Evangelho e
povo
por Roque Jacintho Reformador (FEB) Julho 1966
- A religião é transcendental!
Por séculos sem conta o homem tem
divulgado que a religião está acima de todo e qualquer raciocínio. Crê - mais
do que examina seus próprios conceitos - que o estudo da religião possa
afogar-lhe a fé em seu coração. Prefere, por isso, considerá-la uma questão de
foro íntimo, aceitação de uns tantos dogmas ou princípios sobre os quais não lhe
cabe o direito de indagar, tendo com o seu sentimento religioso um procedimento
diverso daquele que considera sensato ao tratar com os demais ramos da cultura
humana.
- É um artigo de fé!
E nenhum artigo de fé pede exame.
Ou se aceita ou não se aceita.
Esse curioso comportamento mental
vem sendo cultivado no curso de várias encarnações e se tornou um hábito de
profundas raízes na alma.
Semelha-se, em sua mecânica, às
barreiras que alguns alunos criam entre si em determinadas matérias do currículo
escolar.
- A matemática é difícil - ouve
dizer.
E frente às primeiras dificuldades
naturais da aprendizagem, aceita passivamente as afirmativas gratuitas que
recebeu, impedindo-se de fechar o circuito da atenção com a ciência exata.
É-lhe difícil, depois, romper com o
círculo vicioso.
A ocorrência psíquica em relação ao conhecimento
religioso um símile dessa atitude desajustada. O próprio homem não observa que
se afasta de um conhecimento precioso e decisivo para si mesmo.
O Espiritismo r e v o g a essas
obstruções mentais.
Predicando o mecanismo das
reencarnações, ensinando a origem dos hábitos e das tendências inatas,
estudando o circuito da atenção na dinâmica da aprendizagem - o Espiritismo revive a fase de pregação religiosa
inovada por Jesus.
Jesus falou com o povo sobre princípios
religiosos.
Usou, porém, de simplicidade real.
Não se ocupou em ser original.
Sua Doutrina foi a de um ceifeiro: “Como
um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde
a mim, todos vós que sofreis.” (*)
Nenhum mistério.
Nenhuma proibição.
Nenhum sistema de deslumbrar os
homens.
Nenhuma dramatização verbal em seus
ensinos.
Foi tão claro e tão simples, que o
perseguiram.
Foi tão popular e tão seguro, que
reformulou as bases de nossas civilizações, renovando-as através da ação suave
de sua prédica e sem esperar que o aplaudissem ou o aceitassem pela
perplexidade que houvesse desencadeado num só de seus ouvintes e discípulos.
O Espiritismo-cristão, como religião
que se raciocina e que se sente, sai das salas de estudos em direção do povo,
salta dos livros para os que não sabem ler - vestindo-se na linguagem que o
povo compreende, na simplicidade do homem da rua que deverá utilizar-lhe os ensinamentos
na reconstrução de sua própria vida.
Não repete a fórmula do transcendental.
Ninguém tem o privilégio de ser-lhe
um iniciado.
A ninguém é vedado conhecê-lo.
Se o Espiritismo se houvesse
afastado do povo, confiando-se às cátedras e aos simulacros e púlpitos de nossa
dolorosa tradição religiosa, e não falasse em linguagem acessível ao povo
dentro de suas salas de reuniões e estudos, poderia ser uma Doutrina rutilante,
com pregadores brilhantes, mas estaria tão distante de Jesus como todos os que
ainda procuram fazer-se admirados, servindo-se dos ensinamentos evangélicos.
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