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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
De
fato, se nos decidirmos a consultá-la seriamente, em vez de maquinalmente
seguirmos os nossos hábitos e prejuízos, a Razão nos esclarecerá e instruirá.
Considerai
e compreendei, antes de tudo, a palavra.
Religião,
do simples ponto de vista humano, quer, evidentemente, dizer o que religa os
homens entre si e não o que os divide. Ora, efetivamente, conheceis uma só
religião que, pelas suas pretensões dogmáticas e disciplinares, não faça, dos
seus fiéis, sectários e que não imponha, aos seguidores das outras religiões,
como condição de comunhão, a renúncia e, até, o anátema às suas ideias
teológicas, às formas do culto que professem e à organização hierárquica a que
estejam sujeitos?
Esta
necessidade, porém, de oprimir, sob o pretexto de religião, só irrompeu no
Cristianismo em começos do 4º século, quando os perseguidos de ontem protegidos
se tornaram dos Césares romanos. Mas, desde logo, risível se mostra a
contradição, tanto quanto deplorável, nos decretos
de ortodoxia - pois, dali em diante, os prelados só falam por decretos, como
prefeitos do Império - nos decretos daqueles 318 ou 110 bispos que se reuniram
em Niceia, em Constantinopla, em Êfeso, na Calcedônia, etc., formando
assembleias, que se intitulam ecumênicas ou católicas,
quer dizer; "universais", como também se intitularam os seus
assessores, os Imperadores do Baixo Império, assembleias essas que, para
realizarem a unidade religiosa, declaram "anátemas, excomungados, cismáticos
e heréticos" milhares de bispos e milhões de cristãos que
compreendiam a incompreensibilidade divina, divergindo do bispo Atanásio, do
bispo Cirilo, da imperatriz Elena, ou da imperatriz Pulquéria.
E
o pretenso Catolicismo ainda se conserva aferrado a esse gênero de religião,
isto é, de união. O patriarca católico romano, recentemente nomeado para a
Mesopotâmia pelo papa Benedito XV, será julgado herético - e lhes retribuirá
com o mesmo testemunho de fraternidade religiosa - pelo patriarca nestoriano de
Babilônia e pelo patriarca jacobita de Mossul, que também se intitulam
"católicos" e que contam, só os dois, mais de 500.000 adeptos
espalhados, desde o século V, pela Tartária, pela Índia, pelo Ceilão, pela
China, pelo Egito, pela Síria.
Os
ortodoxos russos e gregos, em número de muitos milhares, acabam, a seu turno,
de dar a si mesmos, muito recentemente, um patriarca, para reconstituir a
unidade que entre eles era mantida pela autoridade do Czar e que a revolução
bolchevista privou do respectivo centro. Além dessas grandes ortodoxias ou
heterodoxias organizadas em guerra umas contra as outras, milhões e milhões de
protestantes divididos em multidões de seitas, na Europa e na América, se intitulam,
igualmente, "cristãos" e, com efeito, prestam honras ao Cristo, mas
permanecem dogmaticamente estranhos e mesmo hostis uns aos outros.
Tal
a maneira por que, na hora presente, os cristãos ainda cumprem o pedido que fez
o Cristo algumas horas antes da sua morte: "Que os meus discípulos sejam
um, como meu Pai e eu somos um!" Razão, pois, assiste aos espiritualistas
inteligentes, ah! sim, para inquirir qual será "a religião do
futuro", visto que a atualidade, tanto no Reino do Espírito, como na
Sociedade das Nações, somente pratica a divisão e não a religião, isto é, a
união.
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