8
’Guia Prático
do Espírita’
por Miguel Vives y Vives
3ª Edição
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1926
COMO DEVE PORTAR-SE O ESPÍRITA
NOS SOFRIMENTOS E DORES DA VIDA
Sabemos,
os espíritas, que a Terra é lugar de expiação e de dor, como também que a dor purifica, depura e eleva, e que é um dos meios
que nos fazem progredir mais rapidamente. Como, pois, devemos receber as dores e
sofrimentos físicos da vida? Com calma, com resignação e até com alegria;
recordando sempre que a dor é o caminho mais rápido para nos elevarmos a
regiões mais altas e o mais seguro para nos afastarmos das veleidades humanas.
Temos
conhecido espíritas que sofrem não só com resignação, mas com alegria, porque nas ocasiões do paroxismo da dor os temos visto
calmos e serenos e, por vezes, um tanto fatigados, coisa muito natural; passado, porém, o
paroxismo, temo-los visto relativamente tranquilos e alegres, e quando as suas
enfermidades lhes permitem, mostram-se expansivos e muito dispostos a exalçar a justiça de Deus. Destes
temos visto poucos; os que, porém, desencarnaram, e de quem temos tido noticias, tem
mostrado sempre um estado muito feliz no mundo espiritual, estando muito satisfeitos da
calma e serenidade com que souberam sofrer as dores da existência material.
De
outros espíritas sei que, conquanto aparentassem resignação nas dores da existência material, se mostravam muito tristes e aflitos, e
os vi chorar e lamentar-se dos seus sofrimentos; julgo que estes espíritas não
andam muito bem e estão pouco seguros de não cair; porque a tristeza gera o mau
humor, a qual pode dar lugar à murmuração contra o destino, e, quando se chega à
murmuração, está-se no primeiro passo da rebeldia. Quando um espírita se
encontra neste estado, revela atraso moral e um certo desconhecimento do que é
a lei divina. Que diriam os de um negociante a quem se apresentam muitos negócios
para fazer, nos quais realizará grandes lucros e que se enfada e murmura porque
lhe oferecem tais negócios? Diríamos que tal negociante não serve, porque,
quando chega a ocasião de formar um capital, não a aproveita. Assim são os espíritas
que, quando lhes vem as dores na vida, se entristecem ou se atribulam, e por
vezes se rebelam.
O
espírita deve tomar a existência material como um curso de provas de toda a espécie, físicas e morais, que servem para realizar o
verdadeiro progresso; o espírita nunca deve tomar a existência material como a
vida verdadeira, mas como um período de estudo, e de prova, a fim de
preparar-se para a vida verdadeira, porque esta está na erraticidade; por um
dia que passamos unidos à carne, temos de passar mil anos na vida do espaço;
que significam estes pequenos períodos que chamamos vida material, à vista do
que nos aguarda e é a vida do espírito? Se a lei nos obriga a sofrer, porque
nada ocorre na criação sem justiça, devemos, os espíritas, nos acostumar à
maior calma e à máxima serenidade, porque sabemos que é um grande bem para nós
e que chegamos à hora propícia para provar se o Espiritismo está arraigado no
nosso íntimo ou se é superficial a crença que temos. Se é superficial, não
podemo-nos chamar espíritas; se está, porém, arraigado no mais fundo de nossa
alma, saberemos suportar as provas e dores da existência como devemos e
honraremos a doutrina que professamos.
Nenhum
espírita deve duvidar de que no reino de Deus não se entra por surpresa nem se chega à felicidade senão depois de se estar
depurado; assim, pois, as comodidades, as alegrias mundanas e os gozos da terra não são bons
caminhos para alcançar a felicidade no espaço, nem tampouco deve um espírita
duvidar de que, quanto mais próximo se acha da sua felicidade espiritual, mais
posto à prova será por tudo que se pode conceber na Terra.
Nada
mais é preciso do que recordar a vida dos mártires, dos justos, dos humildes e
dos bons e compará-la à maneira de viver dos grandes
segundo o mundo, dos opulentos, dos potentados, e ver-se-á que, enquanto os
primeiros tem a vista fixa na vida do porvir, os segundos não veem mais do que
as delícias do mundo. Do que digo dá uma excelente prova o Senhor e Mestre nos
seus mandamentos e nos seus atos. “Bem aventurados
os que sofrem, porque deles é o reino de Deus. Bem aventurados os aflitos,
porque eles serão consolados. Bem aventurados os perfeitos, porque eles verão a
Deus.” Estas são as palavras do Senhor. Confiemos todos nele; sigamos o seu
exemplo; que todo o espírita que tiver de sofrer grandes dores seja forte,
cheio de calma, de amor ao Pai, de resignação e de submissão à justiça divina,
e se em algumas épocas recear a tentação, que se defenda com a prece, com o
amor aos que sofreram antes dele, e não esqueça que após a dor sofrida com
calma e alegria vem a felicidade e a vida eterna.
*
Não
sei se fui fiel intérprete da vontade dos bons espíritos; se assim tiver
acontecido neste pequeno trabalho que publicaram os irmãos
Carbonell e Esteva, ver-se-á o que pode ser aproveitável, que, sem duvida, é obra dos espíritos,
os quais, prescindindo da minha insuficiência, que é muito notória, me
inspiraram para dar alguns conselhos aos espiritas; se não fui fiel, porém, se
fui mau interprete dos irmãos que vivem na vida livre do espaço, os citados
impressores lançarão este trabalho à cesta dos papéis velhos, por ser obra inútil.
Se tal acontecer, apenas suplico que, se neste trabalho houver algum pensamento
bom, seja ele aproveitado por ser obra dos seres de além-túmulo, a quem devemos
ser gratos e que não tem culpa de ser eu mau interprete e ignorante, ao mesmo tempo.
Agora,
só me resta dar graças a Deus de tudo, por sua grandeza e por seu amor, Ò meu Pai, meu Amor, meu Senhor, eu vos amo e vos
peço vossa proteção para poder cumprir a vossa lei; iluminai a minha razão,
fortificai o meu ânimo e dai-me um amor tão grande por vós que vos não esqueça
nem de noite nem de dia e que, tanto na escuridão, como na calma e nas horas de
paz, possa trazer o vosso amor no mais íntimo da minha alma, para que vossa
influência seja tão grande em mim que não deixe de penetrar nenhuma das influências
do mundo e de fora dele que possa perturbar o meu espírito. E vós, Senhor meu,
meu Deus, meu amor, dai-me tanto respeito e veneração quanto por vós desejo
sentir, para que em todos os atos da minha vida reine em mim vossa lei, vosso
amor e vossa influência, para que a lembrança de vossa grandeza e de vossa
abnegação se não aparte nunca de mim, e ao meu guia espiritual, a minha
gratidão mais entusiástica pelas muitas vezes que me inspirou e pela indulgência
que tem para comigo, que nem sempre segui os seus conselhos e indicações,
procedimento do qual há anos vivo arrependido, tendo feito promessa solene de
me não afastar, por pouco que seja, dos seus mandamentos e da sua vontade.
Preferiria deixar de existir ou que acabasse a minha existência material.
Nenhum comentário:
Postar um comentário