quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Caridade, doce Guia...



...Derramando na alma aflita dos plebeus

o manancial de luz que me concede Deus,

eu quero palpitar no meio dos caídos

e quero incentivar os seres redimidos,

abrir caminhos onde um obstáculo existe;

eu quero encher de paz a solidão do triste

e dar ninho de amor ao que não tem pousada;

chamar ao bom caminho a alma desregrada,

impregnar de Fé o coração descrente,

levar o pão e saúde ao mísero doente.

E dando vencimentos a todos os trabalhos,

seguir em direção dos lôbregos atalhos

para arrancar de lá débeis irmãos da Treva.

A Caridade, o doce guia que nos leva

A esses orcos onde o desespero grassa,

Etérea e divinal, sorrindo nos enlaça, dizendo-nos baixinho:

“Além geme um aflito;

Se queres ascender aos cumes do Infinito,

transpõe essa distância, é perto, vês? Ali?

Se queres, te acompanho e velarei por ti;

nenhum mal te sucede; a pobre criatura

precisa de conforto e paz na desventura. ”...


Guerra Junqueiro
por Amélia Delgado

(trecho do soneto  ‘Fala o Camponês’ in  “Os Funerais da Santa Sé
(págs. 144-145 Ed. FEB 1974 )


Orco = 'Inferno': (Houaiss) 

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