se, acidentalmente, há cerca de 50 anos,
quando lidava com uma espingarda, nessa mesma sala, de volta de uma caçada
particularmente frutuosa.
Não há dúvida de que foi seu corpo
astral o que nos apareceu. – Rogger Hatot de LA SALLE, Conrado Montcertin
Lanternier.”
Que parece aos leitores?
A julgar pelo que diz a 'ANNALE DES
SCIENCES PSYCHIQUES', de Paris, louvando-se em informações prestadas pelo
vice-almirante W. Usborne Moore ao ‘LIGHT’, de Londres, o Escritório Julia, que
realizou a última seção a 14 de julho passado, parece que se não tornará a
abrir.
Para que o pudesse fazer, mantendo
integralmente o programa instituído pelo malogrado e benemérito William Stead,
seria necessário que um filantropo como ele se incumbisse da manutenção do
Escritório, que orçava por mil libras esterlinas anualmente (cerca de 15 contos
de réis), pois tanto era o que naquele prazo dispendia, com o indicado fim, o
bom velhinho.
Será tanto realmente, assim no ponto
de vista da propaganda, como das consolações que prodigalizava que assim
desapareça definitivamente aquele simpático posto de comunicações com o Além.
Não é destituído de interesse o
seguinte fato relatado pelo nosso colega ETERNIDADE, de Porto Alegre, numa de
suas recentes edições:
“De um colega traduzimos o seguinte:
“A lenda refere que o velho palácio
real de Hampton Court, perto de Londres, é uma mansão encantada, onde aparece o
espectro da rainha Catharine Howard, a infortunada esposas de Henrique IV.
Acerca dessa fábula, o diretor da 'OCCULT REVIEW' recebeu recentemente, de um dos
seus correspondentes, da qual damos aos nossos leitores um simples resumo.
Dias antes de escrever a referida
carta, nossa correspondente dirigiu-se a Hampton Court, lugar de reunião
dominical favorito dos londrinos.
Aí teve conhecimento do seguinte
fato, ocorrido com uma senhora:
Depois dela ter visitado o belo
parque e o palácio, propôs-se fazer uma visita à capela real, mas preveniram-na
de que tais visitas não eram permitidas senão por ocasião do ofício divino.
Contrariada, a dama prosseguiu em seu caminho, disposta a deixar o parque,
quando no fim do caminho que rodeia a capela, viu perto dela um fantasma, no
qual, apesar de sua forma vaporosa, reconheceu a rainha Catharine Howard, cujo
retrato vira muitas vezes e tinha bem presente na memória. Dirigindo-lhe um
gracioso cumprimento com a cabeça, o fantasma disse-lhe: “Na saída do caminho,
encontrareis uma casinha onde mora o sacristão. Dirigi-vos a ele e ele acederá
a vossos desejos; mas, quando estiverdes dentro da capela, rezai por mim.” Mais
estupefata que assustada, a visitante continuou seu caminho e, no ponto
indicado pelo fantasma, encontrou o sacristão e lhe manifestou o desejo de
visitar a capela.
A visitante terminou, e como
contasse ao sacristão a aparição que acabava de ter, este, sem mostrar-se
admirado, lhe disse:
- O espectro da rainha Catharine
aparece com frequência neste caminho: Já estamos acostumados a vê-lo e não lhe
prestamos muita atenção, pois não faz mal a ninguém.”
Da 'REVISTA DE ESTUDIOS PSIQUICOS', de
Valparaíso, extraímos os fatos abaixo, dos quais o primeiro, por sua
singularidade tanto como pela responsabilidade do observador, nos captou
dobradamente a atenção.
O curioso fenômeno que passamos a
narrar está inserto em uma das obras do preclaro filósofo William Stead, cuja
recente partida para o mundo da verdade abriu tão grande vácuo nas fileiras do
espiritismo. Passemos aos fatos:
Trata-se de um indivíduo
extraordinário, o Sr. Turney, que além das faculdades de clarividência, no
tempo e no espaço, apresenta a particularidade de ver pelo telefone as pessoas
e coisas que estão na extremidade do fio, o que Stead denominou fonevidência.
Turney descobriu sua misteriosa
faculdade em 1903.
“Na clarividência ordinária a grande
distância, diz ele, vejo como que através de um túnel, que cruza todos os
objetos que estão no caminho, cidades, florestas e montanhas.
O túnel termina, por exemplo, no
escritório de Mr. Brown; só posso ver o que se passa no escritório e não em
toda casa. Na fonevidência ao
contrário: em muitos casos parecia-me ver através de uma aura de cor brilhante
do heliótropo ou violeta claro, em cujo centro vejo aparecer a pessoa ou
objeto.
Outra fase da fonevidência, que eu chamo fonevidência
genuína, consiste no seguinte:
Uma parte da minha mentalidade
parece existir fora de mim, a um metro ou dois, e durante a visão pedaços de
fio telefônico, que se acham aderidos uns aos outros, parece mudarem de
posição.”
Do exposto se depreende que Turney
procura explicar por analogia, impressões de perspectiva que só por ele podem
ser percebidas, Isto, pois, é secundário.
Incontestavelmente, o fenômeno da fonevidência, a alguns anos atrás,
ter-se-ia taxado de absurdo, quando as ondas vibratórias ainda não eram
conhecidas como hoje, quando se ignorava que as percepções visuais e auditivas
dependem de ondas vibratórias de extensão diferente.
Sir William Stead apresenta Turney
como pessoa de importância, de situação independente, instruidíssimo, que
possui evidentemente faculdades supranormais, sem ser médium espírita, pois
nunca caiu em ‘trance’ (sono
magnético).
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