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sábado, 30 de abril de 2011

07 Escravidão e Espiritismo



Ledger of sale of 118 slaves       Charleston, South Carolina, c. 1754


-VII-
 ‘O Grande Débito’

por Alberto de Souza Rocha
Reformador (FEB)   Junho  1988


            Em “Lázaro Redivivo”, o autor espiritual, através de F. C. Xavier, assina-se “Irmão X”, mas todos sabemos tratar-se de Humberto de Campo. A páginas 154 e seguintes o repórter do Além data de 1583, segundo Rio Branco, o primeiro contrato de introdução de escravos negros no Brasil. E escreve:

A contar de 1758, quando o corajoso sacerdote Manuel Ribeiro da Rocha ousou escrever contra a vergonha da escravidão, autorizadas vozes se levantaram, sob a Luz do Cruzeiro, contra o doloroso comércio de homens livres. Em 1789, a abolição já constituía um dos itens do programa político da Conjuração Mineira. Em 1810, o Príncipe D. João fez o possível por golpear o ignóbil movimento, sensibilizado com as injustiças que presenciava diariamente no Rio, efetivando providências para a extinção gradual do cativeiro, que culminaram com a ratificação do tratado comcluído em Viena, entre Portugal e Inglaterra, pelo qual a Nação Portuguesa se propunha a cessar todo o tráfico na costa africana. Mais tarde, D.Pedro I, na Convenção de Novembro de 1826, assinava novo acordo com a Grã-Bretanha, pelo qual se comprometia a proibir toda a espécie de comércio de escravos na Costa da África.”

Recordemos a força de expressão daquele hino que cantávamos nas escolas de antigamente e hoje meio esquecido:

É necessário libertar-nos, para que compreendamos a liberdade.”

Teremos, com todo o esforço bravamente realizado, considerado também a enormidade do débito que assumimos para com aquele povo e para com aqueles Espíritos?        Voltemos ao livro supracitado e anotemos o pensamento inserto na página 39:

Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre país...”

Terá isso acontecido? Pois, mais adiante está escrito:

A ignorância estabelece o cativeiro (destaque do autor), mas a sabedoria oferece a liberdade.”

Tais reflexões fazem sentido com outras afirmações na mesma obra, páginas adiante, Capítulos XXXIII e XXXIV. No primeiro, o autor refere-se aos ‘indianismos’ e ‘africanismos’ de inúmeras manifestações da fenomenologia, e indaga se já pensamos maduramente na expressão moral desses acontecimentos. É claro, reporta-se ele à situação de subalternidade a que ficam relegados muitos Espíritos desejosos de trabalhar para progredir, mas que na realidade atendem ao chamado mediúnico – distante da orientação doutrinária espírita -, induzidos, de hábito, a manter o atraso espiritual em que se encontram, para, de melhor forma corresponderem a ridículos caprichos dos encarnados. Um círculo vicioso de ignorâncias... E o autor é bem claro aqui:

Supõe você que a Abolição terminou em 13 de Maio de 1888? A grande revolução  da princesa Admirável atingiu os ‘escravos físicos’, continuando-se aqui o serviço de libertação dos ‘cativos espirituais’. José do Patrocínio e Luís Gama, Antônio Bento e Castro Alves, André Rebouças e Joaquim Nabuco prosseguem na jornada redentora. A Princesa Isabel não considera o movimento terminado e continua, também, servindo à grande causa, desatando os grilhões da ignorância e acendendo novas luzes na esfera a que você chegará em futuro próximo.”

É na página 151 que Irmão X verbera:

Quem recebeu na terra farta de Santa Cruz, os europeus esgotados por lutas sangrentas, abrindo-lhes caminho novos à realização espiritual, transformando-se em escravo sofredor dos conquistadores inteligentes? Não foi, por acaso, o índio? (...) Desconhece o que fez Pizarro, o tirano espanhol, diante dos americanos ingênuos que mais confiaram? E os africanos? Quem os arrebatou da terra natal, arrebanhando-os como animais, a fim de aproveitar-lhes o braço forte nas construções do Mundo Novo? Quem os assassinou, devagarinho, em navios infectos, e vendeu os que resistiram à morte aos cruéis senhores do feudalismo rural? E é justamente você, meu amigo, leitor assíduo da História, quem admira, com falsa ingenuidade, as manifestações dos  nossos irmãos, ainda encarnados no rudimentalismo da forma? Entretanto, Pai Mateus e Mãe Ambrósia, a quem se refere com tanto sarcasmo, foram pajens carinhosos de seus bisavós, furtaram o leite dos próprios filhinhos para que os seus antepassados vivessem, e choraram, na senzala, em segredo, quando os seus recuados parentes  lhes prostituíram as filhas, vendendo-as, logo após, com frieza e ferocidade, aos tiranos do cativeiro.”

E, conclusivo:

Não considera, você, que todos nós, Espíritos de Inteligência requintada, mas de sentimento galvanizado no mal, somos devedores antigos dessas almas virtuosas e nobres, embora, muitas vezes, cristalizadas em velhos hábitos que lhes retardam o progresso intelectual? (...) Se encontramos numerosas Entidades de africanos e indígenas, em nossos ministério espiritual, é que nos serviram a todos, nestes últimos quatro séculos, na terra abençoada e farta do Brasil.”

E ainda um recado muito expressivo (Capítulo XXXIV):

Diga aos nossos companheiros do Espiritismo cristão no Brasil que eles receberam de Jesus um sagrado depósito, qual o de associar o Evangelho de Redenção às conquistas científicas, filosóficas e religiosas da Humanidade.”

Finalmente, a Espiritualidade pede-nos o concurso:

“- Que eles nos ajudem no benemérito serviço de educação e libertação daqueles a quem tanto devemos.”



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