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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

8. 'Guia Prático do Espírita'



 8
 ’Guia Prático
 do Espírita’

por  Miguel Vives y Vives

3ª Edição

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1926


 COMO DEVE PORTAR-SE O ESPÍRITA
 NOS SOFRIMENTOS E DORES DA VIDA



            Sabemos, os espíritas, que a Terra é lugar de expiação e de dor, como também que a dor purifica, depura e eleva, e que é um dos meios que nos fazem progredir mais rapidamente. Como, pois, devemos receber as dores e sofrimentos físicos da vida? Com calma, com resignação e até com alegria; recordando sempre que a dor é o caminho mais rápido para nos elevarmos a regiões mais altas e o mais seguro para nos afastarmos das veleidades humanas.

            Temos conhecido espíritas que sofrem não só com resignação, mas com alegria, porque nas ocasiões do paroxismo da dor os temos visto calmos e serenos e, por vezes, um tanto fatigados, coisa muito natural; passado, porém, o paroxismo, temo-los visto relativamente tranquilos e alegres, e quando as suas enfermidades lhes permitem, mostram-se expansivos e muito dispostos a exalçar a justiça de Deus. Destes temos visto poucos; os que, porém, desencarnaram, e de quem temos tido noticias, tem mostrado sempre um estado muito feliz no mundo espiritual, estando muito satisfeitos da calma e serenidade com que souberam sofrer as dores da existência material.

            De outros espíritas sei que, conquanto aparentassem resignação nas dores da existência material, se mostravam muito tristes e aflitos, e os vi chorar e lamentar-se dos seus sofrimentos; julgo que estes espíritas não andam muito bem e estão pouco seguros de não cair; porque a tristeza gera o mau humor, a qual pode dar lugar à murmuração contra o destino, e, quando se chega à murmuração, está-se no primeiro passo da rebeldia. Quando um espírita se encontra neste estado, revela atraso moral e um certo desconhecimento do que é a lei divina. Que diriam os de um negociante a quem se apresentam muitos negócios para fazer, nos quais realizará grandes lucros e que se enfada e murmura porque lhe oferecem tais negócios? Diríamos que tal negociante não serve, porque, quando chega a ocasião de formar um capital, não a aproveita. Assim são os espíritas que, quando lhes vem as dores na vida, se entristecem ou se atribulam, e por vezes se rebelam.

            O espírita deve tomar a existência material como um curso de provas de toda a espécie, físicas e morais, que servem para realizar o verdadeiro progresso; o espírita nunca deve tomar a existência material como a vida verdadeira, mas como um período de estudo, e de prova, a fim de preparar-se para a vida verdadeira, porque esta está na erraticidade; por um dia que passamos unidos à carne, temos de passar mil anos na vida do espaço; que significam estes pequenos períodos que chamamos vida material, à vista do que nos aguarda e é a vida do espírito? Se a lei nos obriga a sofrer, porque nada ocorre na criação sem justiça, devemos, os espíritas, nos acostumar à maior calma e à máxima serenidade, porque sabemos que é um grande bem para nós e que chegamos à hora propícia para provar se o Espiritismo está arraigado no nosso íntimo ou se é superficial a crença que temos. Se é superficial, não podemo-nos chamar espíritas; se está, porém, arraigado no mais fundo de nossa alma, saberemos suportar as provas e dores da existência como devemos e honraremos a doutrina que professamos.        

            Nenhum espírita deve duvidar de que no reino de Deus não se entra por surpresa nem se chega à felicidade senão depois de se estar depurado; assim, pois, as comodidades, as alegrias mundanas e os gozos da terra não são bons caminhos para alcançar a felicidade no espaço, nem tampouco deve um espírita duvidar de que, quanto mais próximo se acha da sua felicidade espiritual, mais posto à prova será por tudo que se pode conceber na Terra.

            Nada mais é preciso do que recordar a vida dos mártires, dos justos, dos humildes e dos bons e compará-la à maneira de viver dos grandes segundo o mundo, dos opulentos, dos potentados, e ver-se-á que, enquanto os primeiros tem a vista fixa na vida do porvir, os segundos não veem mais do que as delícias do mundo. Do que digo dá uma excelente prova o Senhor e Mestre nos seus mandamentos e nos seus atos. “Bem aventurados os que sofrem, porque deles é o reino de Deus. Bem aventurados os aflitos, porque eles serão consolados. Bem aventurados os perfeitos, porque eles verão a Deus.” Estas são as palavras do Senhor. Confiemos todos nele; sigamos o seu exemplo; que todo o espírita que tiver de sofrer grandes dores seja forte, cheio de calma, de amor ao Pai, de resignação e de submissão à justiça divina, e se em algumas épocas recear a tentação, que se defenda com a prece, com o amor aos que sofreram antes dele, e não esqueça que após a dor sofrida com calma e alegria vem a felicidade e a vida eterna.

*

            Não sei se fui fiel intérprete da vontade dos bons espíritos; se assim tiver acontecido neste pequeno trabalho que publicaram os irmãos Carbonell e Esteva, ver-se-á o que pode ser aproveitável, que, sem duvida, é obra dos espíritos, os quais, prescindindo da minha insuficiência, que é muito notória, me inspiraram para dar alguns conselhos aos espiritas; se não fui fiel, porém, se fui mau interprete dos irmãos que vivem na vida livre do espaço, os citados impressores lançarão este trabalho à cesta dos papéis velhos, por ser obra inútil. Se tal acontecer, apenas suplico que, se neste trabalho houver algum pensamento bom, seja ele aproveitado por ser obra dos seres de além-túmulo, a quem devemos ser gratos e que não tem culpa de ser eu mau interprete e ignorante,  ao mesmo tempo.

            Agora, só me resta dar graças a Deus de tudo, por sua grandeza e por seu amor, Ò meu Pai, meu Amor, meu Senhor, eu vos amo e vos peço vossa proteção para poder cumprir a vossa lei; iluminai a minha razão, fortificai o meu ânimo e dai-me um amor tão grande por vós que vos não esqueça nem de noite nem de dia e que, tanto na escuridão, como na calma e nas horas de paz, possa trazer o vosso amor no mais íntimo da minha alma, para que vossa influência seja tão grande em mim que não deixe de penetrar nenhuma das influências do mundo e de fora dele que possa perturbar o meu espírito. E vós, Senhor meu, meu Deus, meu amor, dai-me tanto respeito e veneração quanto por vós desejo sentir, para que em todos os atos da minha vida reine em mim vossa lei, vosso amor e vossa influência, para que a lembrança de vossa grandeza e de vossa abnegação se não aparte nunca de mim, e ao meu guia espiritual, a minha gratidão mais entusiástica pelas muitas vezes que me inspirou e pela indulgência que tem para comigo, que nem sempre segui os seus conselhos e indicações, procedimento do qual há anos vivo arrependido, tendo feito promessa solene de me não afastar, por pouco que seja, dos seus mandamentos e da sua vontade. Preferiria deixar de existir ou que acabasse a minha existência material. 


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