“Reverência ao Codificador”
por Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Outubro 1964
O 3 de Outubro de 1804 constitui um
marco na luta pela evolução moral do homem na Terra. Kardec teve uma preparação
intelectual e moral relativamente longa, pois era preciso que se ilustrasse,
que tomasse sólido conhecimento dos problemas humanos, que adquirisse larga
experiência, antes de ser chamado ao cumprimento de sua missão. Assim,
cinquenta anos depois, isto é, em 1854, teve, pela primeira vez, sua atenção
atraída para o Espiritismo, mais precisamente para as “mesas girantes”.
Kardec, entretanto, não era homem fácil de
convencer. Só aceitava uma ideia depois de examiná-la
séria e profundamente, esgotando todos os argumentos a ela contrários.
Ao lhe dizerem certos Espíritos que teria de
cumprir uma espinhosa missão, respondeu que tinha “o maior desejo de
contribuir para a propagação da verdade”, mas não se achava talhado para
tão grande responsabilidade, pois confessara que dificilmente acreditava nessa
missão.
O fato é que, ao convencer-se de que não lhe
faltaria a assistência espiritual imprescindível ao seu trabalho, aceitou a incumbência.
As lutas de Kardec, pela codificação, pela
vulgarização dos livros doutrinários, pela defesa do Espiritismo, atacado pelo
clero e pelo cientificismo pedante, foram tremendas. Não estivesse ele
preparado para resistir a tantos ataques, não fora um homem de moral férrea e
temperamento vigoroso, a iniciativa teria malogrado. Mas, se os Espíritos o
escolheram foi porque sabiam que seria capaz de levar avante a ideia que
aguardava há muito tempo o aparecimento na Terra de um homem com o conjunto de
virtudes morais e intelectuais que ele representava.
O “Espírito de Verdade” prevenira-o de que
se acautelasse, porque, “para lutar com os homens, são indispensáveis coragem,
perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato,
a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com
palavras ou medidas intempestivas.
Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação, e
disposição a todos os sacrifícios.”
Grande homem! Espírito eleito! Kardec, já
forjado o caráter na vida que lhe havia sido reservada antes de aceitar a
honrosa e grave responsabilidade, esteve à altura da confiança nele depositada.
E não falhou. Não esmoreceu. Não desmereceu.
O Pentateuco Espírita – “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese” – atestam a
grandeza da sua tarefa, monumental por seu conteúdo filosófico, científico e
religioso, assim como por sua extensão.
Quantos benefícios têm sido feitos à
Humanidade pelo Espiritismo? Quantas vidas salvas, retificadas, amparadas e
iluminadas pelas obras assinadas pelo ilustre Codificador!
Transferimos para nós todos, neste momento, o
exame da grandiosidade do labor de Kardec. Evidentemente, dele não foi todo o
grande trabalho, porque superiores Espíritos realizaram a parte mais relevante
da mensagem do Consolador. Todavia, coube a Kardec interpretá-la, pô-la em
ordem, ajustá-la, codifica-la, enfim. E que serviço! Não houvesse ele podido
contar com a assistência espiritual, talvez, nos momentos mais agudos, sentisse
dificuldade em tomar a decisão certa. Mas
qual! Se não lhe faltava a assistência do Alto, também não lhe escasseava valor
próprio para discernir e saber qual o caminho mais aconselhável a seguir em determinadas
circunstâncias.
Os Espíritos, entre eles o “Espírito de
Verdade”, sem perderem de vista o missionário, não interferiam em seu livre
arbítrio, embora exercessem, quando oportuno, a crítica justa e construtiva,
como quando cometeu um erro na elaboração de “O Livro dos Espíritos” e foi
advertido por meio de pancadas ouvidas e interpretadas com acerto, tanto que
Kardec revisou o que estava pronto, encontrando outros defeitos, sendo, assim,
conduzido a refazer o trabalho.
Houve um tempo em que levou em que levou
cerca de um ano sem receber qualquer comunicação escrita em sua casa. E
confessou: “Somente fora da minha casa lograva eu receber comunicações.”
Porque isso? Naturalmente porque o “Espírito
de Verdade” não desejava que ele, em sua casa, só com o médium, pudesse ser involuntariamente
induzido a qualquer equívoco que o fizesse, depois, vacilar quanto à segurança
dos comunicados.
Em 1º de janeiro de 1867, com 63 anos,
lembrava que a comunicação do “Espírito de Verdade”, entremostrando-lhe os
percalços futuros, “se realizou em todos os pontos”. Ele sofreu todas as
vicissitudes preditas. Foi traído por aqueles em quem mais confiava, caluniado,
invejado, difamado, atacado por quem lhe devia muitos serviços.
Semelhante comprovação, em vez de constituir
desânimo para esse homem admirável, ainda mais robusteceu a sua fé no
Espiritismo, consolidando a confiança já enorme que tinha em o “Espírito de
Verdade” e em outros Espíritos elevados.
Eis porque, espíritas que tendes a
responsabilidade de direção de qualquer obra, qualquer serviço no Espiritismo,
não vos deixeis quebrantar pelas traições, injúrias, mentiras, intrigas.
São coroas de espinho que os ineptos põem na
cabeça dos que se sacrificam tudo de material pela realização de serviços
humanitários, de propaganda de obras benéficas e salvadoras. A maldade dos
homens espiritualmente atrasados constitui a cruz que todo homem evoluído
carrega aos ombros.
Quantos companheiros nossos tem sofrido o
mesmo? Sofrem calúnias, críticas soezes daqueles que nada realizam, a não ser o
derrotismo. Mais tarde, quando chegar a hora do ajuste de contas, os que
perseveram na luta bendita, apesar de todos os sofrimentos morais, ainda se
curvarão bondosamente, na Espiritualidade, para levantar do chão os irmãos que
tentaram enlameá-los infrutiferamente.
Que grande significação tem para nós, espíritas,
o 3 de Outubro!
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