Não.
Não dispomos de nenhuma revelação de caráter mediúnico sobre o tema.
Dispomos sim de outros relatos que pedem nossa reflexão.
Fiquem com Deus,
Ano 177 - A História não acabou
Você que passou pela página 32 da edição de nº 13 do livro “Ave Cristo!”(Ed. FEB), de Emmanuel, em psicografia de Francisco Cândido Xavier, talvez não tenha feito a necessária pausa para refletir sobre a extensão da tragédia ali relatada. Achamos que valeria relembrar este doloroso trecho que conta mais um passo na milenária evolução por que passa o homem em sua busca pela angelitude. Foram dias de muita dor e sofrimento. Resumidamente, foi mais ou menos assim:
177 - Ano de perseguições e tormentos para os cristãos de Lião (Lugdunum em Latim) e em Viena, cidades localizadas na França de hoje. Entre os mártires lembrados por Emmanuel, temos: Vétio Epágato, que renunciou à nobre posição para converter-se em advogado dos cristãos; Santo, diácono de Viena, homem de extremada coragem; Blandina, escrava cuja fé confundira o ânimo de seus carrascos; Potino, chefe da Igreja em Lião, ultrajado e espancado nas ruas, sem palavra de revolta, aos 90 anos de idade; Átalo de Párgamo, admirável herói entre os mártires gauleses, morto, atado à cadeira incandescente e degolado, em companhia de Alexandre, devotado médico cristão e ainda: Maturo, Alcibíades, Pôntico, Pontimiana, entre tantos outros.
Talvez o assunto não merecesse mais que a atenção de uns tantos estudiosos do Cristianismo Primitivo, prendendo-se a atenção, assim, na trama maior ali relatada, não fora o acontecido 1785 anos após, conhecido e sentido pelos brasileiros em geral e pelos niteroienses em particular e que ficou gravado na memória como a ‘Tragédia no Circo’.
O texto é do amado Irmão X e foi publicado no Reformador de Março de 1962.
“Naquela noite, da época recuada de 177, o ‘concilium’ de Lião regorgitava de povo.
Não se tratava de nenhuma das assembléias tradicionais da Gália, junto ao altar do Imperador, e sim de compacto ajuntamento.
***
Marco Aurélio reinava, piedoso, e, embora não houvesse lavrado qualquer escrito em prejuízo maior dos cristãos, permitira se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles.
A matança, por isso, perdurava, terrível.
Ninguém examinava necessidade ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doentes, tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.
Através do espesso casario, a montante da confluência do Ródano e do Saône, multiplicavam-se prisões, e no sopé da encosta, mais tarde conhecida por colina de Fourvière, improvisara-se grande circo, levantando-se altas paliçadas em torno de enorme arena.
As pessoas representativas do mundo lionês eram sacrificadas no lar ou barbaramente espancadas no campo, enviando-se os desfavorecidos da fortuna, inclusive grande massa de escravos, ao regozijo público.
As feras pareciam entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas mandíbulas sanguissedentas. Em razão disso, inventavam-se tormentos novos.
Verdugos inconscientes ideavam estranhos suplícios.
Senhoras cultas e meninas ingênuas eram desrespeitadas antes que lhes decepassem a cabeça, anciães indefesos viam-se chicoteados até a morte. Meninos apartados do reduto familiar eram vendidos a mercadores em trânsito, para servirem de alimárias domésticas em províncias distantes, e nobres senhores tombavam assassinados nas próprias vinhas.
Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.
***
Naquela noite, a que acima nos referimos, anunciou-se para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador por se haver distinguido contra a usurpação do general Avídio Cássio, e que se inclinava agora a merecido repouso.
Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter.
Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o patrício Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, a pedido do Propretor, programando os festejos.
- Além das saudações, diante dos carros que chegarão de Viena - dizia, algo tocado pelo vinho abundante -, é preciso que o circo nos dê alguma cena de exceção... O lutador Setímio poderia arregimentar os melhores homens; contudo, não bastaria renovar o quadro de atletas...
- A equipe de dançarinas nunca esteve melhor - aventou Caio Marcelino, antigo legionário da Bretanha que se enriquecera no saque.
- Sim, sim... - concordou Ácio - instruiremos Musônia para que os bailados permaneçam à altura...
- Providenciaremos um encontro de auroques - lembrou Pérsio Níger.
- Auroques! Auroques!... - clamou a turba em aprovação.
