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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
Talvez
já tenhais ouvido dizer, minhas Senhoras e meus Senhores, que "quanto mais
sábio se é, mais se duvida." Sim! quanto mais sábio se é, mais se duvida
... da ciência dos semi sábios. Porém, quanto mais avançam as revelações da
História, por exemplo, tanto mais recuam os lindes que a ignorância pretendia
impor à ciência antiga.
Ainda
estou vendo o zombeteiro sorriso dos nossos velhos universitários, quando nos
faziam traduzir do latim a história primitiva da Grécía. Epitome historiae graecoe,
era como se intitulava um livro clássico dos alunos do sexto ano. Reproduzindo
a narrativa dos primitivos historiadores, refere o ingênuo resumidor que, nos
primeiros dias de nossa raça, os deuses viviam em regular comunhão com os
homens: os deuses, isto é, seres que, vindo do Céu em corpo humano, ensinaram
os homens não evolvidos da época inicial a cultivar a terra, a dominar a
Natureza, a modelar a Matéria. E foi assim, sobre a fé dos Antepassados, que os
Gregos, nação cética, certamente, e - deixai passar o termo - muito pouco
palerma, sempre honraram como deuses secundários, colocados abaixo do Deus
supremo, seus celestes instrutores: Ceres, Baco, Mercúrio, Apolo, Minerva e os
outros. E assim foi com todos os povos antigos, ainda os mais civilizados,
Caldeus, Persas, Egípcios.
A
razão estava a indicar, parece-me, que, em face desse testemunho universal, um
simples dar-de-ombros não constituía refutação bastante. Mas, os semi sábios tem
esta especialidade: nunca duvidam de si mesmos; e essa credulidade deles no
saber que possuem, o entusiasmo simplório que alardeiam pela Ciência Moderna os
inspiram às vezes de maneira singular.
Tendo
subido comigo ao vértice da Grande Pirâmide, o humilde monumentozinho que
representa, apenas, dois milhões e meio de metros cúbicos de pedras; de pé, com
vinte outros viajantes, em face do deserto, sobre a plataforma terminal, a cento
e cinquenta metros de altura, um arquiteto parisiense nos repetia, a sério, a
prodigiosa explicação do seu prodigioso professor do Instituto, o Sr. Letronne,
que naquela elevação simplesmente vê um efeito do processo de escorregamento,
que faz cair do alto de uma montanha uma pedra, com tanto maior facilidade,
quanto mais pesada esta for. Esse admirável engenheiro não via a diferença que há entre levantamento e escorregamento; entre
a operação que elevou a 150 metros de altura um peso de 100.000.000 de quilogramas
e a operação consistente em fazer cair esse peso do cume da pirâmide sobre a
areia do deserto. Evidentemente, ingenuidades de tal natureza não são ciência.
O
que é ciência positiva é o fato da elevação desse peso esmagador àquela altura
pelos arquitetos do tempo de Queops, mais de quatro mil anos antes de Jesus Cristo.
Daí, quem quer que seja capaz de raciocinar concluirá que, naqueles tempos
distantes, os sábios dispunham de uma ciência que ultrapassa a nossa. Do mesmo
modo, numa época mais próxima de nós, os sacerdotes de Delfos, do alto do seu
templo, lançam o raio e destroem o exército dos Gauleses; ainda mais próximo,
Arquimedes, por meio de suas máquinas, de seus espelhos ardentes, mantém em xeque a frota
dos Romanos diante de Siracusa. Ai estão fatos, absolutamente históricos, que
demonstram, de forma a se não poder duvidar, que os antigos sabiam tirar da
eletricidade, da luz, das forças físicas, que ainda desconhecemos, resultados
que passam muito além das nossas possibilidades.
Realmente,
a nossa enfermidade esquece demais o miraculoso poder da Natureza que, sem
esforço, cria para as plantas, para as árvores, corpos admiráveis a flores e
frutos infinitamente variados, com a lama, a chuva, o ar e a luz. Bastar-nos-ia
empregar de modo inteligente, nós, seres inteligentes, essas
forças maravilhosas que a matéria inconsciente suporta inconscientemente, e
obteríamos prodígios. Os fenômenos a que damos o nome de "milagres" somente
são miraculosos para a nossa ignorância, incapaz de os produzir. Para quem haja sondado os mistérios da Natureza, esses
fatos sobrenaturais tão naturais seriam, quanto a germinação das plantas ou os
efeitos do raio. É, na verdade, excessivo o orgulho, não querendo admitir que
alguém jamais tenha podido ultrapassar o nosso conhecimento e o nosso domínio atuais dessas forças
onipotentes.
Ora,
que ignoremos como os profetas manejavam as forças da Natureza, pouco importa:
nem por isso os fatos deixam de ser fatos. Moisés, durante quarenta anos,
alimentou três milhões de homens num deserto que nada produzia senão areia e
água salobra. Isto prova muito simplesmente que, segundo o afirma a
tradição hebraica, Moisés era iniciado na ciência secreta dos Egípcios e que
essa ciência secreta, há cinco mil anos, excedia a toda a nossa ciência do
século XX . "Ciência secreta", disse eu. Os sábios antigos haviam compreendido e os destruidores de hoje se
encarregam de no-lo fazer perceber, o terrível perigo que a ciência integral
cria quando confiada ao primeiro que apareça. Longas provas de virtude, que não
apenas de inteligência, joeiravam escrupulosamente os raros candidatos à iniciação nos mistérios, Finalmente, era um
estado de alma em absoluto transcendente, realmente divino que imitiam os
supremos iniciados na posse dos Poderes do Senhor dos Senhores, como o pergunta
a Iavé esta súplica de um salmista: "Quando, pois, entrarei, ó Iavé, nos teus poderes divinos?" Quando introibo in potentias Domini?
(Salmo LXX, 15). Et introibo altitudinem
summitatis ejus, diz o profeta Isaías, XXXVII, 24: "Entrarei na
profundeza última da “divina Ciência".
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