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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
Verdadeiramente,
pouco honroso conceito fazem de Deus os teólogos, quando o medem pela craveira
humana. Restringindo suas vistas a uma só existência neste mundo, pretendem
eles encerrar no pequeno espaço de uma vida de alguns anos, até de alguns dias, quando não de apenas horas, a ação de Deus sobre
cada homem.
Entretanto,
é axioma de Teologia que - "os dons de Deus são sem arrependimento",
(Epístola aos Romanos, XI, 29-: Sine
poenitentia enim sunt dona et vocatis Dei. E Deus, acentua a mesma
Epistola, "em sua ação sobre o mundo, não só cogita do que é, como também do que ainda não é": Et vocat ea quae non sunt tanquam ea quae
sunt (IV, 17). Quer dizer:, 1º) que Deus não retoma o que outorgou;
portanto, se Ele outorgou às almas a liberdade, não foi para lhes retirá-la,
mas, ao contrário, para a desenvolver cada vez mais pelos séculos em fora; 2º)
que, para apreciarmos a Providência divina, cumpre não limitemos as nossas
vistas, com relação a cada homem, a uma só existência desse homem, nem, com
relação à Humanidade, em geral, a um só período da História; que devemos considerar,
antes de tal existência ou de tal período, todo o passado de que uma e outra
resultaram, e para diante, o futuro, o eterno porvir.
Elevemos,
peço-vos, o nosso pensamento a essa altura:
Deus,
evidentemente, não há de ter criado outros seres, senão para os religar a Si, na sua beatitude infinita,
porquanto nada falta a Deus, em sua divina preexistência, se não puder exercer
sobre outros seres a sua infinita bondade, religando-os
desse modo a Si. Tal o significado da palavra Religião.
E
qual o fio que pode religar a Deus almas feitas de vida, de inteligência e de
amor? Necessariamente, a Vida divina, o Amor divino, penetrando-nos a vida, a
inteligência e o amor, para unir Deus às nossas almas e nossas almas a Deus.
Este o sentido do termo Cristianismo. “Christianus
alter Christus": "O verdadeiro cristão é outro Cristo", diz
um texto esotérico, isto é: um homem penetrado, até à medula, pela
vida divina, pela fé em Deus, pelo amor de Deus.
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