- Excelente lembrança! - falou Plancus em voz mais alta - mas, em consideração ao visitante, é imperioso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça...
Um grito horrível nasceu da assembléia:
- Cristãos às feras! cristãos às feras!
Asserenado o vozerio, tornou o chefe do conselho:
- Isso não constitui novidade! E há circunstâncias desfavoráveis. Os leões recém-chegados da África estão preguiçosos...
Sorriu com malícia e chasqueou:
- Claro que surpreenderam, nos últimos dias, tentações e viandas que o próprio Lúculo jamais encontrou no conforto de sua casa...
Depois das gargalhadas gerais, Álcio continuou, irônico:
- Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristãs, guardando-as nos cárceres... E, amanhã, coroando as homenagens, ajunta-las-emos na arena, molhada de resinas e devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a liberação das mais fortes. Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos... Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão muitos lances inéditos...
- Muito bem! Muito bem! - rugiu a multidão, de ponta a ponta do átrio.
- Urge o tempo - gritou Plancus - e precisamos do concurso de todos... Não possuímos guardas suficientes...
E erguendo ainda mais o tom de voz:
- Levante a mão direita quem esteja disposto a cooperar.
Centenas de circunstantes, incluindo mulheres robustas, mostraram destra ao alto, aplaudindo em delírio.
Encorajado pelo entusiasmo geral, e desejando distribuir a tarefa com todos os voluntários, o dirigente da noite enunciou, sarcástico e inflexível:
- Cada um de nós traga um... Essas pragas jazem escondidas por toda a parte... Caça-las e exterminá-las é o serviço da hora...
Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.
***
Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento... Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de Dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.”
(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier)
Do ‘Aurélio’: Auroque = Espécie de bisão europeu, quase extinto.
O Incêndio do Gran-Circo (De como a lei se cumpre)
Honório Armond
Médium Gilberto Campista Guarino
26-02-1976 no Rio de Janeiro, RJ.
Ruge raivosa a turba, em rito horrendo e rude,
Rebolca-se a caterva, em retorsão satânica,
Assemelha-se a arena a réplica vulcânica
Entre a corrente rubra e o louro da virtude.
Tocha humana alumia a bacanal titânica...
E enquanto César vibra e alteia a voz que ilude,
Brota a paz do Senhor e, em tons de mansuetude,
Soergue os corações à leva messiânica.
A lei registra o mal, e nada resta impune.
Aguarda-se o momento em que o circo reúne,
Nos aplausos do dia, o povo em mil esferas...
E, entre palmas de agrado e a placidez da tarde,
Crepita uma centelha, e a lona inteira arde...
Afinal se cumpriu: “-Cristãos, cristãos às feras!”
Expiações Coletivas
Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Outubro 1962
A lei do Carma ou de Causa e Efeito exerce sua influência inelutável não só sobre os homens, individualmente, como também sobre os grupos sociais.
Assim, por exemplo, quando uma família, nação ou raça busca algo que lhe traga maiores satisfações, esforça-se por melhorar suas condições de vida ou adota medidas que visem a acelerar seu desenvolvimento, sem prejudicar nem fazer mal a outrem, está contribuindo, de alguma forma, para a evolução da Humanidade, e isso é bom. Receberá, então, novas e mais amplas oportunidades de trabalho e progresso, conduzindo os elementos que a constituem a níveis cada vez mais elevados.
Se, porém, há constituído seu poder ou grandeza, valendo-se da opressão ou de recursos desonestos e indignos, evidentemente agiu mal, porque isso é contra o interesse do Todo. Por isso, mais cedo ou mais tarde sofrerá a perda de tudo aquilo que adquiriu injustamente, em circunstâncias mais ou menos trágicas e aflitivas, segundo o grau de malícia e crueldade que lhe tenha caracterizado as ações.
Muitas vezes, os que contraíram, solidariamente, pesados débitos com a Lei do Carma, embora reencarnados em vários e distantes rincões, são reunidos por uma atração misteriosa, a dado ponto, para serem feridos em comum. Haja vista esses naufrágios, sinistros e catastróficos que tanto emocionam as almas piedosas do mundo inteiro.
O estudo dos séculos, todo o sangue vertido, toda a escravização, afronta e rapinagem perpetradas, repercutem, fatalmente, sobre seus autores, produzindo as mesmas conseqüências funestas: luto, lágrimas, humilhações e miséria!
