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‘As
Vidas
Sucessivas’
por Adauto de Oliveira Serra
Livraria Editora da Federação Espírita
Brasileira
1943
PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS II
"Astronomicamente
falando, a Terra não recebeu nenhum privilégio sobre os outros planetas e não
tem nenhuma proeminência notada no sistema solar de maneira a ser o único mundo
habitado, pois os outros planetas estão tão bem como ela dispostos para a
habitação da vida". (Flammarion)
"Globos
habitados cujos hóspedes pensantes vivem como eu vivo e sentem como eu sinto;
uns mais abatidos e outros talvez do que nós mais elevados sobre os de degraus
da vida"! (M. Ponsard)
Flammarion,
depois de nos descrever o aspecto da vida terrestre, as suas manifestações, transformações
e relação íntima, segundo o meio em que se manifestam; depois de nos mostrar
que os seres se diferenciam segundo a constituição dos mundos que habitam e que
ninguém poderá, jamais, traçar limites às possibilidades de vida nos ditos
mundos; depois, enfim, de analisar a composição química dos corpos, os meios,
elementos e forças da natureza, termina um dos
capítulos de seu livro perguntando: "Não gozam esses mundos dos mesmos beneficies que a Natureza a
nós proporciona e não recebem, também eles, os raios fecundantes do mesmo Sol?
Por que estas neves de Marte se derretem em cada primavera e descem a saciar as
suas campinas? Por que estas nuvens de Júpiter, que espalham a sombra e
frescura em suas planícies imensas? Por que esta atmosfera de Vênus, que banha
seus vales e suas montanhas? Oh! mundos esplêndidos que vogais longe de nós.
nos céus", só nos falais de vida eterna e infinita, como infinito e eterno
é Deus, que preside a harmonia universal.
O
calor e o frio, a profundeza dos mares e a altitude atmosférica não constituem
obstáculos à manifestação da vida. Haja vista o material recolhido por James
Ross em suas viagens ao polo austral, as espécies retiradas das profundezas do
golfo de Erebus, e os vibriões secos sobre os telhados expostos ao sol de verão
e cobertos pelo gelo do inverno e que tornam à vida depois de anos de morte
aparente.
E
o que pensarmos dos minúsculos infusórios? Numa gota d'água, segundo Herschel,
há uma população imensa de animálculos de todos os
tamanhos que seria impossível colocar-se a ponta de uma agulha sobre um só lugar desocupado.
Para
a vida e para a fecundidade da Natureza, não há limites, pois um só díatomêu pode,
no espaço de quatro dias, produzir mais de 150 mil indivíduos da sua espécie. Sir
David Brewster diz que um planeta sem habitantes seria como um navio
atravessando os mares sem passageiros e sem carregamentos - inútil.
E
com referenda aos outros mundos, escreve o mesmo autor: - "Archotes que
nada esclarecem; tocos que nada aquecem; águas que nada refrescam; nuvens
espalhando a sombra sobre o nada; brisas soprando sobre o nada; e tudo na
natureza: montanhas e vales, terras e mares. tudo existindo e de nada
servindo!"
Transcrevemos,
a seguir, o que disse Garbedian em "O Romance da Ciência", págs. 42,
43 e 44, sobre a possibilidade de existência da vida animal em outros planetas:
"Tanto
quanto sabemos, Vênus está em condições de manter existência semelhante à
nossa. e alguns astrônomos já admitiram a audaciosa hipótese de que se fôssemos
transportados para Vênus poderíamos, talvez, continuar a viver alí sem graves
perturbações em nossos hábitos! Contudo, Vênus é, sob muitos aspectos, um
planeta de mistério.
Sabemos
com certeza que é mais ou menos do mesmo tamanho da Terra e que provavelmente a
temperatura não é ali muito mais alta, porém, a densa camada de nuvens que
envolve completamente o planeta, nos esconde a sua superfície. Se água e oxigênio,
dois elementos essenciais à vida, tal como a conhecemos na Terra, existem por
baixo dessas nuvens, é uma questão que continua a desafiar a ciência.
"Embora
certos astrônomos achem que as possibilidades de vida sejam maiores em Vênus
que em Marte, do estudo direto deste último resultam provas mais substanciais.
Estas provas conduzem com certeza irrefutável à conclusão de que, pelo menos em
Marte, existe vida vegetal e de tipos inferiores do reino animal. Nos anos mais
recentes, estudos científicos do clima, das cintilantes coroas polares e dos
misteriosos "canais" de Marte foram intensificados pela descoberta de que, ao contrário
do que antes se imaginava, a temperatura nesse planeta não é muito diferente da
que reina em um agradável dia de outubro em Nova York ou Londres. Além disso,
novas observações estâo assentando mais sólidos fundamentos à ciência de que o
planeta rubro tem calor, água e oxigênio, três requisitos de vida. Tanto pela
fotografia quanto pela observação direta, têm-se obtido provas de que as áreas
sombrias da superfície de Marte, enigma por tanto tempo indecifrável para os
astrônomos, sofrem aparentemente transformações que são características da
vida, vegetal; resulta disso que a ciência considera agora a existência de
vegetação em Marte como bem estabelecida. Na Terra, a vida animal de ordem
inferior acompanha sempre, de alguma forma, a vegetação extensiva.
Analogamente,
podemos raciocinar de que isso é também verdadeiro em Marte. E a ciência o admite.
"Estes
desconhecimentos levaram alguns astrônomos a conceber no planeta vizinho uma
sociedade altamente organizada, que compreendia em seu seio hábeis marcianos
construtores de canais.
