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domingo, 13 de janeiro de 2013

20 (e final) - 'As Vidas Sucessivas'


20

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943


PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS II

           
            "Astronomicamente falando, a Terra não recebeu nenhum privilégio sobre os outros planetas e não tem nenhuma proeminência notada no sistema solar de maneira a ser o único mundo habitado, pois os outros planetas estão tão bem como ela dispostos para a habitação da vida". (Flammarion)
           
            "Globos habitados cujos hóspedes pensantes vivem como eu vivo e sentem como eu sinto; uns mais abatidos e outros talvez do que nós mais elevados sobre os de degraus da vida"! (M. Ponsard)


            Flammarion, depois de nos descrever o aspecto da vida terrestre, as suas manifestações, transformações e relação íntima, segundo o meio em que se manifestam; depois de nos mostrar que os seres se diferenciam segundo a constituição dos mundos que habitam e que ninguém poderá, jamais, traçar limites às possibilidades de vida nos ditos mundos; depois, enfim, de analisar a composição química dos corpos, os meios, elementos e forças da natureza, termina um dos capítulos de seu livro perguntando: "Não  gozam esses mundos dos mesmos beneficies que a Natureza a nós proporciona e não recebem, também eles, os raios fecundantes do mesmo Sol? Por que estas neves de Marte se derretem em cada primavera e descem a saciar as suas campinas? Por que estas nuvens de Júpiter, que espalham a sombra e frescura em suas planícies imensas? Por que esta atmosfera de Vênus, que banha seus vales e suas montanhas? Oh! mundos esplêndidos que vogais longe de nós. nos céus", só nos falais de vida eterna e infinita, como infinito e eterno é Deus, que preside a harmonia universal.

            O calor e o frio, a profundeza dos mares e a altitude atmosférica não constituem obstáculos à manifestação da vida. Haja vista o material recolhido por James Ross em suas viagens ao polo austral, as espécies retiradas das profundezas do golfo de Erebus, e os vibriões secos sobre os telhados expostos ao sol de verão e cobertos pelo gelo do inverno e que tornam à vida depois de anos de morte aparente.

            E o que pensarmos dos minúsculos infusórios? Numa gota d'água, segundo Herschel, há uma população imensa de animálculos de todos os tamanhos que seria impossível colocar-se a ponta de uma agulha sobre um só lugar desocupado.

            Para a vida e para a fecundidade da Natureza, não há limites, pois um só díatomêu pode, no espaço de quatro dias, produzir mais de 150 mil indivíduos da sua espécie. Sir David Brewster diz que um planeta sem habitantes seria como um navio atravessando os mares sem passageiros e sem carregamentos - inútil.

            E com referenda aos outros mundos, escreve o mesmo autor: - "Archotes que nada esclarecem; tocos que nada aquecem; águas que nada refrescam; nuvens espalhando a sombra sobre o nada; brisas soprando sobre o nada; e tudo na natureza: montanhas e vales, terras e mares. tudo existindo e de nada servindo!"

            Transcrevemos, a seguir, o que disse Garbedian em "O Romance da Ciência", págs. 42, 43 e 44, sobre a possibilidade de existência da vida animal em outros planetas:

            "Tanto quanto sabemos, Vênus está em condições de manter existência semelhante à nossa. e alguns astrônomos já admitiram a audaciosa hipótese de que se fôssemos transportados para Vênus poderíamos, talvez, continuar a viver alí sem graves perturbações em nossos hábitos! Contudo, Vênus é, sob muitos aspectos, um planeta de mistério.

            Sabemos com certeza que é mais ou menos do mesmo tamanho da Terra e que provavelmente a temperatura não é ali muito mais alta, porém, a densa camada de nuvens que envolve completamente o planeta, nos esconde a sua superfície. Se água e oxigênio, dois elementos essenciais à vida, tal como a conhecemos na Terra, existem por baixo dessas nuvens, é uma questão que continua a desafiar a ciência.

            "Embora certos astrônomos achem que as possibilidades de vida sejam maiores em Vênus que em Marte, do estudo direto deste último resultam provas mais substanciais. Estas provas conduzem com certeza irrefutável à conclusão de que, pelo menos em Marte, existe vida vegetal e de tipos inferiores do reino animal. Nos anos mais recentes, estudos científicos do clima, das cintilantes coroas polares e dos misteriosos "canais" de Marte foram intensificados pela descoberta de que, ao contrário do que antes se imaginava, a temperatura nesse planeta não é muito diferente da que reina em um agradável dia de outubro em Nova York ou Londres. Além disso, novas observações estâo assentando mais sólidos fundamentos à ciência de que o planeta rubro tem calor, água e oxigênio, três requisitos de vida. Tanto pela fotografia quanto pela observação direta, têm-se obtido provas de que as áreas sombrias da superfície de Marte, enigma por tanto tempo indecifrável para os astrônomos, sofrem aparentemente transformações que são características da vida, vegetal; resulta disso que a ciência considera agora a existência de vegetação em Marte como bem estabelecida. Na Terra, a vida animal de ordem inferior acompanha sempre, de alguma forma, a vegetação extensiva.

            Analogamente, podemos raciocinar de que isso é também verdadeiro em Marte. E a ciência o admite.
 
            "Estes desconhecimentos levaram alguns astrônomos a conceber no planeta vizinho uma sociedade altamente organizada, que compreendia em seu seio hábeis marcianos construtores de canais.