Lá bem no passado, egípcios, babilônios e persas elevam-se a uma situação de fastígio à custa do esmagamento de outros povos; tempos depois, entretanto, vêm a conhecer, a seu turno, o peso e o infortúnio da opressão estrangeira.
Roma e Bizâncio, através de uma série de campanhas militares, estendem seus domínios por toda a parte; todavia, roídos pelos germens da corrupção, gerados no próprio seio, baqueiam ao embate da invasão dos bárbaros e seus fabulosos impérios deixam de existir.
Espanha e Inglaterra, durante séculos, dominam pelas armas suas numerosíssimas colônias; contudo, não escapam, por sua vez, ao flagelo da guerra, que lhes dizima as populações.
A Rússia dos czares, sob o comando da Imperatriz Catarina II, apossa-se, a ferro e fogo, de vastos territórios circunvizinhos, mas é forçada. logo após, a pagar o seu tributo de dor em vários conflitos em que se vê envolvida, para cair, em 1917, sob o regime comunista.
Napoleão, Mussolini e Hitler revivem os feitos de conquistadores do pretérito, ocupando à força nações inermes; não tardam, porém, a conhecer o travo das transgressões às leis superiores, e seus países com eles.
Segundo os relatos do Velho Testamento, os judeus, intitulando-se o ‘povo eleito’, também destruíram cidades e mais cidades de prósperos reinados ‘passando pelo fio da espada todos os que nelas encontravam, homens, mulheres, crianças, velhos, e até animais, como pacíficas ovelhas, bois e jumentos’. Davi, um de seus reis, cuja insensibilidade foi de estarrecer, em cada cidade que tomava dos amonitas, mandava arrebanhar todos os seus moradores, ordenando friamente ‘que passassem por cima deles carroças ferradas, que fossem serrados, esquartejados a cutelo, ou torrados em forno de cozer tijolos’. O resultado dessa selvajaria, os judeus o colheram em longo período de provações, cujo remate foram os fuzilamentos, os flagícios em campos de concentração e o horror dos fornos crematórios, sob o guante de Eichmann, a besta-fera nazista!
Poderosa organização religiosa, apoiada pelo braço secular, torturou e assassinou barbaramente, enquanto pode, todos quantos ousavam descrer de seus dogmas, revelavam possuir idéias mais avançadas, ou lhe verberavam a simonia; já começou, porém, a ser destruída aqui, ali e acolá, sofrendo, na própria carne, as violências de que fez uso e abuso.
***
Impossível prever até quando a Humanidade permanecerá assim, oprimindo-se e dilacerando-se reciprocamente, no regime do ‘olho por olho e dente por dente.’
Acreditamos, entretanto, que, trabalhada pela Dor, cansada de sofrer, há de aprender um dia, ainda que remoto, a lei sublime da ‘não resistência’, pregada e exemplificada pelo Cristo, conquistando então uma paz duradoura, e com ela a felicidade, que é o destino final da Criação!
***
Lida e sentida a palavra de Calligaris, passemos ao Editorial do Reformador (FEB) em Março 1974 que nos fala da ‘Tragédia do Joelma’:
Calamidades Salvadoras
Malgrado toda a cultura que já amontoaram, os homens ainda não conseguem nem entender nem enfrentar as coisas comezinhas que fazem parte integrante de sua estada na crosta terrestre. Bem o demonstra o estupor que lhes causam as ocorrências que aparentam decorrer da atuação de forças cegas e caprichosas, rotuladas de fatalidade. A dificuldade, para os encarnados, reside no fato de não possuírem uma concepção firme e racional de suas próprias condições de vida neste ‘vale de lágrimas’, a despeito de todos os protestos que fazem de suas convicções espiritualistas e de sua crença na imortalidade. De fato, para aqueles que reduzem a uma vida única, no plano terráqueo, o mecanismo de ação duma justiça perfeita e iniludível - torna-se incompreensível um acontecimento como o pavoroso incêndio ocorrido no Edifício Joelma, na cidade de São Paulo, onde perto de 200 pessoas foram arrebatadas da vida pelos processos mais dolorosos, sendo a grande maioria constituída de jovens que despontavam para o porvir.
