Pesquisar este blog

sábado, 16 de outubro de 2021

Dever de Consciência

 

Dever de Consciência

Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro 1977

             Um dos mais importantes deveres do espírita cioso da sua responsabilidade no seio do movimento é a fidelidade integral Doutrina. O estabelecimento do Pacto Áureo fixou admiravelmente as normas de comportamento destinadas a preservar os princípios doutrinários e, felizmente, todas as instituições estaduais tem primado pelo respeito às determinações do referido Pacto, por elas examinado e aceito espontaneamente, consoante a tradição liberal do Espiritismo.

            O Codificador afirmou, com carradas de razão, que “a doutrina é, sem dúvida, imperecível, porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra, corresponde às legítimas aspirações dos homens. Entretanto, a sua difusão e a sua instalação definitivas podem ser adiantadas ou retardadas por circunstâncias várias, algumas das quais subordinadas à marcha geral das coisas, outras inerentes à própria doutrina, à sua constituição e à sua organização. Conquanto a questão de substância seja preponderante em tudo e acabe sempre por prevalecer, a questão de forma tem aqui importância capital; poderia mesmo sobrepujar momentaneamente e suscitar embaraços e atrasos, conforme a maneira por que fosse resolvida”. (“Obras Póstumas”, 15ª edição, páginas 346/7, FEB, 1975)

            A unidade e vistas existente no ambiente espírita do Brasil de hoje é uma bênção do alto, pois todas as entidades estaduais estão absolutamente irmanadas á Federação Espírita Brasileira, representando o pensamento de Ismael. Não obstante toda essa harmonia, ainda encontramos, aqui e ali, irmãos dedicados à causa, que defendem com entusiasmo o Espiritismo, desatentos às infiltrações de princípios estranhos àqueles divulgados por Allan Kardec, convencidos, em sua placidez, de que nada fazem de censurável, ao introduzirem em seus trabalhos ideias e práticas de outras procedências. Alguns querem inovar, por considerarem que sua iniciativa em nada altera o caráter da Doutrina Espírita. Kardec já esperava por isso, porque escreveu sobre “a ambição dos que, a despeito de tudo, se empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer”. Esquecem-se de que não há necessidade de se ir buscar em outras doutrinas o que se supõe não constar da nossa. Enganam-se. A Doutrina Espírita é uma síntese admirável de verdades relacionadas com a vida psíquica do homem, com a realidade do mundo espiritual e sua conexão direta com o mundo físico. Seu caráter eminentemente progressivo e o fato de apoiar-se tão-só nas leis da Natureza lhe conferem uma permanência irrevogável, em virtude da plasticidade que possui, através da qual é capaz de assimilar “todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas”, faculdade que lhe assegura a garantia de perpetuidade.

            Todos sabemos que “não será invariável o programa da Doutrina, senão com referência aos princípios que hoje tenham passado à condição de verdades comprovadas. Com relação aos outros, não os admitirá, como há feito sempre, senão a título de hipóteses, até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ela se modificará nesse ponto.” (Ob. Cit. pág. 350.) O conceito de Kardec é firme: critério de aceitação pelo bom senso.

            O espírita, se integrado à Doutrina, deve ser disciplinado e coerente. Antes de inovar deve pensar, ponderar, verificar as bases doutrinárias, para não vir a criar embaraços perfeitamente evitáveis. Muitos erros são cometidos pela má assimilação dos princípios que regem o Espiritismo. Há necessidade de estuda-los, de examiná-los a fundo, porque, não raro, o que se busca fora do Espiritismo nele está explícito e implícito, bastando apenas meditar um pouco mais.

            Quando, por determinação do Alto, foram lançados os estupendos livros de André Luiz, certos conhecimentos foram mais ampla e minuciosamente abordados, surgindo no campo espírita com naturalidade e agrado. Até então, vários aspectos do psiquismo e suas implicações mais graves não haviam encontrado oportunidade para ganhar o domínio público. Tudo veio na hora certa, em dose certa, de maneira certa, comprovando a vitalidade do princípio progressivo da Doutrina, princípio que, disse Kardec, “será a salvaguarda de sua perenidade” e a segurança da sua unidade, “exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade”.

            Todos sabemos que quase nada foi dito sobre Espiritismo. Mas o que já nos foi dado, por misericórdia de acréscimo, é o de que necessitamos. E não é pouco. Pelo contrário, é mais do que podemos, salvo um caso ou outro, realizar no período de uma reencarnação. Quando for necessário, do Alto virá a providência para a ampliação dos conhecimentos que nos são dados presentemente. O Espiritismo é assunto sério, não se prestando, portanto, a devaneios e especulações pueris, a voos da imaginação, por vaidade ou presunção de sabedoria.

            Há muito trabalho a realizar com o que temos. “Indiscutivelmente, uma doutrina assente sobre tais bases tem que ser forte, em realidade, capaz de desafiar qualquer concorrência e de anular as pretensões dos seus competidores. Aliás, a experiência já comprovou o acerto dessa previsão. Tendo marchado sempre por esse caminho, desde a sua origem, a Doutrina avança constantemente, mas sem precipitação, verificando sempre se é sólido o terreno onde pisa e medindo seus passos pelo estado da opinião. Há feito como o navegante que não prossegue sem ter na mão a sonda e sem consultar os ventos” – concluiu Kardec.

            Que ninguém crie embaraços ao desenvolvimento sadio da obra doutrinária. E a melhor maneira de colaborar com essa obra é respeitá-la, é segui-la com fidelidade. Fraternalmente, esperamos que aqueles que se julgam mais avançados do que a própria Doutrina, sigam o conselho de Paulo (I Timóteo, 4:15):

             “Medita estas coisas: ocupa-te nelas para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.”

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário