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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
PREPARAÇÃO PROVIDENCIAL DO CRISTO E DOS SEUS
VIGÁRIOS
Conheceis
este dito, um tanto paradoxal, de Oscar Wilde, na admirável confissão, a que
deu o titulo de De Profundis:
"Não houve cristãos depois de Jesus Cristo; mas, para consolação nossa,
houve antes?"
É
esse Cristianismo anterior a Jesus Cristo que primeiramente estudaremos.
Alguns
historiadores das religiões, reconhecendo na Teologia Cristã as precedentes
tradições por ela assimiladas, disseram: "Tal dogma, tal doutrina moral,
tal forma cultual ou hierárquica são de origem egípcia, caldaica, persa, hindu,
helênica, ou latina". E imaginam ter, com isso, tirado todo valor ao
Cristianismo. Assemelham-se esses senhores a um químico que, analisando os
componentes químicos do corpo humano, imaginasse haver, por esse simples fato,
destruído o papel da força vital, que espontaneamente se apoderou desses
diversos elementos, os elaborou, transformou e com eles construiu, primeiro, o
lindo corpinho da criança, depois o corpo do homem ou da mulher, harmônico,
estético, expressivo de inteligência e de vida.
Outros,
não menos eruditos e, na mesma medida, pouco transcendentes, pretendem explicar
a origem da Religião, comprovada por toda parte, em todos os povos, desde os
séculos mais distantes, Unicamente pela imaginação
humana, negando Deus e os deuses. Esses honestos sábios são tão admiráveis
quanto um meteorologista que pretendesse explicar todos os fenômenos
terrestres, movimento diurno e anual, luz do dia e da noite, germinação das
plantas, produção das flores e, por fim, a maturação dos frutos, sem a
intervenção do Sol, da Lua e das estrelas.
Peço
humildemente perdão a esses senhores, mas a mim me parece que também o Céu
desempenha um certo papel nos fenômenos terrestres, ainda os mais materiais, e,
com maior soma de razões, nos fatos espirituais.
Por
outro lado, é opinião quase universal entre os cristãos que o milagre é ato
próprio somente de Deus, em a Natureza e na Humanidade.
Mas,
que entendem eles por "milagre"? "Um fato contrário às Leis da
Natureza".
Esta
opinião esquece duas verdades, assim de fé, como de razão: 1º que Deus é o
autor da Natureza e das leis da Natureza; 2º que Deus seria, realmente,
imperfeito demais, se houvesse outorgado à Natureza leis tão pouco divinas que,
para mostrar-se Deus, tivesse que as violar.
Não!
segundo a Razão e a Fé, Deus não poderia obrar contrariamente às suas próprias
leis. Deus, portanto, no governo da Humanidade, não violará a liberdade, que é
peculiar ao Homem, e, se teve um objetivo ao criar o Homem - sobre o que não
pode haver dúvida, pois que Deus é inteligente - precisamente o em que Ele se
mostrará Deus é em conduzir ao seu objetivo divino o Homem, não à força, como faz
com uma máquina o mecânico, mas pela livre evolução do mesmo Homem.
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