Diante de quadros como esse é que se pode averiguar a solidez e a justeza da Doutrina Espírita, cujas virtudes consoladoras se realçam exatamente nessas contingências, pois só mesmo a idéia das vidas sucessivas pode asserenar o pensamento atordoado dos homens, fazendo-os entrever a justiça imanente na trama dos fatos cuja brutalidade inesperada os faz descambar, muita vez, para o desespero, a dúvida, e até a descrença. A reencarnação põe à mostra a dinâmica da justiça perfeita e infalível, a desenrolar-se através da lei de ação e reação, que, em suas determinantes, sujeita, sempre e inapelavelmente, a colher segundo o que se planta. E a exatidão desse mecanismo alcança tanto os atos cometidos individualmente quanto aqueles praticados coletivamente. Por isso mesmo, aquilo que aos olhos dos homens são terríveis coincidências, a reunirem num dado local e no mesmo momento criaturas as mais diversas, provenientes das mais distanciadas procedências, conhecidas ou desconhecidas, e impelidas pelas mais fortuitas razões, são, na verdade, dispositivos providenciais que agrupam Espíritos com débitos contraídos em comum e chamados portanto no momento oportuno, a resgatarem conjuntamente as responsabilidades assumidas em parceria.
Se meditarmos bem, é de se agradecer a Deus a irrupção dessas calamidades imprevisíveis, cujas causas imediatas não possam ser imputadas à ação deliberada dos homens. Porque mil vezes mais sinistras são aquelas ocasionadas pela cegueira e pela inópia moral dos homens, como as guerras desencadeadas pelo egoísmo e pelas paixões coletivas, pelo patriotismo inumano que conduz nações inteiras a se digladiarem e exterminarem, e que ainda faz que os patriotas estufem o peito de orgulho, por dizimarem o inimigo, arrasando suas cidades, ou por morrerem heroicamente...
Deplorável, neste particular, o espetáculo que ainda oferece o mundo nos dias presentes. Ignorante ou alienada das coisas do espírito, da realidade de si mesma, a humanidade continua a movimentar o carrossel do círculo vicioso e carreando, para si mesma, os ônus das dores repetitivas, inteiramente desatenta, para sua própria infelicidade, à profunda advertência do Mestre Divino, quando disse: “O escândalo é necessário, mas ai daquele por quem vier o escândalo!..” Há, contudo, que se refazer dos golpes dolorosos. Os desígnios do Pai Celestial são sempre magnânimos e impregnados de misericórdia, que começa por balsamizar as angústias daqueles que são atingidos pela severidade da lei. Misericórdia que impele a todos, igualmente, nas linhas da evolução infinita, à conquista das galas da intelectualidade iluminada e do sentimento sublimado, quando então, sabendo senhorear todas as forças da Natureza e sendo os manobreiros dos próprios destinos, estarão livres das inferioridades e liberados, em definitivo, de suas funestas conseqüências.
***
Sob mesmo tema, Divaldo captou e nos transmitiu mensagem da doce Joanna de Ângelis. Leiamos...
Calamidades
Joanna de Ângelis
Reformador (FEB) Abril 1974
(Página psicografada pelo médium
Divaldo Pereira Franco, na sessão pública da noite de 2-2-1974,
no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.)
Com freqüência regular a Terra se faz visitada por catástrofes diversas que deixam rastros de sangue, luto e dor, em veemente convite à meditação dos homens.
Conseqüência natural da lei de destruição que enseja a renovação das formas e faculta a evolução dos seres, sempre conseguem produzir impactos, graças à força devastadora de que se revestem.
Cataclismos sísmicos e revoluções geológicas que irrompem voluptuosos em forma de terremotos, maremotos, erupções vulcânicas obedecem ao impositivo das adaptações, acomodações e estruturação das diversas camadas da Terra, no seu trânsito de ‘mundo expiatório’ para ‘regenerador’.
Tais desesperadores eventos impõem ao homem invigilante a necessidade da meditação e da submissão à vontade divina, do que resultam transformações morais que o incitam à elevação.
Olhados sob o ponto de vista espiritual esses flagelos destruidores têm objetivos saneadores que removem as pesadas cargas psíquicas existentes na atmosfera, que o homem elimina e aspira, em contínua intoxicação.
Indubitavelmente trazem muitas aflições pelos danos que se demoram após a extinção de vidas, arrebatadas coletivamente, deixando marcas de difícil remoção, que se insculpem no caráter, na mente e nos corpos das criaturas.
