Mas os
tempos não mudaram
Percival Antunes (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1963
O Espiritismo, entretanto, que foi o
primeiro a interpretar o Evangelho em espírito e verdade, lançou e solidificou
as bases da interpretação correta, a qual vem, felizmente, espalhando bons frutos
e encontrando seguidores, ainda que, muitas vezes, silenciem quanto ao
aprendizado feito através das obras editadas pela Federação Espirita
Brasileira.
Nem sempre Jesus achou conveniente
falar claro, numa época em que os preconceitos religiosos eram ferozes e a
intolerância não cedia diante de qualquer argumente sensato. E a prova disto
foi que, apesar de tudo, Jesus se viu insultado, perseguido, maltratado e, por
fim, imolado por homens que colocavam, acima da Verdade integral que ele
pregava, as suas “verdadezinhas” restritas, originadas de dogma estreitos que
religiões paganizadas erravam para poderem dispor despoticamente da vontade do
povo e, assim, na maioria dos casos, permitir que os apetites políticos dos dominadores
aliados a chefes religiosos fossem fartamente satisfeitos.
Como poderia Jesus, naqueles tempos,
falar claro e ser claramente compreendido se os seus ensinamentos muitas vezes
ultrapassavam o grau de compreensão e de Inteligência da época? Foi por isso
que Ele recorreu a parábolas, a fim de que as suas lições pudessem ser aproveitadas
por aqueles que eram exceção naquele ambiente e ficassem para a edificação dos
homens do futuro.
Em “Os Quatro Evangelhos”, de Roustaing,
essa obra prodigiosa editada pela Federação Espírita Brasileira, e
indispensável à cultura espírita dos estudiosos e também ao perfeito
entendimento da Mensagem do Cristo, encontraremos este trecho elucidativo:
Nessas poucas linhas transcritas, que mundo de
ensinamentos! Ninguém poderá julgar-se bem enfronhado no estudo da Doutrina
Espírita sem estudar esse complemento magnífico do pentateuco kardequiano. Em “Os Quatro Evangelhos”, afora a soberba explicação
- soberba e racional - acerca do corpo fluídico de Jesus, há passagens exegéticas
que extasiam o espírito, pois reafirmam as verdades do Evangelho.
O Espiritismo fala claro, é explícito,
simples, franco, positivo, mas ainda não é entendido e aceito por homens que se
dizem sábios, que se intitulam cientistas, que inventam teorias e nomes
extravagantes para explicar o que já se acha explicado nas obras espíritas e
acabam não chegando a qualquer resultado satisfatório, porquanto, partindo de premissas
falsas, terão que alcançar conclusões igualmente falsas...
Para esses sábios, o Espiritismo está errado.
Não existem Espíritos, não há mediunidade,
nem sobrevivência da alma. E palmilham o terreno escorregadio de outros sábios e
acabarão, também como eles, sem atinar com a realidade dos fatos psíquicos,
porque, não aceitando a insofismável realidade espírita, emaranham-se em
teorias absurdas e complicadas. Geralmente, acabam por silenciar, porquanto, a
muitos, falta coragem para adotar a única atitude digna compatível com a
personalidade dos verdadeiros sábios: confessar sua ignorância e seus
preconceitos, declarando com humildade que o Espiritismo é que está certo.
A verdade é que eles passam, deixam
seguidores teimosos e estéreis, enquanto o Espiritismo prossegue em sua marcha
vitoriosa esclarecendo a Humanidade e a ela apontando o verdadeiro caminho da
compreensão. A Doutrina Espírita faz o homem compreender a razão da sua
presença na Terra, a origem de suas dores, os meios de superá-Ias na luta incessante
pela perfeição. Ao mesmo tempo, apurando-lhe a personalidade moral, prepara-o
para a vida terrena e para a vida espiritual. Dessa forma, quer queiram, quer
não, a Doutrina Espírita é legitimo e valioso curso de relações humanas.
Jesus encontrou ignorância, orgulho,
vaidade, arrogância, maldade e intolerância. O Espiritismo, que é o Paracleto
referido pelo Mestre, tem tido os mesmos desafetos, os mesmos perseguidores, os
mesmos detratores, mas levará avante a sua missão eminentemente cristã,
verdadeiramente cristã. Os tempos não mudaram muito quanto às ideias. Apenas hoje
já se tem liberdade de pensamento e não se leva ninguém à morte na fogueira por
professar diferente crença religiosa.
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