Dever de Consciência
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Fevereiro 1977
O Codificador
afirmou, com carradas de razão, que “a doutrina é, sem dúvida, imperecível,
porque repousa nas leis da Natureza e porque, melhor do que qualquer outra,
corresponde às legítimas aspirações dos homens. Entretanto, a sua difusão e
a sua instalação definitivas podem ser adiantadas ou retardadas por circunstâncias
várias, algumas das quais subordinadas à marcha geral das coisas, outras
inerentes à própria doutrina, à sua constituição e à sua organização. Conquanto
a questão de substância seja preponderante em tudo e acabe sempre por
prevalecer, a questão de forma tem aqui importância capital; poderia mesmo
sobrepujar momentaneamente e suscitar embaraços e atrasos, conforme a maneira
por que fosse resolvida”. (“Obras Póstumas”, 15ª edição, páginas 346/7, FEB,
1975)
A unidade e
vistas existente no ambiente espírita do Brasil de hoje é uma bênção do alto,
pois todas as entidades estaduais estão absolutamente irmanadas á Federação
Espírita Brasileira, representando o pensamento de Ismael. Não obstante toda
essa harmonia, ainda encontramos, aqui e ali, irmãos dedicados à causa, que
defendem com entusiasmo o Espiritismo, desatentos às infiltrações de princípios
estranhos àqueles divulgados por Allan Kardec, convencidos, em sua placidez, de
que nada fazem de censurável, ao introduzirem em seus trabalhos ideias e
práticas de outras procedências. Alguns querem inovar, por considerarem que sua
iniciativa em nada altera o caráter da Doutrina Espírita. Kardec já esperava
por isso, porque escreveu sobre “a ambição dos que, a despeito de tudo, se
empenham por ligar seus nomes a uma inovação qualquer”. Esquecem-se de que não
há necessidade de se ir buscar em outras doutrinas o que se supõe não constar
da nossa. Enganam-se. A Doutrina Espírita é uma síntese admirável de verdades
relacionadas com a vida psíquica do homem, com a realidade do mundo espiritual
e sua conexão direta com o mundo físico. Seu caráter eminentemente progressivo
e o fato de apoiar-se tão-só nas leis da Natureza lhe conferem uma permanência irrevogável,
em virtude da plasticidade que possui, através da qual é capaz de assimilar “todas
as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou
metafísicas”, faculdade que lhe assegura a garantia de perpetuidade.
Todos
sabemos que “não será invariável o programa da Doutrina, senão com referência
aos princípios que hoje tenham passado à condição de verdades comprovadas. Com
relação aos outros, não os admitirá, como há feito sempre, senão a título de hipóteses,
até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está em erro acerca de um
ponto, ela se modificará nesse ponto.” (Ob. Cit. pág. 350.) O conceito de
Kardec é firme: critério de aceitação pelo bom senso.
O
espírita, se integrado à Doutrina, deve ser disciplinado e coerente. Antes de
inovar deve pensar, ponderar, verificar as bases doutrinárias, para não vir a
criar embaraços perfeitamente evitáveis. Muitos erros são cometidos pela má
assimilação dos princípios que regem o Espiritismo. Há necessidade de estuda-los,
de examiná-los a fundo, porque, não raro, o que se busca fora do Espiritismo
nele está explícito e implícito, bastando apenas meditar um pouco mais.
Quando, por
determinação do Alto, foram lançados os estupendos livros de André Luiz, certos
conhecimentos foram mais ampla e minuciosamente abordados, surgindo no campo
espírita com naturalidade e agrado. Até então, vários aspectos do psiquismo e
suas implicações mais graves não haviam encontrado oportunidade para ganhar o
domínio público. Tudo veio na hora certa, em dose certa, de maneira certa,
comprovando a vitalidade do princípio progressivo da Doutrina, princípio que,
disse Kardec, “será a salvaguarda de sua perenidade” e a segurança da
sua unidade, “exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade”.
Todos sabemos que
quase nada foi dito sobre Espiritismo. Mas o que já nos foi dado, por misericórdia
de acréscimo, é o de que necessitamos. E não é pouco. Pelo contrário, é mais do
que podemos, salvo um caso ou outro, realizar no período de uma reencarnação.
Quando for necessário, do Alto virá a providência para a ampliação dos
conhecimentos que nos são dados presentemente. O Espiritismo é assunto sério,
não se prestando, portanto, a devaneios e especulações pueris, a voos da
imaginação, por vaidade ou presunção de sabedoria.
Há
muito trabalho a realizar com o que temos. “Indiscutivelmente,
uma doutrina assente sobre tais bases tem que ser forte, em realidade, capaz de
desafiar qualquer concorrência e de anular as pretensões dos seus competidores.
Aliás, a experiência já comprovou o acerto dessa previsão.
Tendo marchado sempre por esse caminho, desde a sua origem, a
Doutrina avança constantemente, mas sem precipitação, verificando sempre se é
sólido o terreno onde pisa e medindo seus passos pelo estado da opinião. Há
feito como o navegante que não prossegue sem ter na mão a sonda e sem consultar
os ventos” – concluiu Kardec.
Que ninguém crie embaraços ao desenvolvimento sadio da
obra doutrinária. E a melhor maneira de colaborar com essa obra é respeitá-la,
é segui-la com fidelidade. Fraternalmente, esperamos que aqueles que se julgam
mais avançados do que a própria Doutrina, sigam o conselho de Paulo (I Timóteo,
4:15):
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