Algumas outras calamidades como as pestes, os incêndios, os desastres de alto porte são resultantes do atraso moral e intelectual dos habitantes do planeta, que, no entanto. lhes constituem desafios, que de futuro podem remover ou deles precatar-se. (*)
As endemias e epidemias que varriam o planeta, no passado, continuamente, com danos incalculáveis, em grande parte são, hoje, capítulo superado, graças às admiráveis conquistas decorrentes da ‘revolução tecnológica’ e da abnegação de inúmeros cientistas que se sacrificaram para a salvação das coletividades. Muitas outras que ainda constituem verdadeiras catástrofes, caminham para oportunas vitórias do engenho e da perseverança humana.
Há, também, aqueles resultantes da imprevidência, da invigilância, por meio das quais o homem irresponsável se autopune, mediante os rigores dos sofrimentos decorrentes das desencarnações precipitadas, através de violentos sinistros e funestas ocorrências...
Pareceriam desnecessárias as aflições coletivas que arrebatam justos e injustos, bons e maus, se olhados os saldos precipitadamente. Conveniente, todavia, refletir quanto à justeza das leis divinas que recorrem a métodos purificadores e liberativos, de que os infratores e defraudadores das Leis e da Ordem não se podem furtar ou evitar.
Comparsas de hediondas chacinas; grupos de vândalos que se aliciam na desordem e usurpação; maltas de inveterados agressores que se identificam em matanças e destruições; corsários e marinhagens desvairados em acumpliciamentos para pilhagens criminosas; soldadesca mercenária, impiedosa e avassaladora, que se refestela, brutal, na inocência imolada selvagemente; incendiários contumazes de lares e celeiros, em hordas nefastas e contínuas; bandos bárbaros de exterminadores, que tudo assolam por onde passam; cúmplices e seviciadores de vítimas inermes que lhe padecem as constrições danosas; pesquisadores e cientistas impenitentes, empedernidos pelas incessantes experiências macabras de que se nutrem em agrupamentos frios; legisladores sádicos e injustos que se desforçam nas gerações débeis que esmagam; conquistadores arbitrários, carniceiros, que subjugam cidades nobres, tornando suas vítimas cadáveres insepultos, enquanto se banqueteiam em sangue e estupor; mentes vinculadas entre si por estranhas amarras de ódio, ciúme e inveja que incendeiam paixões, são reunidos novamente em vidas futuras, atravessando os portais da Imortalidade, através de resgates coletivos, como coletivamente espoliaram, destruíram, escarneceram, aniquilaram, venceram os que encontravam à frente e consideravam impedimentos à sua ferocidade e barbaria, vandalismo e estrinice, a fim de que se reajustem, no concerto cósmico da Vida, servindo, também, de escarnamento para os demais, que, não obstante se comovam ante as desgraças que os surpreendem, cobrando-lhes as graves dívidas, prosseguem, atônitos e desregrados, em atitudes infelizes sem que lhes hajam constituído lições valiosas, capazes de converter-se em motivo de transformação interior.
Construtores gananciosos que se fazem para cobranças negativas, maquinistas e condutores de veículos displicentes, que favorecem tragédias volumosas, homens que vendem a honradez e sabem que determinadas calamidades têm origem nas suas mentes e mãos, embora ignorados pela Justiça humana, não se furtarão à Consciência Divina neles mesmos insculpida, que lhes exigirá retorno ao proscênio em que se fizeram criminosos ignorados para tornar-se heróis, salvando outros e perecendo, como necessidade purificadora de que se alçarão, depois, à paz. (*)
Não constituem castigos as catástrofes que chocam uns e arrebatam outros, antes significam justiça integral que se realiza.
Enquanto o egoísmo governe os grupos humanos e espalhe suas torpes sementes, em forma de presunção, de ódio, de orgulho, de indiferença à aflição do próximo, a Humanidade provará a ardência dos desesperos coletivos e das coletivas lágrimas, em chamamentos severos à identificação com o bem e o amor, à caridade e ao sacrifício.
Como há podido pela técnica superar e remover vários fatores de calamidades, pelas conquistas morais conseguirá, a pouco e pouco, suplantar as exigências transitórias de tais injunções redentoras.
Não bastassem as legítimas concessões do ajustamento espiritual, as calamidades fazem que os homens recordem o poder indômito de forças superiores que os levam a ajustar-se à sua pequenez e emular-se para o crescimento que lhes acena.
