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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

17. 'O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários'





17
 “O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...
           
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris


            Profeta significa previdente. Ora, governar é prever. Profeta significa também pregador inspirado por Deus.

            Aqui está o que lemos na Bíblia, em o Livro dos Números, cap. XI: "Iavé, o Deus eterno, disse a Moisés: "Reúne diante de mim setenta dos Anciãos de Israel, dentre aqueles a quem conheças como tendo autoridade sobre o povo; leva-os à tenda onde brilha a flama celeste por meio da qual manifesto a minha presença. Eu me manifestarei e tomarei da mesma flama espiritual, que te vivifica e ilumina, e a alumiarei neles, a fim de que partilhem contigo o encargo do meu povo e ele não pese sobre ti exclusivamente. Moisés saiu da tenda de Iavé e repetiu ao povo as palavras do Eterno; depois, reuniu setenta dos Anciãos do povo e os colocou em torno da tenda. Iavé então desceu em relâmpagos de raio e de Moisés uma chama irrompeu, que iluminou cada um dos setenta e dois e logo eles profetizaram; em seguida, formaram o Sagrado Colégio dos Profetas."

            Lá se formava, mediante comunicação efetiva com os Espíritos celestes, um grupo de independentes, absolutamente distinto da tribo sacerdotal, um escol de intelectuais, livre de toda rotina obrigatória e de toda servidão administrativa: muito escolhidos para esse destino, selecionados para essa vocação, iniciados pelas mais longas e severas provas.

            Essa Escola de Profetas, com sede em Guilgal, governou, ela só, o Povo de Deus durante trezentos anos e esse Reinado de Deus foi o reinado da liberdade santificada pela religião, liberdade e religião tão pouco complicada uma quanto a outra. Cada comuna tinha seus anciães e seus juízes para regular os interesses e os dissídios, seus levitas para instruir as crianças. Para as festas astronômicas e os aniversários históricos, todo o povo se reunia em Silo, em torno da Arca Santa, onde repousavam as Tábuas da Lei, na tenda que a nuvem do raio cobria, e nisso consistia todo o mecanismo daquela centralização de nenhum modo administrativa.

            Mais tarde, quando o povo, a Deus malgrado, tomou um rei, tudo se deixou domesticar. Surgiram de todos os lados os cortesãos. Apenas os profetas resistiram; só eles combateram pelo povo, que de moto próprio se entregava, pois empregaram desde o princípio toda a eloquência, toda a energia, todas as forças cientificas que a tradicional iniciação lhes dera, para dissuadirem o rei de instituir o censo, isto é, o registro de captação para a cobrança do imposto. O rei se obstinou. Entretanto, no dia seguinte, narra a Bíblia, a palavra de Deus foi dirigida a David, pelo profeta Gad: "Assim fala o Eterno: Tenho três flagelos sobre a tua cabeça. Escolhe! Mas, serás ferido" (9).

            (9)  I Livro dos Reis, XXIV, 11.

            Somente os profetas protegeram as mulheres contra as paixões reais.

            "Iavé, refere ainda a Bíblia, enviou o profeta Natan ao rei David e o profeta foi ter com o rei e lhe disse: "Havia numa cidade dois homens, um rico, pobre o outro. O rico tinha ovelhas e bois em grande número. O pobre, por toda riqueza, tinha uma só ovelha, a quem ele amava com ternura. Ora, deu-se que um amigo veio visitar o rico, e este, para obsequiá-lo, tendo embora tantas ovelhas e tantos bois, tomou a ovelha do pobre, matou-a e a serviu ao seu hóspede.

             "- Esse homem é indigno de viver - exclamou David. - Merece a morte."

             "- Esse homem - replicou o profeta -, és tu, oh! rei, tu que, tendo mulheres belas e numerosas no teu serralho, tomaste a esposa do teu lugar-tenente!.. Tu te condenaste a ti mesmo: mereces a morte" (10).

            (10) II Livro dos Reis, XII

            Somente os profetas protegeram a propriedade contra a onipotência real.

            Por um pedaço de terra numa aldeiazinha - e a Bíblia entendeu que o nome do camponês merecia ser transmitido à posteridade com o do real espoliador - pela vinha de Naboth, da qual o rei Achab e sua mulher Jezebel se haviam apossado, fazendo fosse o infeliz proprietário condenado à morte, mediante falsa acusação, a palavra de Deus dirigiu-a o profeta Elias ao rei Achab, nestes termos: "És assassino e ladrão, oh! rei; és também um vendido, como o são os teus juízes, vendido a todos os vícios... Pois bem! na própria vinha de Naboth, eu te vendo, eu, aos teus inimigos: lá serás morto, lá cairás em terra, teus cavalos te pisarão a pés, à ti e à tua mulher Jezebel; e quando os cavalos vos houverem esmagado a ambos na lama, virão os cães e lamberão o vosso sangue de réprobos" (11).

            (11) III Livro dos Reis XXI

            Diz a Bíblia que a essas severas admoestações, o rei David chorou sua falta; que o tirano Achab pediu perdão. Tal a eficácia do Verbo de Justiça lançado, por um homem destemido e sem mácula, à face da tirania, embora triunfante. E, por detrás do arauto da Justiça, naquela época, toda uma legião, toda a Escola dos Profetas, tão independentes, quanto altivos e virtuosos, faziam frente à injustiça e ao vício quer dos monarcas, quer dos sacerdotes, quer do povo. Dir-vos-ei mais tarde como, conluiados, reis e sacerdotes judeus suprimiram o profetismo e mataram os profetas; como, depois de Jesus Cristo os ter ressuscitado, foram eles de novo excomungados e enterrados vivos.

            Limitemo-nos, esta tarde, a mostrar qual era a ciência e a visão deles.

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