            O falecido Dr. Percival Lowell e o Dr. Pickering estão entre os sábios que subscreveram esta hipótese avançada. Outros, Eddington, Russel e Aitken, sustentam que as observações da ciência não excluem a existência em Marte de uma vida animal altamente organizada, mesmo de uma civilização de seres inteligentes."

            A possibilidade de vida em outros mundos, é ainda comprovada pelas quedas de aerólitos, atravessando, como enviados misteriosos, aterradoras distancias, para chegar até nós. O mais notável de todos os bólides caídos, foi por certo aquele que, em 14 de Maio de 1864, despencou-se no sul da França. Examinado, ficou constatado que trazia em si água e turfa, sendo que esta última só se forma pela decomposição de vegetais na água.

            Esse aerólito, chamado de Orgulho, veio de um globo onde existem água e substâncias análogas à nossa vegetação. A matéria orgânica vegetal, encontrada no jardim botânico de Sienne, também de origem meteórica, segundo Ancelot, continha oxigênio, carbono e hidrogênio.

            Isso em 1830. Sendo, pois, o clima favorável à vida vegetal, por que não seria à vida normal?

            Devemos ainda ponderar que houve tempo em que a Terra estava vazia e que mesmo não existia antes de sua desagregação de nebulosa originária.

            A vida surgiu e evoluiu. 'Por que não se daria o mesmo em relação aos outros planetas?

            "O corpo humano não passa por todos os degraus de animalidade em seu primeiro período embriogênico, e estas fases rápidas, que se volvem silenciosamente no seio materno, não são indícios da gênese do homem sobre a Terra?"

            Não se confundam as substâncias terrestres com as de origem cósmica, como a "chuva vermelha caída no dia 16 de Novembro de 1864, no sudoeste francês, bem como o maná em Zaiviel, no mesmo ano. Paertus faz referências à chuva de "sapos", como espécies da zoologia extraterrestre.

            A imensidade dos céus é comprovada pela Via Látea, que é uma nebulosa da qual fazemos parte e que tem "apenas" dezoito milhões de sóis!!! Tinha razão o salmista ao exclamar:

            "-  Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, que é o homem mortal para que te lembres dele?" (Salmos, VIII-3).

            Wolffe, Founer, Bernardin Saint - Pierre, Huygens, Edgar Poe, descreveram, em romances científicos, os habitantes dos outros planetas, pois se a Terra fosse o único mundo habitado, estaria em contradição com o esplendor do seu Criador, e incompatível com a perfeição de sua obra, por ter formado um mundo inferior, imperfeito e mesmo miserável, onde impera a indefectível lei da morte, onde os vivos se alimentam de outros vivos. Nossa Terra é que não recebeu, no quinhão que lhe tocou, nenhum privilégio sobre os outros planetas. Estes, pelo contrário, gozam de uma hegemonia em tamanho e em clima.

            Jesus dizendo à Samaritana: "Não adorarão mais sobre esta montanha nem em Jerusalém porém os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espirito e em Verdade", (João, IV- 21 ), ampliou, sem especificar região alguma, o culto eterno a Deus, extensivo aos habitantes de todos os mundos, constituindo uma só humanidade.

            Tudo é eterno e tudo se transforma, tudo evolui, porque à pluralidade dos mundos habitados, corresponde a pluralidade das existências.

            Iremos progredindo até sermos perfeitos como perfeito é Deus, Senhor dos mundos sintetizados numa única palavra: Universo.

            Jesus mesmo disse: "Há muitas moradas na casa de meu Pai:" João, XIV-2; dando-nos uma ideia da pluralidade dos mundos, e Paulo em II aos Coríntios, XII-   H, nos fala de um homem que foi arrebatado até ao terceiro céu e depois ao paraíso. Só nessa passagem temos o testemunho do Apóstolo dos gentios, da existência de quatro (4) mundos superiores.

            Em Éfesos, IV       ; lemos: "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu ACIMA DE TODOS OS CÉUS". O que quer dizer: Atravessou todos os mundos superiores, até atingir outra região paradisíaca, ou seja, a mansão dos justos.

            Concluamos, pois, com Flammarion:  

Iº  "As forças diversas que estiveram em ação na origem das coisas, deram nascimento sobre os mundos a uma grande diversidade de seres, ou nos reinos inorgânicos, ou nos reinos orgânicos."

2º  "Os seres animados foram, desde o começo, constituídos segundo formas e segundo um organismo em correlação com o estado fisiológico de cada uma das esferas habitadas".

3º  "Os homens dos outros mundos diferem de nós, tanto em sua organização íntima como em seu tipo físico exterior".

            Plutarco com a Lua; Cirano e a linguagem interplanetária; Fontenele e suas asserções; Huygens e os "Cosmoteóros"; Voltaire e as "Micromégas; Swedenborg e suas descrições dos habitantes de outros mundos; Bonnet, contemplando a natureza; Young, embevecido, olhando os astros; Humphry Davy viajando ao redor de Saturno, todos nos falam da pluralidade dos mundos habitados.

            E o saturniano, assestando seu telescópio na imensidade do infinito, descobre um planeta, pequenino, longínquo, apagado, e pergunta a si mesmo! '- Será "aquilo" habitado também?..

            Esse planeta é a Terra...

FIM



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