Pesquisar este blog

sábado, 17 de dezembro de 2011

Encontro com Jesus


Encontro com Jesus

"Vinde a mim. todos os que estais cansados e oprimidos. e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo. e aprendei de mim,
 que sou manso e humilde de coração;
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve." JESUS


            Trôpegos eram os meus passos, incerto o meu destino.

            Dias e noites afiguravam-se-me acontecimentos banais dentro de uma sucessividade cruel ...

            - Qual a importância da vida?

            Interrogava-me incessantemente, tendo como resposta - ora o silêncio da noite, confidente muda de minhas queixas e reflexões, ora o barulho natural, sem interrupção, do mundo em movimento.

            Certa vez, no êxtase de minhas íntimas considerações filosóficas, os olhos perdidos no labirinto das constelações, mas a alma cansada, insatisfeita, cuidei haver descoberto a finalidade da vida: Heureca - o Prazer, o Gozo desmedido, a satisfação a qualquer custo! ...

            Antes de entregar-me, porém, ao incontido festim das alegrias egoístas, ouvi gemidos profundos, percebi soluços tão amargos que jamais pude esquecê-Ios. A taça do prazer me parecia amarga também, tão amarga que não tive coragem de prová-Ia!

            Como sofri, então!

            Quem pode medir a dor do homem prisioneiro?

            Queria viver, mas desconhecia o sentido da vida.  

            Queria sonhar, esquecer, embuçar-me no manto diáfano da fantasia, aspirar o perfume das flores misteriosas da ilusão. No entanto, o fantasma imperturbável da realidade postava-se - perverso - diante dos meus olhos molhados, zombando de minha dor. Queria fugir, ver apagar-se de minha retina o panorama do mundo, metamorfosear-me em verme ou cascalho, anular-me ...             Mas uma força terrível que eu não conhecia mantinha-me preso ao louco torvelinho ... Recordo-me bem daquela noite estranha, longa, indescritível, em que julguei haver descoberto a incógnita do meu pavoroso problema, o remédio eficaz, infalível à cura de minha angústia imensa. Como me perturbavam a alma os espetros noturnos, devassando, como vampiros em voos irregulares, batendo pelas paredes, sumindo-se por infinitos corredores, todas as dependências profundas de minha consciência! A Morte - eis o mistério. Na fuga, no suicídio, eu acabava de encontrar, finalmente, a solução de tudo. Sim! Que me custava morrer? Na morte eu via agora a grande vitória do Ser.

            Noite inesquecível de horror, em que desfilaram perante a retina de meu Espírito todos os grandes suicidas, cujos nomes ocupam muitas páginas da História da Humanidade. Todos conduziam na fronte a coroa de louro dos heróis. Eu devia ocupar o último lugar naquele "glorioso" desfile ...

            Foi aí, ó Jesus, que eu ti conheci.

            Foi ao fim daquela pavorosa visão que eu compreendi a extensão de tua Misericórdia, e a imensa surpresa de Paulo diante de tua aparição às portas de Damasco!

            A Religião que recebera de meus pais como herança inestimável, jamais viera em meu auxílio, jamais surgira consoladoramente ao encontro de minha alma cansada de ignorar! Todos os vultos que meus olhos, em êxtase, apreenderam no lúgubre desfile, pertenceram também à Religião de meus pais! Céu, Inferno, purgatório, promessas, relíquias, milagres não produziam efeitos em minha alma. Palavras, apenas palavras vazias de sentido.

            A Religião, ó Senhor, falava-me de ti mas não me apresentava a ti. E meu Espírito NECESSITAVA de conhecer-te.

            E tu te compadeceste de minha miséria espiritual. Vieste ao meu espírito como foste há quase dois mil anos ao encontro de Zaqueu, fazendo teu Evangelho pousar sob os meus olhos úmidos.

            Depois do nosso encontro, comecei a compreender o sentido da Vida.

            Já não quero morrer.

            Já nem creio na morte.
           
            Já não sou infeliz.

Inaldo de Lacerda Lima

in “Solilóquios do Espírito Liberto”    Ed. do Autor - 1958




Nenhum comentário:

Postar um comentário