O
falecido Dr. Percival Lowell e o Dr. Pickering estão entre os sábios que
subscreveram esta hipótese avançada. Outros, Eddington, Russel e Aitken,
sustentam que as observações da ciência não excluem a existência em Marte de
uma vida animal altamente organizada, mesmo de uma civilização de seres
inteligentes."
A
possibilidade de vida em outros mundos, é ainda comprovada pelas quedas de aerólitos,
atravessando, como enviados misteriosos, aterradoras distancias, para chegar
até nós. O mais notável de todos os bólides caídos, foi por certo aquele que,
em 14 de Maio de 1864, despencou-se no sul da França. Examinado, ficou
constatado que trazia em si água e turfa, sendo que esta última só se forma
pela decomposição de vegetais na água.
Esse
aerólito, chamado de Orgulho, veio de um globo onde existem água e substâncias
análogas à nossa vegetação. A matéria orgânica vegetal, encontrada no jardim
botânico de Sienne, também de origem meteórica, segundo Ancelot, continha oxigênio,
carbono e hidrogênio.
Isso
em 1830. Sendo, pois, o clima favorável à vida vegetal, por que não seria à
vida normal?
Devemos
ainda ponderar que houve tempo em que a Terra estava vazia e que mesmo não
existia antes de sua desagregação de nebulosa originária.
A
vida surgiu e evoluiu. 'Por que não se daria o mesmo em relação aos outros
planetas?
"O
corpo humano não passa por todos os degraus de animalidade em seu primeiro
período embriogênico, e estas fases rápidas, que se volvem silenciosamente no
seio materno, não são indícios da gênese do homem sobre a Terra?"
Não
se confundam as substâncias terrestres com as de origem cósmica, como a
"chuva vermelha caída no dia 16 de Novembro de 1864, no sudoeste francês,
bem como o maná em Zaiviel, no mesmo ano. Paertus faz referências à chuva de
"sapos", como espécies da zoologia extraterrestre.
A
imensidade dos céus é comprovada pela Via Látea, que é uma nebulosa da qual
fazemos parte e que tem "apenas" dezoito milhões de sóis!!! Tinha
razão o salmista ao exclamar:
"- Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos,
que é o homem mortal para que te lembres dele?" (Salmos, VIII-3).
Wolffe,
Founer, Bernardin Saint - Pierre, Huygens, Edgar Poe, descreveram, em romances
científicos, os habitantes dos outros planetas, pois se a Terra fosse o único
mundo habitado, estaria em contradição com o esplendor do seu Criador, e
incompatível com a perfeição de sua obra, por ter formado um mundo inferior,
imperfeito e mesmo miserável, onde impera a indefectível lei da morte, onde os
vivos se alimentam de outros vivos. Nossa Terra é que não recebeu, no quinhão
que lhe tocou, nenhum privilégio sobre os outros planetas. Estes, pelo
contrário, gozam de uma hegemonia em tamanho e em clima.
Jesus
dizendo à Samaritana: "Não adorarão mais sobre esta montanha nem em Jerusalém
porém os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espirito e em Verdade",
(João, IV- 21 ), ampliou, sem especificar região alguma, o culto eterno a Deus,
extensivo aos habitantes de todos os mundos, constituindo uma só humanidade.
Tudo
é eterno e tudo se transforma, tudo evolui, porque à pluralidade dos mundos
habitados, corresponde a pluralidade das existências.
Iremos
progredindo até sermos perfeitos como perfeito é Deus, Senhor dos mundos
sintetizados numa única palavra: Universo.
Jesus
mesmo disse: "Há muitas moradas na casa de meu Pai:" João, XIV-2;
dando-nos uma ideia da pluralidade dos mundos, e Paulo em II aos Coríntios,
XII- H, nos fala de um homem que foi
arrebatado até ao terceiro céu e depois ao paraíso. Só nessa passagem temos o
testemunho do Apóstolo dos gentios, da existência de quatro (4) mundos
superiores.
Em
Éfesos, IV ; lemos: "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu
ACIMA DE TODOS OS CÉUS". O que quer dizer: Atravessou todos os mundos
superiores, até atingir outra região paradisíaca, ou seja, a mansão dos
justos.
Concluamos,
pois, com Flammarion:
Iº "As
forças diversas que estiveram em ação na origem das coisas, deram nascimento sobre
os mundos a uma grande diversidade de seres, ou nos reinos inorgânicos, ou nos
reinos orgânicos."
2º "Os
seres animados foram, desde o começo, constituídos segundo formas e segundo um
organismo em correlação com o estado fisiológico de cada uma das esferas
habitadas".
3º "Os
homens dos outros mundos diferem de nós, tanto em sua organização íntima como
em seu tipo físico exterior".
Plutarco
com a Lua; Cirano e a linguagem interplanetária; Fontenele e suas asserções;
Huygens e os "Cosmoteóros"; Voltaire e as "Micromégas;
Swedenborg e suas descrições dos habitantes de outros mundos; Bonnet, contemplando a
natureza; Young, embevecido, olhando os astros; Humphry Davy viajando ao redor
de Saturno, todos nos falam da pluralidade dos mundos habitados.
E
o saturniano, assestando seu telescópio na imensidade do infinito, descobre um
planeta, pequenino, longínquo, apagado, e pergunta a si mesmo! '- Será
"aquilo" habitado também?..
Esse
planeta é a Terra...
FIM
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