segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Novo ciclo que começa

 

Novo ciclo que começa

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Janeiro 1965

             Estamos começando novo ciclo anual de existência terrestre e nele entramos com o coração assistido pela esperança de que todos possamos ser melhores do que temos sido e nunca piores do que às vezes nos temos apresentado, embora sem nos havermos apercebido disso.

            É costume dizer-se, entre nós, quando se inicia novo ano: “Ano novo, vida nova!” Aparentemente, trata-se de frase banal, que nos sai da boca com indiferença, sem que nos aprofundemos na sua alta e lata significação.

            Hoje, vimos repeti-la, em vista da necessidade que temos de reter na memória certos conceitos que podem ter grande influência em nosso comportamento cotidiano, os quais, entretanto, costumam, como se diz vulgarmente, “entrar por um ouvido e sair pelo outro”.

            Ano novo? Sim, de conformidade com o tradicional costume terreno, sempre que se encerra um calendário, dizemos tratar-se de “ano velho”, por já haver sido vivido, e, quando outro começa, dizemos “ano novo” porque é um ciclo que se abre, como que nos oferecendo uma oportunidade de fazer bem o que fizemos mal de outras vezes ou de reparar erros e tomar iniciativas dignificantes.

            O ideal seria que todos adquiríssemos, a cada começo de ciclo, uma personalidade nova, melhor, mais fraterna, mais amiga, e que deixássemos para trás, definitivamente, com o “ano velho”, os preconceitos que nos retardam a evolução, os erros que se enraizaram de tal forma em nós mesmos, que semelham a vícios inderrotáveis.

            O Espiritismo não veio anunciar milagres nem fazer milagres, prometendo à Humanidade recompensas fantasiosas, paraísos sedutores, nem ameaçá-la com infernos eternos e castigos terríveis, apavorantes. O Espiritismo, corporificando, nos tempos modernos a legítima ideia que o verbo do Cristo lançou à Terra, veio reensinar o Evangelho de Jesus, dizendo a cada criatura humana que a sua redenção não se fará senão pelo esforço que despender para melhorar sua condição moral e espiritual.

            Procuremos evitar que “o homem velho” se reintegre em nossa personalidade, fazendo que continuemos presa dos mesmos prejuízos perniciosos, dos mesmos impulsos desfraternos, da mesma invigilância que nos pune com o retardamento na marcha para a frente.

            Em nossas preces, relembremos os obreiros espíritas que plantaram nesta terra a Doutrina codificada por Allan Kardec, assim como todos quantos com eles colaboraram, dos mais obscuros aos mais destacados. Nem nos esqueçamos de Augusto Elias da Silva, o corajoso fotógrafo português que, sem temer represálias fanáticas do obscurantismo religioso, fundou “Reformador” a 21 de janeiro de 1883. E logo se lançou no combate à escravidão, analisando-a do ponto de vista espírita e desfraldando a bandeira da abolição.

            Ele soube iniciar um “ano novo” com “vida nova”, lutando a boa luta, tendo o Evangelho por escudo e a Verdade espírita por programa, certo de que somente deixará de ser escravo de si mesmo, de seus vícios e deficiências, aquele que, conhecendo a nossa Doutrina, busque exemplifica-la à custa de quaisquer sacrifícios. Somente a exemplificação leal e permanente nos libertará.

            Sempre que, por negligência, imprudência ou irreflexão, esquecemos as lições doutrinárias que temos aprendido, sobrecarregamos a nossa ficha cármica e adiamos a nossa libertação. Continuamos a ser escravos de nós mesmos. Retardamos mais e mais a data almejada da abolição espiritual que pretendemos.

            Façamos nossas, ao transpormos o limiar de 1965 (do blog: e por que não quando transpomos o limiar de 2021?) estas palavras de Paulo de Tarso (II Cor., 3:17):

            “Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade.”

            Elevemos nossos corações, porque esta revista completa 82 anos (do blog: hoje são 139 anos...) de existência fecunda, e também porque, em 1º de janeiro corrente a Federação Espírita Brasileira se firmou no seu 81º aniversário.

 

 


Um comentário:

  1. "O Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor aí há Liberdade."

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