Tocados pelas dores gerais, partícipes das angústias que se abatem sobre os lares vitimados pela fúria da catástrofe, ajudemo-nos e oremos, formando a corrente da fraternidade santificante, e, desde logo, estaremos construindo a coletividade harmônica que atravessará o túmulo em paz e esperança, com os júbilos do viajor retornando ditoso à Pátria da ventura.
(*) À véspera havia irrompido, em São Paulo, o incêndio do Edifício Joelma, que arrebatou mais de 170 e revelou alguns heróis. (Nota da Autora Espiritual.)
O Boeing 707
Reformador (FEB) página 194 - Julho 1973
Não é a popularidade ou o prestígio das pessoas desencarnadas em meio a tragédias coletivas que deve dar a medida emocional da opinião pública. Entretanto, não se pode negar que esses dois fatores mundanos emprestam, realmente, maior impacto aos acontecimentos, tanto festivos quanto funestos. O desastre, em Paris, com o Boeing 707, embora não represente caso isolado na história da aviação comercial, atraiu maiores atenções, dada a presença de nomes conhecidos na política, na música popular e nos círculos destacados da sociedade. É natural que assim seja, ainda que a desencarnação devesse provocar sempre as mesmas reações. Afinal, tanto significa, para a modesta e desconhecida família, a partida abrupta do seu chefe, eventual vendedor anônimo, quanto a de prestigioso político ou a de fascinante cancioneiro. Há de se compreender, porém, essa diferenciação do comportamento humano, a qual não será nem negativa nem condenável. Funções, presenças, popularidade, projetam mais determinadas figuras e sua partida provoca maior impacto. A preocupação do espírita, todavia, deve se situar sempre na faixa ideal do entendimento, amplo e sensato dos fatos, sem deixar necessariamente de senti-los, é claro, mas encarando-os com serenidade e confiança. Não há de anestesiar-se dentro de um conformismo frio e insano, posto quer os elementos imponderáveis e muito pessoas de amizade, admiração e saudade são a fantasia do super-homem, visando a exibi-la na medida em que se jacta tolamente do seu ‘espírito forte’, tudo arrostando com ensaiada fleuma e a ‘coragem’ que faltaria aos que ainda sabem chorar... A Doutrina Espírita não sobreviveria a essa colocação conformista e egoísta. Por isso, ela alia aos sentimentos nobres da dor e da amargura sensações balsamizantes do consolo e da fé. Explicando o porquê de todos os fatos e indicando com precisão o papel dos que ficam e o destino dos que partem, a tudo atribui um sentido lógico e racional, descortinando diante de quem sofre os caminhos da consolação e da esperança. É natural a intimidade do pranto. É até bom chorar, às vezes. Jesus também chorou. Sentimos a ausência provisória dos que amamos, como a sentimos quando deles nos afastamos ao ensejo de qualquer separação menos rotineira. Inobstante, é preciso compreeender que Deus tudo comanda, que nada acontece por acaso, que cada um recebe de acordo com as suas obras, que a ‘morte’ trágica e violenta é sempre um meio de resgatar equívocos pretéritos e libertar o Espírito à amplidão dos espaços. A partida coletiva abala e comove; mas naquele avião estavam apenas -e exclusivamente- criaturas comprometidas num mesmo processo, atraídas de diversos pontos e aproximadas na precisão e justiça de leis que se sobrepõe às da aerodinâmica.
Todos os passageiros do Boeing 707 deixaram este mundo de lágrimas. O prestígio e a popularidade de alguns acrescentou ao desastre carga maior de emotividade pública. Talvez tenha ela contribuído para que o processo de desligamento daqueles Espíritos haja sido facilitado, tal o feixe de vibrações amorosas lançadas pela perplexidade dos parentes, amigos e desconhecidos. Importa, contudo, salientar a confiança que em horas tais a ninguém deve faltar, configurada na certeza de que a ‘morte’ não é o fim e que todos os passageiros e alguns tripulantes do Boeing 707 estarão à espera dos que ficaram. Um dia -ainda sujeito ao critério da Lei-, estarão todos juntos novamente. Os que se abeberaram da Doutrina Espírita, tanto entre os que partiram quanto entre os que ficaram, sabem perfeitamente disso e disso vivem. Oremos pelos que não o sabem. Precisam de nossas preces. Bem mais do que nossa amargura ou nosso desespero.
oie! Já li bastante o seu blog por hoje! Gostei bastante! Pena que a gente acaba esquecendo de dar uma olhada... Vou me inscrever pra receber por email! Abç pros 2!!! Kátia
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