Bilhetes
por G. MIRIM (Antonio Wantuil) Reformador (FEB) Maio 1944
O meu leitor, certamente, não
conhece o caso do “carneiro preto”, e, assim, ignora que constitui ofensa, em
minha terra, dizer que alguém é tal e qual carneiro preto.
Vamos ao caso:
Um cidadão da minha aldeia possuía
um belíssimo carneiro. Animal muito dócil, extremamente manso, era estimado por
todos os meus conterrâneos e conhecido pelo nome que lhe deu o seu pelo escuro.
Manso e dócil para todos nós, tornava-se
furioso ao ouvir o apito da locomotiva que, então, atingiu o meu pacato
arraial. Era necessário prendê-lo até que passasse o “bicho corredor” da
Leopoldina Railway.
Um dia, em que se esqueceram de
amarrá-lo, o nosso carneiro preto postou-se entre os trilhos da estrada, e lá
ficou à espera da locomotiva que apitava ao longe. Corajoso e valente, o
carneiro tomou posição, e... ao sair a máquina da curva, não pode o maquinista
travar o comboio. Era tarde demais, o valente carneiro, resolutamente,
atirara-se contra o “bicho corredor”, numa decidida cabeçada, lá ficando em
frangalhos espalhado pelo leito da estrada.
Foi-se o carneiro preto, mas ainda
vive até hoje, em minha povoação, como símbolo de teimosia e de falta de
raciocínio.
- Aqui, em Antropópolis, nesta
cidade maravilhosa, eu me recordo, também, do carneiro preto que eu tantas vezes
acariciava na minha meninice. Esses, que aqui se me deparam, não são dóceis e
mansos, todavia, em tudo mais, são perfeitamente iguais àquele que ficou
esmigalhado pela sua teimosia e pela falta de compreensão do que iria combater.
Eu me refiro a esses pseudocientistas,
que, nada entendendo da própria medicina que estudaram, querem, de qualquer
maneira, combater o fenômeno espírita e acabar com a existência dos habitantes
do Além.
Se o luzidio lanígero se espatifou
por se atirar contra o que desconhecia, os carneiros pretos daqui se
esborracham cada vez que tentam combater aquilo que não conhecem, de cuja
existência duvidam e cujo poder está para eles como a locomotiva para aquele. O
ruminante era menos teimoso, porque combateu o que via, esses, porém, os nossos
belos exemplares da cidade, leônicos, arroxeados e murídeos (semelhantes a rato), atiram-se contra os Espíritos
produtores dos fenômenos, agentes que lhes são invisíveis e que se riem das
suas cabeçadas inofensivas, ou melhor, produtivas, porque despertam nos leigos
a vontade de conhecer o assunto.
Pobres carneiros pretos!
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