...Derramando na alma aflita dos plebeus
o manancial de luz que me concede Deus,
eu quero palpitar no meio dos caídos
e quero incentivar os seres redimidos,
abrir caminhos onde um obstáculo existe;
eu quero encher de paz a solidão do triste
e dar ninho de amor ao que não tem pousada;
chamar ao bom caminho a alma desregrada,
impregnar de Fé o coração descrente,
levar o pão e saúde ao mísero doente.
E dando vencimentos a todos os trabalhos,
seguir em direção dos lôbregos atalhos
para arrancar de lá débeis irmãos da Treva.
A Caridade, o doce guia que nos leva
A esses orcos onde o desespero grassa,
Etérea e divinal, sorrindo nos enlaça, dizendo-nos baixinho:
“Além geme um aflito;
Se queres ascender aos cumes do Infinito,
transpõe essa distância, é perto, vês? Ali?
Se queres, te acompanho e velarei por ti;
nenhum mal te sucede; a pobre criatura
precisa de conforto e paz na desventura. ”...
Guerra Junqueiro
por Amélia Delgado
(trecho do soneto ‘Fala o Camponês’ in “Os Funerais da Santa Sé”
(págs. 144-145 Ed. FEB 1974 )
Orco = 'Inferno': (Houaiss)
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